*por Vítor Antunes
Não faz muito tempo que ela começou a carreira e engatou direto sua primeira protagonista. Giovana Cordeiro completa, neste 2025, dez anos de carreira. Sua última participação na televisão foi em No Rancho Fundo, novela que conquistou o público com sua trama envolvente e personagens cativantes. Agora, a atriz se prepara para voltar às telonas no aguardado filme Pecadora, uma adaptação do livro homônimo, de Nana Pauvolih. No longa, Giovana divide a cena com José Loreto, Rayssa Bratillieri, Marcos Pasquim e Heslaine Vieira em um elenco que promete fortes atuações e química intensa. Além de seus trabalhos nas telas, Giovana encontrou-se com o carnaval em 2024, desfilando pela primeira vez na Porto da Pedra como musa. A experiência marcou profundamente a atriz, que já havia declarado seu carinho pelo samba e pela cultura carnavalesca. Agora, em 2025, ela retorna à agremiação com um papel ainda mais ativo: será ritmista, tocando repique, um instrumento essencial na harmonia da bateria. ‘Quero estar em tudo que se relaciona com o carnaval’, afirma Giovana, deixando claro seu compromisso e paixão pela festa mais popular do Brasil.
Inclusive, o carnaval é marcado por sua forte vinculação à sensualidade e à presença feminina. Não raramente, há closes e filmagens panorâmicas do corpo das mulheres. Nos anos 1990, o locutor Fernando Vanucci (1951-2020), para destacar uma passista chamava-a de “proparoxítona, pois é maravilhosa” – desconsiderando que a palavra, na verdade, é paroxítona. Atualmente, coube aos portais de notícia manchetar assim. No primeiro dia do ano, uma conhecida rádio carioca fez em seu X (ex-Twitter), no dia 3, pelo menos cinco posts – sendo eles dois em sequência – falando do corpo de mulheres, com as palavras “biquíni” e/ou “corpão”. No meado de novembro, vários portais publicaram matérias semelhantes, falando justamente, do biquíni e do corpo de Giovana Cordeiro. “Meu corpo não deveria ser notícia. Tenho outros projetos futuros relacionados à música e ao teatro. Estou produzindo teatro há alguns meses. Gostaria que, quando algo acontece no Instagram relacionado ao meu trabalho, tivesse essa mesma repercussão. Até evito postar foto na praia, porque percebo que a internet mistura as coisas – tanto o profissional como o pessoal. Tanto eu como outras colegas de profissão, a gente vai avaliando para ter o nosso espaço dentro e fora da nossa profissão, para ganhar respeito e credibilidade”.
Acho uma pena que alguns veículos, que anunciam notícias de assédio e violência contra a mulher, sejam os mesmos que promovem essas outras narrativas contraditórias. Acho que precisamos construir uma sociedade mais respeitosa, que não sensualize o corpo da mulher a vida inteira. No geral, temos que pensar melhor sobre essas narrativas. Ali era um momento meu, de lazer, na praia, mas é muito mais do que essa condição sexualizada. Sinceramente, tenho fé que caminharemos para um lugar mais maduro e respeitoso no futuro – Giovana Cordeiro
Em 2024, Giovana brilhou em O Meu Sangue Ferve Por Você, no qual viveu Magali, a companheira de vida de Sidney Magal. O filme não apenas trouxe à tona momentos marcantes da vida do cantor, mas também permitiu que Giovana explorasse um papel desafiador e emocionante, contracenando com Filipe Bragança. O filme foi recentemente adaptado como série e pode ser visto no Disney Plus.
ROLOU UM FUZUÊ
A novela Fuzuê, de Daniel Ortiz, estreou em 2023 com a difícil missão de manter os índices de audiência da bem-sucedida Vai na Fé, sua antecessora no horário. Contudo, a trama enfrentou desafios de recepção por parte do público, o que resultou em reescritas ao longo de sua exibição. Mesmo em um cenário marcado pela necessidade de ajustes, Fuzuê representou um marco na carreira de Giovana Cordeiro, que viveu sua primeira protagonista, a corajosa Luna.
Sobre essa experiência, Giovana analisa: “No final, o saldo foi muito positivo. Acho que administrei muito bem essa responsabilidade. Eu já imaginava que seria um trabalho que exigiria bastante. Fui me preparando e isso já me deu um gostinho do que seria. Acho que Fuzuê chegou para mim na hora certa. Eu já tinha compreendido muitas coisas no meu ofício e administrei bem. É um trabalho que exige muito da protagonista, mas estou muito feliz. Tive colegas de cena incríveis, que estavam sempre comigo, porque eu gravava quase 30 cenas por dia. Era importante estar ali com eles, batendo texto. Foi uma demanda grande, mas acho que me organizei muito bem para lidar com isso. Consegui manter a concentração e minha estrutura pessoal. Também foi um processo que me deu mais segurança como atriz e como pessoa, me fez sentir capaz de produzir, executar e sair da experiência muito mais madura”.
Giovana também destacou a natureza dinâmica da produção de uma novela, que é uma obra aberta e, portanto, sujeita a mudanças. “Foi minha quinta novela e, como sempre, houveram mudanças ao longo das gravações. Acho que é natural, porque gravamos com muita antecedência e depois usamos o público como parâmetro para ajustar o rumo. Não foi diferente nessa novela; começamos de uma forma e, depois de ouvir o público, seguimos por outros caminhos.”
