Em passagem meteórica pela São Paulo Fashion Week, o ator francês e objeto do desejo de 100% do mulherio fashionista (e também da turma alegre), Gaspard Ulliel, e o diretor de cinema Bertrand Bonello deram coletiva na Sala SPFW, dentro da tenda montada no Parque Cândido Portinari. O assunto naturalmente versou sobre seu novo longa-metragem, “Saint Laurent”, que narra a vida do emblemático estilista, no qual primeiro interpreta o famoso ícone da moda sob a direção do segundo. No Brasil em função do lançamento do filme, os dois compareceram à esta entrevista para a imprensa um dia após a sessão para convidados no Rio e, depois, conversaram com o HT em rápido encontro exclusivo, falando um pouco sobre a experiência de fazer o filme, o que pensam em relação à vida dissoluta do designer nos tempos áureos e também acerca das críticas que Pierre Berger, o companheiro de toda a vida de Yves-Saint Laurent, fez à produção, que retrata o período que vai de 1967 a 1976, imediatamente após sua saída da Maison Dior para fundar sua própria marca. Este momento também coincide com as instâncias em que ele se depara com o desbunde da contracultura e a liberdade da Revolução Sexual, quando se entrega a uma vida de sexo desenfreado e drogas.
Para Bertrand Bonello, estudar a vida do célebre estilista possibilitou a ele listar aquilo que considerava interessante nesta fase e selecionar aqueles trechos que poderiam render uma boa história: “Preferi focar a vida pessoal, ao invés de por a carreira em primeiro plano porque pretendo revelar o homem por trás do mito. Daí a opção por destacar episódios documentados que esclarecem sua personalidade fascinante, para o bem ou para o mal. Por causa dessa mesma abordagem, sofri críticas severas de Pierre Berger”. Para ele, o braço direito de Saint Laurent tentou impedir o quanto pode a realização da produção e seu lançamento, mas quando viu que isso não seria possível, desejou boa sorte: “Berger tenta controlar tudo aquilo que é veiculado acerca do fashion designer, mas, no fundo, ele sabe que isso não é viável, em função da importância pública do personagem”.
Já Ulliel ressalta que, ao contrário do que o grande público possa imaginar, não é tão difícil assim gravar cenas de sexo – e, diga-se de passagem, no filme elas não são poucas –, já que estas estão dentro do contexto e que não existe gratuidade: “Pode parecer estranho dizer isso, mas quando se está no set em meio a uma tomada desse tipo, nada é tão grandioso como parece e existe a preocupação em se proporcionar o conforto necessário para que a intimidade entre a equipe favoreça a filmagem. Então, a coisa é menor, menos difícil do que se assemelha. Mas, mesmo assim, eu gosto de interpretar tipos que desafiam o ator, e este é um deles”, confessa o astro que também pode ser visto no comercial de Bleu, fragrância masculina da Chanel.
Sobre a questão de o roteiro contemplar um período picante da vida do criador de moda, Gaspard Ulliel vai fundo: “Era uma época menos politicamente correta, quando todos estavam descobrindo as benesses da liberdade de comportamento e desfrutando da possibilidade do sexo livre, sem culpa e sem fronteiras. Era a virada dos anos 1960 para 1970 e o mundo ainda não havia sofrido as consequências da crise do petróleo, do empobrecimento global e do retrocesso promovido pela AIDS. Tudo era muito mais fácil e mais brilhante, com um jet set atuante e bem mais divertido”. Ele completa dizendo que atualmente a vida é muito menos instigante: “Hoje tudo é mais careta e menor, pouco original. Deve ter sido bom viver naqueles tempos e eu teria adorado estar lá”.
E, sobre a questão de o ator gostar de dar vida a criaturas que flertam com a estranheza, vivendo em alguns casos à margem do socialmente aceitável –, como o próprio Saint Laurent imerso nessa verve hedonista ou o famoso canibal serial killer Hannibal Lecter, em “Hannibal – A Origem do Mal” (Hannibal Rising, de Peter Webber, Dino de Laurentiis Company e outros, 2007) –, o rapaz é categórico: “Bom, para mim o sonho de todo ator deveria ser viver esses personagens que não se inserem dentro do status quo geral, podendo criar em cima daquilo que suas qualidades permitem. Eu devo ser um pouco assim também na minha vida, porque tenho uma atração quase fatal por quem não se enquadra nos padrões vigentes. Minhas escolhas acabam volta e meia recaindo sobre esses papeis, e deve ser por isso que Bertrand me deu tanta liberdade para recriar Saint Laurent, sem precisar necessariamente reproduzir ipsis literis o que acredito que ele deve ter sido na vida real, mas adicionando boa pitada daquilo que, creio, ele teria gostado de passar para o público no que se refere a sua pessoa”.
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