*Por Brunna Condini
Somos movidos pelos nossos sonhos e à medida que eles vão se concretizando, pavimentam o caminho até outros desejos que falam alto à nossa essência. As realizações potencializam nossa existência e são dos melhores combustíveis para seguirmos investindo em nossa jornada por aqui. É exatamente tomada dessa energia que vemos Giovana Cordeiro brilhar como Luna em ‘Fuzuê’, atual trama das 19h da Globo. Com sua primeira protagonista, a atriz tem enchido a telinha deste tipo de plenitude. “A Giovana do início da carreira tinha muita fé de que as coisas iriam fluir da maneira que eu esperava, e construiu muita coisa pra eu estar onde estou agora. “Confia, entrega e persiste, porque vai dar certo!”, é uma frase que se repete quando eu penso nela!”, celebra a atriz.
“Esse protagonismo chega no momento certo, não tenho dúvida! Me preparei para viver tudo isso da melhor forma, para conseguir me dedicar ao trabalho da maneira que acredito. E até chegar aqui, durante o meu caminho, fiz escolhas conscientes que sempre me deixaram mais perto de realizar esse objetivo. Interpretar a Luna, perceber o carinho das pessoas nas ruas, ver o retorno positivo tanto do meu trabalho quanto da novela de uma maneira geral me dá muita felicidade”.
E arremata: “Foi minha ambição que me trouxe até aqui. Uma ambição no sentido de almejar algo e trabalhar para que isso aconteça. Mas sem disciplina e organização nada vai para frente. Para mim, essas três coisas é que me ajudam a persistir”.
Na trama das 19h, Luna tem como antagonista outra mulher, Preciosa (Marina Ruy Barbosa), sua própria irmã no fim das contas. Pensando em como as personagens femininas são abordadas nas criações audiovisuais, e se deveriam dar mais exemplo de sororidade – ou não, já que é dramaturgia, campo da ficção – Giovana comenta, a pedido do site, se esse velho mecanismo dramatúrgico do antagonismo entre mulheres, não acentuaria a rivalidade feminina. Novos tempos pedem narrativas diferentes até em sua estrutura? “Temos algumas camadas dentro desta questão (risos). Luna e Preciosa são mulheres com personalidades antagônicas. Elas não concordam em quase todos os aspectos: pensam a vida de maneira diferente, têm ambições diferentes. Não sei se vai chegar um momento em que descobrirão alguma afinidade. É dessa incompatibilidade que nasce o antagonismo que vemos na trama, além do fato de se cruzarem nessa busca pelo tesouro. Isso é natural da vida, do ser humano: ser diferente e não conseguir conciliar seus interesses. Elas poderiam não se bicar e não cruzar o caminho uma da outra. Só que a gente que está assistindo sabe que a história entre elas vai muito além do que as duas imaginam. Acho isso válido como um mecanismo de roteiro para criar as reviravoltas. As histórias já estão mudando. Porque mesmo este antagonismo entre elas já não é mais o mesmo que víamos há alguns anos”, pontua.
“Na novela disputam uma herança, que nem sabem ainda. A briga delas é por serem completamente diferentes e essas diferenças também trazem uma comicidade para a história. Acho que perigoso é assumir que todas as relações entre mulheres são boas e pacíficas, isso é descomplexificar um pouco até nossas personalidades e características inerentes ao ser humano. Pessoas vão discordar, mulheres vão discordar de mulheres, e isso não faz com que não tenham empatia entre si, que não possam se apoiar mutuamente em outras questões. Quem sabe não é isso que em algum momento a gente vai ver entre Luna e Preciosa também. Estamos só começando. Tem muita água para rolar embaixo dessa ponte! A Luna defende o tempo todo que não é inimiga nem da Preciosa e nem da Olivia (personagem de Jessica Córes, que disputa o Miguel de Nicolas Prattes com Luna), por exemplo. Ter falas como essa na heroína, também colabora muito para que a gente pense nessa rivalidade feminina já imposta, de maneira a desconstruí-la”, completa Giovana.
Ainda analisando sobre os temas que orbitam o assunto, a atriz de 26 anos acrescenta: “Sou feminista e isso fica evidente pela maneira como me coloco. É uma prática diária mesmo de buscar igualdade entre gêneros, de lutar junto com outras mulheres por espaço, de usar o lugar que eu ocupo para fortalecer mulheres e para falar sobre os temas que são importantes para nós, para nossa segurança, para nossa integridade. É sobre construir um futuro mais igualitário, onde mulheres não morram por serem mulheres, é uma prática diária. Sei que muitas pessoas ainda acham que o feminismo é o oposto do machismo, mas não é isso”.
