Globo acelera obras nos cenários de novelas atingidos pelo fogo e, nos 60 anos da TV, foram 10 incêndios. Confira!

*por Rodrigo Otávio

Nos Estúdios Globo, as obras de reconstrução dos cenários de novelas atingidos por mais um  incêndio na história de 60 anos da emissora. Na tarde de 18 de fevereiro, um fogo de grandes proporções consumiu parte da cidade cenográfica das próximas novelas das seis e das sete, “Êta Mundo Melhor” e “Dona de Mim“, respectivamente, além do cenário da série de humor “Tô de Graça“, do Multishow. O incidente ocorreu no complexo de gravações MG4, inaugurado recentemente, e marca o segundo grande incêndio no local. O primeiro caso aconteceu em 2022, quando um incêndio destruiu parte do cenário da novela “Todas as Flores“, de João Emanuel Carneiro, incluindo o ambiente da loja Rhodes, peça central da trama. Felizmente, em ambos os casos, não houve feridos.

A recorrência desses episódios levanta preocupações. Antes dos incidentes recentes, em 2017, a cidade cenográfica da novela “Deus Salve o Rei“, de Daniel Adjafre, também foi destruída pelo fogo. Outros incêndios afetaram produções, como “Espelho da Vida“, “O Outro Lado do Paraíso” e, décadas antes, o cenário de “Xuxa Park“, que resultou no cancelamento do programa e deixou uma criança gravemente ferida. Os incêndios na história da Globo remontam aos anos 1960 e 1970. Em 1969, a sede da emissora em São Paulo pegou fogo, comprometendo os cenários da novela “A Cabana do Pai Tomás” e destruindo os primeiros 20 capítulos da trama das 19h. Como consequência, as gravações foram transferidas para o Rio de Janeiro. Em 1971 e 1976, novos incêndios atingiram a emissora, ampliando o histórico de sinistros.

Com pelo menos 10 incêndios registrados ao longo de seus 60 anos de história, a Globo se vê diante de um desafio: quais estratégias têm sido adotadas para evitar que esses incidentes continuem acontecendo? O histórico de incêndios, em diferentes épocas e locais, indica a necessidade de medidas mais rigorosas para proteger não apenas os investimentos em produção, mas também os profissionais envolvidos nas gravações.

Das maiores TVs nacionais, apenas a Manchete e a Rede TV nunca passaram por incêndios. Relembre, em ordem cronológica, os principais incêndios que marcaram a trajetória da Globo.

Incêndio na Globo em 1976. Fitas foram salvas, mas outras, perdidas (Foto: Reprodução/Memória Globo)

Incêndio de 1969 / A Cabana do Pai Tomás

Em 1969, um incêndio atingiu as instalações da TV Globo em São Paulo no mesmo dia em que outros sinistros ocorreram nas sedes da Record e da Bandeirantes. Esse fato gerou suspeitas, levando Wálter Clark (1936-1997) a afirmar, em sua autobiografia publicada em 1991, que poderia ter sido um atentado terrorista. Segundo ele, a emissora não divulgou a suposta hipótese. Um artigo da Fundação Getúlio Vargas chegou a ser publicado sobre a questão do seguro, que não cobria atos de sabotagem.

O fogo comprometeu parte dos cenários e equipamentos dos estúdios, incluindo aqueles usados para a gravação da novela “A Cabana do Pai Tomás”, exibida no horário das 19h, que tinha apenas oito capítulos prontos. Além disso, o incêndio afetou a produção da próxima novela das 20h, “Véu de Noiva” (1969), que teve sua estreia adiada. Para preencher a lacuna, a Globo estendeu a exibição de “Rosa Rebelde” (1968) em quase 100 capítulos, até que a nova trama de Janete Clair (1925-1983) pudesse estrear sem prejuízos à sua produção.

Incêndio na Globo São Paulo, em 1969 (Foto: reprodução)

Incêndio de 1971

Considerado o grande incêndio da história da TV Globo, o episódio de 1971 ocorreu durante a gravação do programa de Moacyr Franco, em um dos estúdios da emissora. De acordo com Borjalo (1925-2004), então diretor de operações da empresa, o fogo teve início durante a atração, conforme relatado em entrevista ao Memória Globo.

