*por Vítor Antunes
Fabiana Karla vive um novo ciclo, repleto de mudanças, amadurecimento e possibilidades. Aos 50 anos, a atriz e apresentadora abraça essa nova fase com entusiasmo, mergulhando em si mesma e em seus prazeres, desacelerando após uma vida intensa de trabalho. Entre os marcos desse recomeço, estão sua mudança definitiva para São Paulo, o sucesso profissional no SBT e um novo amor que, embora não tenha sido o motivo principal da mudança, certamente abrilhanta essa nova jornada. “São Paulo foi me abduzindo aos pouquinhos. E eu já tinha esse namoro com a cidade, porque por mais que eu venha de cidades litorâneas, como Recife, onde nasci, e do Rio de Janeiro, onde morei, eu realmente me identifico muito com o ritmo de São Paulo. Comecei a ficar cansada de ir e voltar para o Rio. Trouxe os bichinhos, trouxe minha mãe, que mora comigo, e estamos seguindo, enquanto os filhos estão saindo de casa. Eu tenho a síndrome do ninho cheio, não é assim porque eu estou no ninho vazio. E aí eu morro de rir porque, a cada hora, cada um deles está no seu canto, e eu vou só respeitando”.
A mudança para a capital paulistana reflete essa nova fase de plenitude e busca por equilíbrio. Além do teatro, que tem sido sua grande paixão no momento, Fabiana segue contratada pelo SBT e comemora a recepção calorosa na emissora. Há grandes chances de seguir à frente do Bake Off Brasil, cuja nova temporada está em discussão. “Eu não sei precisar nada, porque eu acho que eles estão ainda reformulando a grade. Mas o que a gente sabe é que o Bake Off foi um sucesso e que eles têm pretensão de fazer a segunda temporada comigo, que, no caso, é a 11ª temporada do programa, que já é sucesso há mais de 10 anos. Mas fui super bem acolhida, fiz todos os programas da casa, tenho uma relação muito boa com todo mundo lá”.
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“Minha vida tá toda meio que aqui em São Paulo” (Foto: Divulgação)
E, claro, há também espaço para o amor. Fabiana vive um novo relacionamento e, embora a mudança para São Paulo tenha sido motivada por diversos fatores, ela reconhece que estar ao lado de alguém especial torna tudo ainda mais prazeroso. “Vou fazer 50 ano e estou querendo mergulhar cada vez mais em mim, nos meus prazeres, no meu descanso. Corri muito a vida toda. Eu corri, corri, corri. Agora estou quero degustar. Aí eu morri de rir porque algumas pessoas falam: ‘Não, você vem para São Paulo também por causa do namorado’. Eu falei: ‘Faz parte, é claro’. Mas eu vim mesmo por causa de tudo e ter um amor nessa história é muito melhor. Estamos namorando, viajamos juntos, e eu estou contemplando e deixando quem está chegando na minha vida entender isso, que eu gosto de contemplar, de desfrutar da vida, de viajar”.
TEMPO E A LIÇÃO
Nos anos 2000, Fabiana Karla conquistou o público com sua personagem Lucicreide no programa “Zorra Total”. A empregada doméstica irreverente narrava seu cotidiano de forma bem-humorada, e, questionada sobre se a personagem poderia ser problematizada nos dias atuais, a atriz reflete: “A Lucicreide para mim é uma ode às mulheres que me rodearam a vida toda, a minha homenagem mais sincera às mulheres nordestinas e brasileiras que lutam, que têm aquela agonia. Eu digo que ela é a cruz do Pato Donald com o Soró Sereno – personagem de Arnaud Rodrigues (1942-2010). Acho que Lucicreide é aquela pessoa arreliada, nervosa, que a gente conhece, que dá uma resposta torta, mas também dá colo e tem uma inocência. Ela sintetiza tudo isso. A ignorância da dureza e do desconhecimento com um coração gigantesco, e é isso que faz esse personagem ser grandioso. A gente tem pretensão de gravar o segundo filme sobre ela e jogá-la em outro contexto”.
Durante anos a fio, Fabiana foi mega incensada em seus trabalhos, mas sempre comentava a pauta sobre a questão dos padrões de corpos impostos pela sociedade. E comemora os dias de hoje: “Eu confesso que, ultimamente, as pessoas nem têm mais me feito essas perguntas e nem me abordado, porque eu acho que já estou inserida nos contextos independentemente do meu ‘physique du rôle’. Eu acho que as pessoas já me convidam para papéis independentemente da minha forma. Isso, para mim, é um privilégio muito grande. Isso me envaidece no melhor dos sentidos, porque cria representatividade para meninas que estão em formação, que têm um corpo maior e podem se sentirem representadas. Quando você vê uma mulher nordestina, gorda e comediante em um lugar de destaque, isso é uma evolução. Mulheres como eu, como Preta Gil, abrimos o caminho para muitas outras que vieram depois. Isso me deixa feliz, inclusive pela minha filha e por meninas que se espelham em mim. Recebo muitas mensagens e abordagens de mulheres que se sentem inspiradas, e isso é uma responsabilidade gigantesca, mas muito gratificante. Ainda há um longo caminho pela frente, mas sinto que as pessoas estão começando a entender que as diferenças precisam ter representatividade. Quero que meu corpo e minha mente, mesmo com TDAH, caminhem juntos. Isso se alinha ao meu desejo de felicidade aos 50 anos”.
