*por Vítor Antunes
“Renascer” chegou à segunda fase. A trama de Benedito Ruy Barbosa, tal como a sua última novela adaptada por Bruno Luperi e exibida no horário nobre, “Pantanal“, trará à cena uma mulher que, tal como a Maria Bruaca da trama pantaneira, é subjugada, diminuída, inclusive em importância. Para Giullia Buscacio, é importante a novela trazer à discussão a subalternização da mulher através de Dona Patroa (Camila Morgado), um contraponto à sua personagem, a libertária Sandra, sua filha. “A Sandra traz uma visão do novo. Veremos muito claro nela e em seus posicionamentos essa oposição com a sua mãe, que é submissa, apagada”. Sabendo que há muitas “Donas Patroas” por aí, espalhadas pelo Brasil, Giullia acredita no veio pedagógico que uma novela pode ter. “A TV é o espelho do que as pessoas são. É bom juntar esses dois mundos opostos, de uma mulher reprimida e outra livre, para se fazer pensar sobre isso, sem que haja uma definição sobre o que é certo ou errado. São visões de mundo diferentes. A Sandra e a mãe dela são de tempos diferentes, assim como a da personagem da trama de 1993 e a de hoje “, diz a atriz, filha do jogador de futebol Julinho, campeão brasileiro pelo Botafogo em 1995.
Esta é a segunda novela de Giullia com a equipe de “Renascer”. Sua primeira foi “Velho Chico”. Trama que assim como “Sol de Verão” (1982), foi marcada pela morte de seu protagonista. Diferentemente da trama dos 80’s, “Velho Chico” perdeu outro personagem além do principal vivido por Domingos Montagner (1962-2016). Umberto Magnani (1941-2016) também faleceu durante as gravações. Como lidar com a produção de uma novela marcada por tragédias? “Quando estive em ‘Velho Chico’, eu tinha 19 anos. Era muito nova. Lidar com essas perdas não foi algo fácil. Tratei da minha saúde mental, lidei com essas emoções, diante da perda de pessoas que eu amava, e hoje eu levo como combustivel artístico. Sob algum aspecto elas acreditaram em mim. Naquela ocasião todos fomos guerreiros e a nossa jornada foi brilhante”.
De comportamento muito discreto, longe dos arroubos e dos estereótipos sobre o ser artista, Giullia é prudente ao que revela no Instagram, aos seus quase 800 mil seguidores. Segundo a atriz, “as minhas personagens são melhores que eu, que a minha vida. Tento trazer foco, de fato, para o que me faz. Se meu Insta é publico e se as pessoas me acompanham é por conta de haverem se apaixonado por minhas personagens, acharam-nas interessantes”, argumenta
Saber de mim, quanto ao meu relacionamento, por exemplo, é algo delicado. Namoro com uma pessoa que não é pública. E só o casal que vive isso sabe o que passa. [Nossa vivência] não interessa para o público e não temos o interesse de alimentar o desejo das pessoas nisso. Prefiro que se interessem mais pelo que tenho, pela minha entrega como atriz e como fazer com que as pessoas saibam que sonhos são possíveis. Namorar todo mundo pode. Já os sonhos, quero que saibam que eles podem ser possíveis – Giullia Buscacio
ENTRE OS D(O)RAMAS E A LUA SOBERANA
Giullia Buscacio começou a sua carreira na TV em 2009 na série “A Lei e o Crime”, da Record. Fez diversos trabalhos na televisão, dentre os quais algumas protagonistas como a Jacira de “Novo Mundo“. Depois de haver feito uma participação especial em “Travessia”, da qual falamos aqui, a artista voltará ao ar em “Renascer” com a personagem Sandra. “Ela vai passar por diversos outros personagens. Inclusive, contracenarei com o Irandhir Santos, com a Camila Morgado e com o Vladimir Brichta – e estes últimos serão meus pais na novela. Está sendo prazeroso, muito prazeroso, trocar com eles e me ver como parte nesse processo, em estar trocando com esses grandes atores. Minha personagem é importante, potente, e numa novela das nove. Fico feliz que tenham enxergado em mim essa potência”.
Pela segunda vez, Giullia revive um personagem que anteriormente foi interpretado por Luciana Braga. Na primeira vez foi em “Éramos Seis“. A trama de 2019, remake daquela exibida em 1994, teve Buscacio interpretando Isabel, mesma personagem de Luciana em “Éramos” . “É uma alegria estar fazendo uma nova novela e um personagem que foi interpretado pela Luciana. Me sinto honrada por isso”. Sobre Sandra, Giullia diz estar feliz em poder “estar trazendo outra visão para esse personagem. Há de haver um olhar atento sobre esse projeto, para que ele seja cuidado de modo a encantar o telespectador tal como conseguimos na primeira fase”. Para este ano, a meta da atriz consta apenas em focar-se na trama das 21h, que para ela trata-se do “projeto mais desafiador da minha carreira”.
Filha do jogador de futebol Julinho, campeão brasileiro pelo Botafogo em 1995, Giullia cruzou o mundo em razão das demandas profissionais paternas. Inclusive ela é portuguesa de nascimento. Depois, passou anos morando na Coreia do Sul, onde aprendeu a falar coreano e desenvolveu o gosto pelos doramas – novelas coreanas – antes mesmo que elas chegassem ao Brasil. Inclsuive, só no meado da primeira década dos Anos 2000 ela voltou pra cá. Conta, sobre os países dos quais passou: “Não tenho memória de Portugal. Nasci lá, apenas. Minha memória maior é da Coreia do Sul, onde vivi por quatro anos. Meu interesse pela arte surge por conta dos doramas, que hoje são algo conhecido, pop. Ainda que tenha aprendido a falar coreano, hoje vejo o idioma como coisa do passado, não tenho mais fluência. Alguns amigos meus moram na Coreia e tenho contato com eles, mas tive que me adaptar à forma do País, aprender tudo lá para não ficar sozinha”.
Num dos poemas de Alberto Caeiro, codinome que Fernando Pessoa (1888-1935) utilizava, ele diz que é preciso “sentir como quem olha, pensar como quem anda”. Como faz do sentimento sua profissão, Giullia sonha em fazer uma vilã. “Acho que conforme a idade vai mudando, os personagens também vão. Desejo fazer grandes projetos na casa. Vejo a Glória Pires e admiro-a dentro e fora de cena. Algo similar ocorre com a Sophie Charlotte. Olho para trás e vejo que “Velho Chico” fez minha base e como mulher, já que o público me via como menina. Meu sonho é que minha arte me defina. E tenho como frase da vida ‘plantamos o que colhemos'”. Tal como dizia o conterrâneo de Giullia, o português Pessoa, o poente é belo e é bela a noite que fica. Assim é e assim seja”.
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