*Por Vítor Antunes
Celebrando 50 anos de carreira e com mais de 45 atuações na TV, incluindo desde “Como salvar meu casamento“, na extinta Tupi, passando até por quatro temporadas de “Malhação“, recentemente “Detetives do Prédio Azul“, na Gloob, e “Gênesis” e “Jesus” – que está pela terceira vez em reprise na Record dessa vez como série -, Giuseppe Oristanio, aos 63 anos, prepara lançamento de livro, “estreia” no cinema e peça comemorativa. Num ano simbólico, o artista exalta a felicidade em exercer seu ofício: “Agradeço que eu tenha resistido esse tempo todo. Agradeço por estar vivo e com a mesma vontade de trabalhar”. E destaca sobre uma de suas referências em maturidade: “Quero envelhecer feito o Clint Eastwood. Eu o acho mais bonito hoje”.
Sobre o etarismo, o ator traz o questionamento: “Esta é uma discussão que sempre existiu, mas só agora ganhou uma nomenclatura especial. A necessidade de querer se manter jovem a qualquer preço chega a ser ingênua. Trata-se de uma luta perdida. Se há uma coisa que a gente não tem como fugir é da velhice. Há quem vire um monstro diante dessa tentativa de manter-se jovem o tempo todo, mas esta é uma briga inglória”. E quanto à desvalorização aos atores mais maduros, classificou como “burrice de quem é mais novo desprezar o conhecimento dos mais antigos. No caso da nossa profissão isso está muito ligado à necessidade de sentir-se jovem, ágil, bonito. Eu acho que é necessário que se perceba, embora tardiamente, que existe muita beleza na velhice. É uma beleza diferente, mas que existe”.
PROJETO 50 ANOS DE CARREIRA: LIVRO, FILME E MONÓLOGO
O ator falou sobre envelhecer e a respeito do seu papel na novela “Vida Nova”, na Globo, onde viveu um italiano. Depois de um vínculo curto nos anos 1990 com a Record, segue contratado por ela desde 2006, onde se diz muito realizado. Havendo iniciado sua carreira na TV Tupi e sendo uma de suas primeiras novelas, a obra “Os Adolescentes” (Band, 1981), recentemente o ator viveu um patriarca em “Gênesis” (Record TV, 2021).
Em 1972, Giuseppe Oristanio iniciou sua carreira profissional estreando no Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo. “Aos 63 anos, e 50 anos de carreira, posso dizer que sinto a mesma vontade de trabalhar desde os 13 anos de idade – ele participou durante três anos de Sítio do Picapau Amarelo”, pontua. E, como forma de festejar seu cinquentenário na profissão, o artista promete realizar vários trabalhos comemorativos. Um deles trata-se de um livro onde revisita a sua carreira, e que tem previsão de lançamento para o segundo semestre, na Bienal de São Paulo. O projeto literário chama-se “Sempre existe um porém. A vida é feita de histórias”.
Outra mostra celebrativa de sua Boda de Ouro profissional será a peça “Pormenor de Ausência”, monólogo onde viverá o romancista Guimarães Rosa: “Trata-se de uma faceta pouco explorada do literato, momento em que ele estava doido para entrar para a Academia Brasileira de Letras. Depois que é nomeado, teme ser empossado e morrer, e é o que acaba acontecendo”. Com efeito, Rosa morre três dias após vestir o fardão da ABL. A peça terá direção de Ernesto Piccolo – que sugeriu o roteiro – e autoria de Lívia Baião,
cujo Mestrado teve o autor de “Sagarana” como base. A previsão de estreia é na cidade de Ouro Preto (MG), para o segundo semestre.
Além da primeira experiência na seara literária e de uma nova montagem no
teatro, o ator celebra seu primeiro grande projeto no cinema, o filme “Meninas não choram”. Dirigido por Viviane Jundi (Detetives do Prédio Azul 2), o longa conta a história de Pipa (Letícia Braga), que tem 16 anos, e é jogadora de futebol feminino. A personagem vê os planos de tornar-se uma futebolista profissional interrompidos com a descoberta de uma leucemia. O longa tem a produção de Tiago Rezende e Mariza Leão, da Morena Filmes, e Gabriel Gurman, Ricardo Constianovsky e Tomas Darcyl, da Galeria
Distribuidora. Sobre o filme, Giuseppe aposta: “É muito bonitinho. Eu acho que vai fazer sucesso, por conta de ter esta pegada infanto-juvenil. Estou bastante animado”. O filme tem previsão de lançamento ainda para este ano (2022).