Feminismo é sobre acreditar na igualdade sócio-político-econômica entre os gêneros, como escreveu a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie – Giovana Cordeiro
O lado bom da vida
Giovana sempre sonhou em viver dignamente do ofício como atriz, podendo proporcionar uma vida melhor para si mesma e sua família. Pode-se dizer que ela vai indo bem na sua lista de sonhos. “Falando materialmente, acho que o principal até hoje foi ter ajudado minha família a mudar de casa. Crescemos eu e minhas duas irmãs dividindo o mesmo quarto. Depois, quando a Thaia, minha sobrinha, chegou, ela dividiu o quarto conosco (risos). Quando foi possível, mudamos de apartamento e ficou bem mais confortável para todas. Hoje moro sozinha, o que também foi uma conquista grande para mim. Além disso, a minha profissão me possibilita viver algumas experiências que eram muito distantes da minha realidade, e poder compartilhar esses momentos com a minha família é também uma grande realização. A gente sempre celebra juntas! Isso é muito gratificante e faz tudo valer a pena”.
Fui criada em uma casa de mulheres e minha mãe sempre ensinou a mim e às minhas irmãs a sabermos falar por nós mesmas. Por outro lado, isso não nos blindou do machismo, da misoginia – porque essas são questões inescapáveis em um país como o Brasil, que é estruturalmente machista – Giovana Cordeiro
Luna X Giovana
A Luna procura a mãe desaparecida, Maria Navalha (Olívia Araújo), com quem tem uma forte ligação. Como é a sua relação com a sua mãe, Lilian? “É uma relação muito próxima, somos muito amigas, e bem mais leve também do que a relação de Luna e Maria Navalha. Ela sempre apoiou minha escolha profissional, me incentivou a correr atrás, acreditou junto comigo que tudo era possível. Nossa relação é de amigas, mas de mãe e filha. Já entre Luna e Maria Navalha, estamos começando a descobrir que apesar da união e proximidade das duas, Luna às vezes assumia uma posição como se fosse a responsável pela mãe, o que acabava gerando conflitos entre elas. Então, nesse lugar, a relação com a minha mãe e a relação da Luna com Maria Navalha são bem diferentes”.
Giovana continua observando o que empresta e se mistura à personagem solar e batalhadora. “É engraçado como a cada bloco novo de capítulos que recebo, quanto mais vou conhecendo a Luna, mais essa resposta muda. Temos a fé, o otimismo e a obstinação em comum, mas neste momento, acho que temos também a maneira mais safa de viver as situações, o aprendizado diário de nos colocarmos de uma forma assertiva. Esse foi, e ainda é, um grande aprendizado para mim. Fui criada em uma casa de mulheres e minha mãe sempre ensinou a mim e às minhas irmãs a sabermos falar por nós mesmas. Por outro lado, isso não nos blindou do machismo, da misoginia – porque essas são questões inescapáveis em um país como o Brasil, que é estruturalmente machista. Então, já me vi em momentos que concordei sem querer, aceitei sem concordar. Mas hoje em dia me sinto cada vez mais à vontade para falar o que penso e não calar mais. Luna é assim também. Tanto que não aceita o que falam da sua mãe e está em busca da verdade. Esse lado detetive dela aflora por isso também”.
Protagonismo X exposição
Namorando o também ator Giuliano Lafayette, que passou o bastão do sucesso ‘Vai na Fé‘ no horário para ela, Giovana declara sobre a parceria dos dois: “Estamos juntos há mais de quatro anos e vivendo um momento muito especial. Os dois trabalhando em projetos muito legais. Isso é maravilhoso! A gente se ajuda, mas também gostamos de aproveitar juntos, de ter um tempo nosso sem pensar tanto no trabalho”.
Giovana também avalia a maior exposição e curiosidade sobre sua vida. “Não me incomoda. Esse crescente interesse é resultado do trabalho também, é mais gente me conhecendo, querendo saber de mim, sobre o que eu penso. Quanto mais espaços eu acessar, mais tenho a chance de fazer a diferença da maneira que acredito ser positiva. E isso é algo que vem com a popularidade, com a fama. Estou preparada. Eu naturalmente sou uma pessoa mais reservada. Nas minhas redes sociais, por exemplo, trago muito sobre o meu trabalho, os bastidores, e também um pouco do meu dia a dia. Acho que é um limite que a gente acaba colocando e aprendem a respeitar. Não sinto, por exemplo, as pessoas invasivas comigo nas redes sociais. Na imprensa, é o mesmo: os jornalistas perguntam sempre de maneira muito respeitosa sobre todos os assuntos. Isso também vai me dando segurança para ir compartilhando o que eu quero dividir com mais pessoas”.
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