*Por Brunna Condini
Destaque na novela ‘Bom Sucesso'(2019), da Globo, como a filha de Grazi Massafera, já em sua estreia na TV, Giovanna Coimbra migrou para Record para fazer ‘Gênesis‘, com uma personagem de época que evidencia o machismo histórico ao que as mulheres são submetidas. “A Diná foi humilhada por ter perdido a virgindade antes do casamento. A mulher daquela época era extremamente tolhida pela religião, não tinha nenhuma autonomia sobre suas vontades”, comenta.
A atriz faz um paralelo às situações de abuso ou assédio nos dias de hoje: “Acredito que o simples fato de você não se sentir segura na própria pele, sem a liberdade mais básica de ir e vir, já é uma forma de abuso. A isonomia de direitos não devia ser uma questão, mas uma realidade. Diariamente ainda vemos essa falta de liberdade, de autonomia e respeito pela igualdade de direitos. Não é normal!”.
E fala sobre as ‘ilusões’ que o meio artístico e a vida na internet podem inspirar: “Entendo que tanto as redes quanto o meio artístico são sustentados por uma ideia de perfeição. Mesmo que hoje se tente trazer à tona realidades múltiplas e suas dificuldades, ainda são escolhas de recortes dessas dificuldades. Por isso, dentro da ideia de uma pessoa com alguma influência, busco ir contra essa maré. Trago muitas vezes nos meus stories, a vivência de uma realidade mais de esforços do que ganhos para naturalizar que isso é boa parte do processo que todos vivenciam. É importante ser um representante trazendo inspiração para as pessoas viverem suas vidas menos presas ao que foi estabelecido socialmente e mais próximas de si e da sua autenticidade”.
Cria da geração Z, que não tem tempo a perder e exalta a diversidade em existir, Giovanna analisa: “A minha geração veio pra ser a ruptura de velhas concepções que não tinham como mais como se sustentar. Talvez ainda não sejamos a mudança, porque, como todo grande movimento, existem suas falhas, remodelamentos, mas acho que somos uma fagulha que se alastra, e vai iluminando, gerando a possibilidade de uma ‘fogueira’ futura mais forte e justa”.
Família, legado e escolhas
Muito ligada à família e às suas referências, a carioca de São Cristóvão, tem orgulho das raízes. “Boa parte da minha família tem origem no interior do Maranhão e Ceará. Segundo a minha mãe, vir para o Rio foi iniciativa de um tio para poder trabalhar. Tenho várias gerações na família que não tiveram oportunidade de frequentar o colégio para garantir o sustento. Minha avó foi uma das pioneiras e, logo em seguida minha mãe, a ter completado uma faculdade. Valorizo muito o que tenho hoje, todas as oportunidades, e honro essa história, porque sei que tem bastante fruto da luta de várias gerações”.
Nunca se falou tanto em perdas. Você aprendeu a lidar com isso muito cedo por conta da morte de duas irmãs. Como isso te transformou? “A morte das minhas irmãs foi algo bem doloroso para mim. A Juliana morreu quando eu tinha 10 anos, e dois dias depois do meu aniversário, em um acidente. E a Mariana de 27 anos, há cinco anos, de um câncer de útero, mas que deu metástase muito rápido. Ambas muito novas. Mas as perdas, nos fortalecem. Creio que em homenagem à elas, como tantos amigos queridos que perdi nesse nosso contexto atual, eu vivo intensamente cada minuto”, divide Giovanna, que tem mais dois irmãos.
A base familiar ajudou Giovanna a manter sempre os pés no chão e pensar de forma múltipla em suas possibilidades. Tanto que escolheu a faculdade de engenharia em uma universidade pública, que continua cursando, em paralelo à carreira de atriz. Ela tem 22 anos, mas fala com segurança das suas escolhas e acredita que muito disso se deve ao passado como esportista. “O período que eu fui jogadora de basquete foi um dos mais importantes na minha vida. Sinto que existe muito da disciplina e da resiliência desse esporte na Giovanna de hoje. Mas não foi fácil. Enfrentei as próprias barreiras de gênero no esporte. Me vi perdendo oportunidades, mesmo ganhando campeonatos, me dedicando, porque os incentivos são muito precários no que se refere ao gênero feminino. E por essa razão fui perdendo a perspectiva de seguir profissionalmente”.
E acrescenta: “Hoje ainda jogo de forma amadora. Faço parte do time de basquete da minha faculdade, engenharia UERJ, além de ser também coordenadora do time. Sinto que o basquete sempre vai estar presente na minha vida. Por mais que pareça clichê, é bem mais do que só um esporte, ele me ensinou uma filosofia de vida. Tem muito a ver com resiliência, comprometimento, algo como: ‘Nunca sentir que você deu o seu melhor, porque você está sempre abrindo espaço para melhorar mais’. E, em momentos como o atual, esse pensamento gera o olhar de que a realidade vai melhorar. E mesmo sendo tudo tão triste, consigo ver aprendizados. A introspecção do período foi uma oportunidade de enxergar mais a mim e ao próximo. Vi a necessidade e criei um projeto de auxílio aos estudantes”.
Satisfeita com o caminho que vem trilhando, a atriz avalia os sonhos de todos os tamanhos. “Sempre desejei ser reconhecida por um bom trabalho. As minhas personagens foram grandes conquistas. Suas histórias são complexas e desafiadoras. Sinal que confiam no meu trabalho”, avalia, acrescentando: “Sou uma pessoa que sonha alto. Um dos meus grandes objetivos como atriz, é rodar um filme ou série internacional em inglês, dirigida pelo Quentin Tarantino. Como para a realização de todo sonho, primeiro é preciso um conjunto de pequenos objetivos, já estou praticando o idioma. Também desejo fazer um filme no papel de uma vilã. Não dou limite para os meus sonhos”.
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