*Por Brunna Condini
Aos 19 anos, Gi Fernandes é uma jovem mulher potente. A atriz tem vivido um caso de amor com o audiovisual e quando aparece na tela entendemos o porquê: a câmera gosta dela. E da liberdade da sua entrega, intensidade e liberdade na pele das personagens. Quem quiser conferir isso de perto, pode fazê-lo em três tempos: com a Evelyn em ‘Mania de Você‘, novela das 21h da Globo; e também com Sandra, em ‘Justiça 2′ e Lorraine no sucesso ‘Os Outros‘, em duas temporadas; todas séries disponíveis no Globoplay. No mês que é dedicado às reflexões sobre as desigualdades enfrentadas pela população negra no Brasil e no mundo (Mês da Consciência Negra), entre outros temas, a atriz fala sobre como a ocupação dos espaços almejados pode inspirar. “Acho que eu estar realizando os meus sonhos, também faz outras pessoas também sonharem. Depois que fiz ‘Os Outros‘, participei de uma seletiva para integrar o grupo de pop Now United, e vi o tamanho do alcance disso tudo. Acabei não seguindo, mas quando voltei na escola pública que estudei, foi muito emocionante ver aquelas crianças sonhando também. Quando estudava, precisei muito disso. É identificação humana. É fundamental”.
Nascida e criada na Penha, subúrbio do Rio, onde vive até hoje com a família, Gi Fernandes acrescenta: “Com 8 anos, eu batia o pé e dizia que queria ser atriz. As pessoas riam, debochavam. E eu não culpo essas pessoas, porque elas vinham da mesma realidade que eu, onde isso parecia um sonho distante. Estudei quase a minha vida inteira em escola pública, desde a creche. E na nossa realidade existem muitas barreiras sociais que nos desestimulam a alcançar nossos sonhos. Mas eu sempre acreditei e tive gente ao meu redor que acreditou comigo e isso me trouxe até aqui. Faz muita diferença ter esse apoio e estímulo”.
Filha de uma fisioterapeuta (Vânia Lucia), que já foi professora de dança de salão, e de um servidor público (Luiz Carlos), Gi revela que as realizações na carreira também têm inspirado sua mãe. “Acabei sendo catalisadora um pouco dos sonhos dela, isso é lindo. Minha mãe sempre quis fazer teatro, chegou a experimentar, mas nunca foi muito incentivada diante das circunstâncias da vida. Quando começou a me levar para as gravações, esse desejo reacendeu dentro dela”. E diz ainda:
A realização do meu sonho, despertou o da minha mãe, que chegou a se questionar se estava velha para seguir um novo caminho, mas foi estimulada por mim e está fazendo teatro e feliz – Gi Fernandes
Sobre a cumplicidade no fazer artístico com a mãe, a atriz complementa: “Muitas mulheres, antes de mim e da minha mãe, vieram abrindo os caminhos que trilhamos hoje. Ela está fazendo teatro e já atuamos juntas em peças. Amaríamos fazer mãe e filha num trabalho. Temos essa dupla na vida e gostaria de ter essa dupla na arte. Mas, acima de qualquer coisa, desejo que ela seja feliz exercitando seu lado atriz, porque está muito apaixonada por isso. Mas acredito que no tempo certo tudo acontece. Trabalhar com minha mãe no audiovisual seria mais um sonho realizado. Ela quer e eu também”, revela.
A primeira novela
“É a primeira novela e uma das nove em que contraceno com atores gigantes, e também com um parceiro e amigo de ‘Os Outros‘, Paulo Mendes, que faz o Tomás, com quem tenho um romance na trama. Novela é outro ritmo, muitas cenas por dia, estou descobrindo um universo novo. Estou trabalhando com gente experiente, sábia, estou ali como uma sementinha, uma aprendiz. E estar com o Paulo é maravilhoso, temos uma amizade forte desde a série. A Evelyn estar sendo o que é, devo muito a ele. Gostamos do caos (risos), e queremos que aconteçam muitos ‘caos’ nas tramas dos nossos personagens, gostamos é de tensão”.
Quero muito unir a música e a interpretação em algum trabalho. Também seria incrível fazer uma personagem que já existiu, em uma cinebiografia. Meu desejo é fazer personagens cada vez mais complexas. E que cada vez mais meninas pretas do subúrbio, cria de escolas públicas também, possam realizar seus sonhos – Gi Fernandes
Gi também poderá ser vista no cinema. Ela está no premiado ‘Kasa Branca’, com direção Luciano Vidigal, exibido em outubro, no Festival do Rio 2024, e aguarda o lançamento de ‘Vítimas do Dia’, de Bruno Safadi, em que contracena com Jéssica Ellen e Amaury Lorenzo, com previsão de estreia ano que vem.”Filmei ‘Kasa Branca‘ há três anos. Nele sou Talita, uma cantora de trap. Compus a música que ela canta, então aflorou muito esse lado compositora em mim. Essa personagem é mãe de uma menina de 4 anos, foi uma experiência muito forte. É um filme lindo que fala de afeto, amizade, de carinho entre corpos pretos, sem falar de dor, de violência”, conta.
“Em ‘Vítimas do Dia‘ faço a Jaqueline, uma bailarina, irmã da personagem da Jéssica Ellen, que está prestes a ter um filho com o marido, personagem do Amaury. Por conta de um evento violento, a vida deles muda. Essa personagem me trouxe de volta a memória do balé que fiz na mesma época que comecei no samba. Foi especial e emocionante”.
Apoio e base
“Meu pai, minha mãe e minha irmã (Gabriela) são meus maiores apoiadores, minha base. Eles sempre acreditaram que era possível, pagaram cursos, mesmo sem poder, porque acreditavam que através da educação eu chegaria aos lugares que sonhava. Sempre posso voltar para eles, e saber disso me fortalece. Faço questão de levá-los em cada estreia, tanto para me sentir acolhida, quanto para que vejam que tudo tem valido à pena”, divide.
Nós, do HT, inclusive nos lembramos de um momento especial sobre isso e revelamos para Gi: no lançamento da série ‘Os Outros 2′, a atriz estava acompanhada da mãe, e nos chamou a atenção o olhar materno sobre ela, em um misto de admiração e felicidade. Nitidamente a matriarca vivia a realização daquele momento intensamente com a filha. “É muito gratificante ouvir isso…é muito especial toda a concretização do meu sonho pra ela também. E tudo isso faz mais sentido porque estamos juntas, somos muito unidos lá em casa”.
Gi relembra os passos até aqui. “Meu primeiro contato com a arte foi através da dança, do samba. Meu primeiro desfile foi aos 6 anos, fui a mascote na Mocidade de Vicente de Carvalho. Minha mãe já era do carnaval, foi levada pela minha avó (Vanda) que era compositora de sambas, cantora. Por isso sempre digo que a bateria é meu som ambiente. Depois fui desfilar na Imperatriz Leopoldinense, e mais adiante na Mangueira, onde sigo na ala das passistas. O samba me ensinou muito sobre legado, compromisso, amor ao que se faz. E sobre me virar, improvisar na vida…o samba me moldou. além disso, desde pequena ia para a dança de salão com a minha mãe, que dava aulas, e eu acabava ajudando ela nessa função também”, recorda.
O samba me deu o sentido da arte do coletivo, da necessidade da disciplina, da dedicação. O amor pela arte nasce com a gente e sempre foi meu modo de me comunicar no mundo. Começou na dança, no samba, e depois no teatro. Eu penso, vejo arte, desde que eu existo. Não consigo me imaginar fazendo outra coisa- Gi Fernandes
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