Gil Coelho, o príncipe Augusto de Nos Tempos do Imperador: ‘O machismo é algo inexistente no meu cotidiano’


O ator aponta que novelas e séries colaboram, por exemplo, para dar voz a certas situações e a diminuir preconceitos. Ele participou da série (Des)encontros, da Sony, como o baterista Rafa, que vivia romance com o personagem interpretado por Rainer Cadete. Na vida real, na rede social, Gil gosta de ajudar a alertar sobre causas que ele considera relevantes. Tem enfatizado a importância da doação de sangue. “Estou sempre envolvido com questões que ainda machucam o ser humano, estou sempre no aprendizado, querendo me inteirar mais, entender, ajudar”, explica

Gil Coelho, o príncipe Augusto de Nos Tempos do Imperador: 'O machismo é algo inexistente no meu cotidiano'

* Por Carlos Lima Costa

Criada sob um patriarcado e com o machismo ainda muito presente, a sociedade brasileira vê de forma nítida o quanto a relação entre os gêneros se transformou e o quanto as mulheres conquistaram espaços. É só conferir a novela Nos Tempos do Imperador, que atualmente retrata nosso país na década de 1860, quando a mulher era totalmente submissa ao homem. Intérprete do príncipe Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota (1845-1907), marido da princesa Leopoldina (1847-1871), filha de Dom Pedro II (1825-1891), o ator Gil Coelho se mostra um homem de seu tempo, que mantém relações afetivas “de igual para igual”, nunca sob um olhar de superioridade.

“Isso é algo inexistente no meu cotidiano, bem distante do que eu entendo de vida. Sou um cara totalmente a favor do amor. Agora, sei que em qualquer lugar, esquina ou parte do mundo o machismo ainda é presente. Mas costumo estar ligado a pessoas que defendem e tem o tipo de comportamento que eu gosto. Em família, fui criado com conversas sem essa questão do machismo. E fui muito feliz vendo que o feminismo está crescendo. As mulheres realmente estão empoderadas. Vivo isso dentro de casa. Minha irmã é uma pessoa que busca sempre liderar grupos relacionados a isso. Para mim, o machismo nem deveria existir mais”, pontua.

Naquele século XIX, famílias acertavam a união de seus filhos, que em geral se conheciam pouco antes do casamento. Esse é o caso do personagem de Gil. “O casamento não era por amor, era um negócio, não era falando sobre sentimentos e sim de casamentos. Isso é bem diferente de hoje em dia, mas durante muito tempo ainda ficou assim, questões de terras, isso é bem falado na novela”, reflete.

"O machismo é algo inexistente no meu cotidiano, bem distante do que eu entendo de vida. Sou um cara totalmente a favor do amor", assegura Gil, caracterizado como seu personagem em Nos Tempos do Imperador (Foto: Globo/Fabio Rocha)

“O machismo é algo inexistente no meu cotidiano, bem distante do que eu entendo de vida. Sou um cara totalmente a favor do amor”, assegura Gil, caracterizado como seu personagem em Nos Tempos do Imperador (Foto: Globo/Fabio Rocha)

Assim, Gil percebe e aponta que novelas e séries colaboram, por exemplo, para dar voz a certas situações e a diminuir preconceitos. Em época de extrema polarização política e preconceitos exacerbados desde contra a população LGBT, racismo e misoginia, Gil participou da série (Des)encontros, da Sony, como o baterista Rafa, que vivia romance com o papel defendido por Rainer Cadete. “O pai do meu personagem era totalmente machista e cobrava sempre um relacionamento dele com uma mulher, então, ele tinha dificuldade em assumir esse outro lado dentro de casa. Eu fui criado sem nenhum machismo dentro de casa. Mas é óbvio que isso está muito entranhado na nossa pele, porque convivemos desde que nascemos. Isso vem diminuindo, mas ainda está presente na sociedade. Vemos situações acontecendo. Muitas vezes, já chamei atenção de pessoas. Agora, os meus amigos, as pessoas dos lugares que eu gosto de frequentar, são bem livres desses preconceitos. E recebi relatos, por exemplo, no Instagram, que aquele meu trabalho encorajou muita gente a enfrentar a família”, analisa.