Ainda segundo um minidocumentário produzido pela emissora, a origem do incêndio teria sido provocada por uma bituca de cigarro. A TV Globo estava no ar no momento do incidente, e a programação foi abruptamente interrompida. O ator Milton Gonçalves (1933-2022) relembrou que a saída do ar foi sinalizada com um slide de intervalos comerciais, seguido de um anúncio improvisado feito por um funcionário chamado Siri:

“Por favor, se alguém estiver perto do Corpo de Bombeiros, mande vir para cá porque a Globo está pegando fogo!” — Siri, ex-funcionário da Globo, em 1971

O caso poderia ter sido ainda mais grave, pois, nos estúdios da emissora, havia uma caixa de dinamites destinadas a uma explosão cenográfica para a novela “O Homem que Deve Morrer”. Apesar disso, o incêndio foi contido antes de atingir os explosivos, destruindo um estúdio e o depósito de cenografia.

Curiosamente, anos mais tarde, em 1976, essa mesma novela sofreria outra grande perda, desta vez devido a um incêndio de proporções ainda maiores, além da prática recorrente de apagamento sistemático de fitas de novelas.

Incêndio de 1976

No dia 4 de junho de 1976, durante a exibição do Jornal Hoje, a TV Globo sofreu uma interrupção repentina. Um curto-circuito no sistema de ar-condicionado deu início a um incêndio de grandes proporções, que rapidamente se alastrou pelos dutos e estruturas da sede da emissora no Rio de Janeiro, destruindo quase todo o complexo.

A transmissão da Globo foi retomada pouco depois, desta vez gerada a partir de São Paulo. O incêndio durou aproximadamente quatro horas e causou prejuízos estimados em Cr$ 170 milhões. Na época, três novelas estavam no ar: “Vejo a Lua no Céu”, “O Feijão e o Sonho” e “Anjo Mau”. Embora alguns capítulos antigos tenham sido perdidos, as gravações prosseguiram sem grandes interrupções.

O telejornal mais afetado foi o Jornal Nacional, apresentado então por Cid Moreira (1927-2024) e Sérgio Chapelin. Desde sua estreia, em 1969, o programa sempre foi transmitido do centro jornalístico da Globo no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Com a destruição do local, o Jornal Nacional precisou ser produzido temporariamente em São Paulo.

Apesar do impacto do incêndio, a programação seguiu conforme planejado, incluindo estreias previstas. Mais de 100 bombeiros trabalharam no combate às chamas, enquanto funcionários da emissora atuaram rapidamente para resgatar o máximo possível de materiais. Muitas fitas de vídeo contendo gravações de novelas e outros programas foram salvas e levadas para um depósito improvisado no antigo Teatro Fênix.

Entretanto, a tragédia causou a perda definitiva de grande parte dos arquivos jornalísticos e cinematográficos da emissora, além de capítulos avulsos de novelas. O incêndio de 1976 ficou marcado como um dos episódios mais devastadores da história da Globo.

O Incêndio do Xuxa Park (2001)

No dia 11 de janeiro de 2001, durante a gravação de um especial de carnaval do Xuxa Park, um incêndio tomou conta do estúdio, gerando pânico entre a equipe e a plateia. Em imagens registradas na época, Xuxa Meneghel aparece visivelmente desesperada ao perceber que as chamas estavam se espalhando rapidamente pelo cenário, feito de materiais altamente inflamáveis.

As investigações apontaram que a causa do incêndio foi identificada como um curto-circuito, que rapidamente propagou o fogo, tornando a situação extremamente perigosa. Felizmente, a apresentadora conseguiu sair ilesa, mas várias pessoas precisaram de atendimento médico.

Ao todo, 26 pessoas ficaram feridas, sendo sete em estado grave. O caso mais sério foi o de Thamires Gomes Valleja, uma menina de sete anos que estava na roda-gigante próxima ao foco do incêndio.

Incêndio no Xuxa Park (Foto: Reprodução)

Incêndio nos Estúdios de Três Irmãs (2008)

Em 2008, um incêndio atingiu os cenários da novela “Três Irmãs”, escrita por Antonio Calmon. O fogo destruiu cerca de 15% das instalações utilizadas para as gravações, causando transtornos à produção. Apesar do susto, não houve feridos e a equipe conseguiu contornar a situação sem comprometer o cronograma da trama.