Presença bissexta nos cinemas e tendo o seu maior sucesso no gênero um projeto ítalo-brasileiro, gravado em italiano e de grande sucesso naquele país, o longa “Il Barbieri di Rio”(1996) talvez tenha sido o filme de maior expressão na carreira de Oristanio: “O cinema nunca quis nada comigo”, desabafa, atestando haver feito filmes pouco desafiadores e com baixa circulação.
Num destes projetos, um fato insólito: Giuseppe gravou um filme aos 23 anos chamado “O Gato”. Já havia se esquecido dele quando o seu diretor chamou-o para dublar a si, pois que a produção teve um problema de áudio. Contudo, àquela altura o ator já estava com mais de 40 anos: “Foi algo curioso olhar para mim mesmo aos 20 e poucos anos. Eu era uma lindeza. Isso prova que a juventude passa e que o que faz um ator sobreviver, definitivamente, não é a beleza”.
O primeiro trabalho de Giuseppe na TV Globo foi na novela “Vida Nova”, onde
vivia um italiano chamado Bruno, num de seus maiores trabalhos da carreira na televisão: “Essa novela foi como uma homenagem à minha família. As histórias daquele personagem me eram muito familiares. Ouço-as desde que aprendi a falar. Meu avô foi prisioneiro quase que por toda a guerra. Antes de ser preso concebeu um filho e quando voltou à casa, meu tio estava com 6 anos, pois que nascera enquanto meu familiar estava preso (…). Essa novela foi importante não apenas por ser um personagem maravilhoso,
mas pela familiaridade. Curiosamente, o personagem foi meu na hora. Os testes foram suspensos depois que me apresentei. Eu sabia falar daquele jeito, tinha a cara e a idade do personagem. Tudo conspirou a meu favor”.
Ainda nesta obra, “Giu” viveu a incomum experiência em trabalhar em duas emissoras concorrentes simultaneamente: Finalizava as gravações de “Vida Nova”, na Globo, enquanto iniciava as de “Kananga do Japão”, da
TV Manchete (1983-1999). Na Record TV desde 2006, o ator se diz realizado: “Sou muito feliz lá. Eles me ouvem, analisam os projetos que sugiro, e é um local onde fiz grandes amigos”, pondera.
Dentre tantos papéis de uma carreira vitoriosa, um grande fracasso: a peça “A
Morada da Morte”, de 1985. O projeto, que contava com o ator Haroldo Botta no elenco, era de José Rubens Siqueira: “Ensaiamos por seis meses, preparamo-nos… E não houve outra apresentação senão a estreia”, afirmou. Embora o público tenha aderido à montagem, que lotou o teatro, a peça, que ambicionava ser de terror, não assustou ninguém.
Giuseppe disse numa entrevista à extinta revista Manchete, em 1990, que ser pai mudou a visão de mundo. Naquela ocasião, sua filha mais velha, Bárbara, era um bebê recém-nascido. Ator acostumado a papéis protagônicos, declarou-nos que a paternidade é um exercício no qual “Você passa a ser coadjuvante sempre. É lugar de exercer a generosidade e a humildade diante de um amor tão intenso que é difícil de explicar. É algo único. A primeira conclusão que chego, depois de todos esses anos, é a de que paternidade e maternidade são até o fim. (A preocupação) não acaba jamais. É a
mesma, só muda a forma e talvez a intensidade seja maior”. Além de Bárbara, Oristanio é pai de Júlia – que seguiu a mesma carreira como artista – e Vítor, que aniversaria quase na mesma data que o ator, e tenta carreira como lutador de MMA. No dia desta entrevista, inclusive, o rapaz teria uma luta em Nova Jersey. O pai mostrava-se ansioso pelo resultado: “Amanheci com o estômago na goela, apavorado com o que vai acontecer mais tarde. É uma luta importante, que eu gostaria que ele vencesse”. Desafortunadamente,
Vítor não saiu vitorioso na disputa, perdida para o americano BJ Young.
Embora tenha iniciado sua carreira na TV Tupi (1950-1980), em “Como salvar
Meu Casamento” (1979), o ator fez, em 1981, um dos jovens que nomeavam o folhetim “Os Adolescentes”, na Band. Passou por todas as emissoras de TV brasileiras, algumas delas já extintas. Entre 2000 e 2003 ganhou destaque como o professor Afonso no seriado Malhação, permanecendo por quatro temporadas na Globo. Recentemente, em 2021, foi Gômer, um dos patriarcas de “Gênesis”, na Record, e, agora, está na reprise de “Jesus“. Giuseppe Oristanio é um daqueles artistas que produzem enquanto sentem. Diante da dualidade de produzir e estar entregue a um sentimento se sobrepôs à cronologia. Aos 50 anos de carreira, ele é o seu tempo.
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