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Fabiana Karla: “Meu corpo deixou de ser pauta” (Foto: Divulgação)
Às vésperas dos 50 anos, Fabiana encara essa fase com serenidade e gratidão, aproveitando cada momento com consciência e liberdade. “Hoje eu posso transitar, escolher, decidir. Meus filhos estão criados, meu trabalho está em dia, vejo as pessoas ao meu redor felizes e saudáveis. Tenho um olhar cada vez mais curioso e acho que cheguei bem aos 50. Estou com a pele boa, a saúde equilibrada, e sei usar as melhores ferramentas para buscar felicidade. Porque felicidade não vem numa caixa, ela está nos detalhes. Sou muito contemplativa, dependo de pequenos rituais diários, como acordar e tomar um bom café.
Estou entendendo meus tempos, reservando momentos para mim. Estar viva e ter consciência de quem sou a cada dia mais é um presente. Eu já fui muito presa ao tempo, escrava do tempo, e hoje consigo degustar a vida como um prato cheio, saboreando cada pedaço. E, agora, estou na sobremesa da vida – Fabiana Karla
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Fabiana Karla: “Estou na sobremesa da vida” (Foto: Divulgação)
Eu estou primando pela minha saúde, então assim, menopausa, TDH, todas essas coisas estão sendo dribladas porque eu estou fazendo exercício, musculação… É indiscutível que eu não faça isso para o meu bem-estar. É claro que isso tem melhorias e acaba resvalando também no físico, mas eu tenho buscado performance de vida. Foi sempre o que eu busquei , até porque eu sou uma pessoa obesa. É uma doença crônica. Minha militância é existir – Fabiana Karla
MULHERES PILANTRAS
Fabiana Karla encerra hoje, no Teatro Sérgio Cardoso, a temporada de Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada. A peça estreou em janeiro e foi a primeira temporada teatral da atriz após um longo período. “Eu estava fazendo teatro, mas viajando, com “Nessa Mesa de Bar”, um espetáculo que eu fazia com o Leandro da Mata, com músicas de Reginaldo Rossi (1944-2013). Mas temporada fixa, ainda mais em São Paulo, fazia tempo que eu não experimentava. O público paulistano realmente vem em peso – pode fazer chuva, pode fazer sol, sempre tem gente nos teatros, e isso nos deixa muito felizes. É um público exigente”.
Celebra também o encontro com a veterana atriz Tânia Bondezan. “Essa peça é um encontro lindo de gerações. A Tânia Bondezan é uma atriz extremamente generosa, inteligente e experiente. É emocionante dividir o palco com ela. E o Odilon Wagner, nosso diretor, é um ótimo condutor desse encontro. Ele é um verdadeiro maestro, tem um olhar sofisticado, um grande artista, um ótimo ator”.
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As atrizes fazem “Radojka”, em São Paulo (Foto: João Caldas)
Sobre a trama e suas personagens, Fabiana define: “Eu percebo que as personagens dessa montagem são duas mulheres que, independentemente da idade, querem manter seus empregos. São duas pilantras, na verdade (risos). O que mais me instiga na peça é essa reflexão: será que a ocasião faz o ladrão? Elas fazem de tudo para manter aquele trabalho, a qualquer custo. Mesmo que isso signifique lidar com a morte da idosa que estão cuidando. A peça acompanha a confusão que elas aprontam para garantir que continuem empregadas, e é isso que gera toda a comédia da história.”
Fabiana Karla segue adiante, traçando seu próprio mapa, guiada pelo tempo e pelas escolhas que, agora, faz com mais calma e consciência. Não corre mais – caminha, contempla, saboreia. São Paulo se tornou seu porto seguro, mas Recife segue sendo sua raiz mais funda, a terra onde sua essência se renova. No palco, vive personagens que se reinventam, assim como ela. Na vida, abraça o amor, a maturidade e a arte com a mesma intensidade com que sempre fez rir e emocionar. A estrada segue aberta, e Fabiana, entre aplausos e silêncios, celebra a liberdade de ser quem é – plena, vibrante e dona do próprio tempo.
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