Incêndio em Deus Salve o Rei (2017)

Um galpão que futuramente abrigaria o estúdio MG4, na época ainda em construção, pegou fogo em 2017, atingindo diretamente os cenários da novela “Deus Salve o Rei”. As estruturas dos castelos medievais que compunham o universo da trama foram danificadas, levando à suspensão temporária das gravações.

No momento do incêndio, diversos profissionais estavam no local, incluindo o ator Rômulo Estrela e o diretor Fabrício Mamberti. A atriz Rosamaria Murtinho também estava no set, mas ninguém ficou ferido.

O incêndio ocorreu próximo à região onde, anos mais tarde, também seriam registrados sinistros nos bastidores de “Todas as Flores” e “Dona de Mim”.

Incêndio em “Deus Salve o Rei (Foto: Reprodução)

Incêndio em O Outro Lado do Paraíso (2018)

Em 15 de fevereiro 2018, um incêndio consumiu por completo o cenário de uma mina de garimpo da novela “O Outro Lado do Paraíso”, na cidade cenográfica da Globo, em Curicica, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 5h35, conseguindo controlar as chamas às 7h30. O fogo começou durante as gravações da novela de Walcyr Carrasco, que retratava a exploração de esmeraldas no Tocantins. O incêndio interrompeu as filmagens, mas, graças à ação rápida da brigada de incêndio da emissora, o estrago foi limitado a essa parte do complexo.

As causas exatas do incêndio não foram esclarecidas, mas o incidente trouxe desafios para a produção, que precisou reestruturar algumas sequências para dar continuidade à história.

Incêndio em Espelho da Vida (2019)

Um incidente inusitado ocorreu durante as gravações da novela “Espelho da Vida”, de Elizabeth Jhin. Durante uma cena que simulava um incêndio dentro da cidade cenográfica da trama, as chamas saíram do controle e o fogo real tomou conta do cenário.

Apesar do susto e dos danos significativos à estrutura da novela, não houve feridos, pois nenhum ator estava presente no local naquele momento. Como o casarão central da trama foi consumido pelo fogo, a produção precisou recorrer a efeitos visuais e computação gráfica para dar continuidade às cenas que ainda dependiam desse cenário.

Incêndio em Todas as Flores (2022)

Em 18 de novembro de 2022, um incêndio atingiu a cidade cenográfica dos Estúdios Globo, onde estavam os cenários da novela “Todas as Flores”, sucesso do Globoplay. O fogo destruiu completamente a locação da loja Rhodes, elemento central na trama, forçando mudanças na produção. As causas exatas dos incêndios não foram divulgadas.

Incêndio em cenário de “Todas as Flores” (Foto: Reprodução/Globo)

Dona de mim, Êta Mundo Melhor e série Tô de Graça (2025)

Além das informações já citadas sobre o mais recente incêndio nos Estúdios Globo, a emissora informou em nota: “Um incêndio, de causa ainda desconhecida, destruiu parte de uma das cidades cenográficas da próxima novela das 19h, ‘Dona de Mim’, e da próxima novela das 18h, ‘Êta Mundo Melhor’, nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro. Os cenários afetados de ‘Dona de Mim’ e de ‘Êta Mundo Melhor’ estavam em fase final de construção e ainda não tinham sido utilizados para gravações. Um cenário da série de humor ‘Tô de Graça’, que já estava em operação, também foi atingido.

Bombeiros do 12º Batalhão do Corpo de Bombeiro do Rio de Janeiro, com o apoio da Brigada de Incêndios da Globo, fazem, neste momento, o trabalho de rescaldo das áreas atingidas para evitar que novos focos surjam. E um helicóptero do Corpo de Bombeiro joga água na encosta do morro adjacente aos Estúdios Globo, totalmente coberto por vegetação. Durante o combate ao incêndio, três brigadistas ficaram feridos, foram prontamente atendidos e levados ao hospital. As causas do incêndio já estão sendo apuradas. O impacto no planejamento das próximas novelas será avaliado pelas equipes artísticas e de produção.”