Apesar das reescritas para alinhar a trama às expectativas do público, a atriz ressalta que sua personagem, Luna, manteve sua essência e força ao longo da novela. “Luna, eu acho, foi seguindo assim, sendo a sua cabeça. Já desde o início, ela tinha essa personalidade, não era aquela mocinha passiva, muito não. Ela era reativa. Eu gostava disso e a maneira como a gente conduziu nas relações também, na preparação. Ela era filha de Maria Navalha (Olívia Araújo). Uma mulher que também sempre se defendeu, e foi à luta. A Luna era fascinada por essa mãe e se espelhava nela.”
Exemplo de uma atriz que, com dedicação e talento, conseguiu transformar papéis modestos em marcos de sua carreira. Um exemplo é Xaviera, de Mar do Sertão, novela de Mário Teixeira. Inicialmente uma personagem secundária, Xaviera cresceu na trama e se tornou co-protagonista, conquistando o público com sua autenticidade e força. Giovana celebrou a oportunidade de revisitar a personagem em 2024 no spin-off No Rancho Fundo, um projeto que deu continuidade ao universo criado pelo autor.
“Pra mim, foi um processo delicioso a Xaviera. Era uma prova de que confiavam no meu trabalho, com uma personagem querida. Voltar a ela foi um fôlego a mais. É muito pouco usual isso de acontecer de uma novela receber personagem de outra, mesmo que do mesmo autor. O texto do Mário tem uma liberdade muito grande de intenção, de interpretação, de intenções. Também tem muita poesia, uma poesia que me lembra muito o Ariano Suassuna. Uma poesia não rebuscada nesse lugar sofisticado do carinho e do que eles dizem em si. Essas novelas tiveram isso, um sucesso muito atrelado com ele. Ele tem um carinho muito grande pela personagem e sou muito feliz por isso”.
O destaque como Xaviera abriu portas para Giovana assumir sua primeira protagonista em Fuzuê (2023), mas não foi apenas na TV que a atriz brilhou. No cinema, ela viveu Magali, esposa do cantor Sidney Magal, no filme/série “O Meu Sangue Ferve Por Você“. A produção, marcada por um longo processo de realização, demandou da atriz uma profunda conexão com a personagem. “A gente teve um período muito longo com esse filme. O primeiro teste que eu fiz foi em 2018. E aí, depois, começaria a rodar em 2020, mas a pandemia do covid-19 assolou o mundo. E os processos finais vieram em 2022. Então, a gente teve todo esse período de preparação e descobertas.
“As produtoras do filme tinham feito um documentário com ele também, Me Chama Que Eu Vou, que falava sobre alguns momentos da vida dele. A gente tinha muito material do Magal e pouco da Magali, que é super discreta. Mas, na vida pessoal, eu sou super divertida e carinhosa, acolhedora. A família do Magal é uma família que tem uma temperatura próxima à minha família. Tal como a família dele, na minha estamos sempre juntos, nos encontramos juntos. E todos os nossos encontros tinham esse tempero familiar. Acredito que esse foi um filme muito carinhoso também porque eu sou muito respeitosa com a história do casal. Eles acompanharam algumas gravações muito emocionados”.
Ao completar 10 anos de carreira, Giovana é frequentemente comparada a outras atrizes que marcaram gerações, como Marília Pêra (1943-2015), que em seu livro Cartas a Uma Jovem Atriz escreveu conselhos para quem estava começando na profissão. Inspirada por essa referência, Giovana compartilha sua visão sobre o que diria a uma jovem atriz:
“Eu acho que eu tive um fluxo de progresso muito positivo no meu trabalho. Penso que ainda quero experimentar esse lugar da atuação, direção e realização. Quando penso numa jovem atriz, penso na minha sobrinha, de 12 anos, que também está começando na profissão, fez uma série infantil. O que eu diria é: estude, continue, vá em frente. Mas eu acho que, às vezes, pode parecer, para as pessoas que estão de fora do nosso trabalho, que nosso ofício é só decorar texto, é algo artificial. Mas o nosso trabalho é muito profundo e é um ambiente de mudança social, muito poderoso. É responsabilidade e todos também devem estar abertos para as mudanças no mundo. Se abram, façam o que o coração aceitar”.
De Xaviera a Luna, de musa do samba a Magali, Giovana Cordeiro escreve sua trajetória com a intensidade de quem sabe que a arte é ponte, é caminho, é transformação. Em uma década de carreira, ela provou que não basta ser protagonista no roteiro, mas também na vida – reivindicando respeito, lutando por narrativas que façam ecoar as vozes de tantas mulheres, dentro e fora das telas. Giovana não apenas atua; ela constrói universos. Seja no palco vibrante do carnaval, nos bastidores do teatro ou diante das câmeras, sua entrega carrega a força do coletivo, a poesia do cotidiano e o desejo de um mundo mais justo e sensível. Enquanto o tambor do repique ecoa na avenida e o enredo de sua carreira ganha novos capítulos, Giovana segue ensinando que ser artista é, antes de tudo, um ato de coragem.
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