E lembra que anteriormente já havia recebido muitas mensagens na época da novela A Lei do Amor, da Globo. “Como era canal aberto teve um alcance maior. Meu personagem era casado com uma mulher, tinha filho com ela, mas se apaixonava por um homem. Foi bacana, recebi várias mensagens. É muito legal ver que através da arte a gente poder ajudar a promover conversas sobre esses temas”, pontua.

"Eu fui criado sem nenhum machismo dentro de casa. Mas é óbvio que isso está muito entranhado na nossa pele, porque convivemos com isso desde que nascemos", observa Gil (Foto: Divulgação)

“Eu fui criado sem nenhum machismo dentro de casa. Mas é óbvio que isso está muito entranhado na nossa pele, porque convivemos com isso desde que nascemos”, observa Gil (Foto: Divulgação)

Em sua rede social, Gil gosta de ajudar a alertar sobre causas que ele considera relevantes. Recentemente, por exemplo, enfatizou a importância da doação de sangue. “Estou sempre envolvido com questões que ainda machucam o ser humano, estou sempre no aprendizado, querendo me inteirar mais, entender, ajudar”, explica ele.

E questiona o padrão estético que tenta impor corpos magros. “Eu fui muito gordinho na minha infância. Nós éramos três irmãos bem gordinhos e as outras pessoas sempre falavam para meus pais: ‘O que vocês dão para essas crianças?’ Era somente esse tipo de coisa. Mas a criação da gente dentro de casa foi sempre  sem preconceito. Então, bullying sempre foi algo muito longe de mim. Agora, eu amo comer, e estou sempre de dieta desde que me entendo por gente”, observa.

"I Love Paraisópolis foi um divisor de águas. Ali comecei a ter grandes oportunidades", frisa Gil (Foto: Globo/Estevam Avellar)

“I Love Paraisópolis foi um divisor de águas. Ali comecei a ter grandes oportunidades”, frisa Gil (Foto: Globo/Estevam Avellar)

E prossegue em seu questionamento: “É muito louco. A sociedade acaba impondo uma imagem pra gente, mas eu sou um cara que tenho um corpo extremamente normal. Eu tenho barriguinha. Quem disse que não pode ter? Quem disse que o ator tem que ser um cara sarado? Sou normal, mas tenho barriguinha e aí, qual o problema?”, indaga Gil, que antes do atual trabalho interpretou Jafé, filho de Noé, na segunda fase de Gênesis, trama da Record.

Ele praticamente emendaria as gravações das duas novelas, mas devido a pandemia da covid-19 aconteceu um distanciamento entre os dois trabalhos. Atualmente, ele mora sozinho, mas passou boa parte do período na companhia de sua, então, namorada. Em setembro do ano passado, chegou a contrair a doença, teve falta de paladar e olfato, mas o vírus se manifestou de forma branda. “Com certeza. Todo mundo passou por algo nessa pandemia, que veio para modificar muitos comportamentos no mundo. Me sinto uma pessoa diferente”, relata.

"Eu tenho barriguinha. Quem disse que não pode ter? Quem disse que o ator tem que ser um cara sarado? Sou normal, mas tenho barriguinha e aí, qual o problema?”, indaga Gil (Foto: Divulgação)

“Eu tenho barriguinha. Quem disse que não pode ter? Quem disse que o ator tem que ser um cara sarado? Sou normal, mas tenho barriguinha e aí, qual o problema?”, indaga Gil (Foto: Divulgação)

Mas no meio daquele caos, depois de um tempo teve um programa de cozinha, no Instagram, em parceria com Ernani Moraes, o Batista de Nos Tempos do Imperador. E, no momento, conversa sobre um possível futuro trabalho em uma plataforma de streaming. Faz dez anos que Gil Coelho começou a ganhar visibilidade ao interpretar o Guido de Malhação Conectados. “Me deu a grande dimensão. Mas o personagem que foi um divisor de águas para mim foi o Lindomar de I Love Paraisópolis, comecei a ter grandes oportunidades a partir dali”, conta.