“#Garotas”, de Alex Medeiros, retrata os dramas da juventude nas telas do cinema: “Eu sempre me interessei pelo rito de passagem”, diz o diretor


O longa se passa em 24 horas na vida de Beth, Milena e Carina e conta com flashbacks do ano novo anterior. “Serve para que o espectador entenda o que aconteceu com as meninas até chegarem a esse reveillon”, explicou Alex

Juventude, amizade, festas e algum drama. O filme “#Garotas” promete levantar todos esses temas de uma maneira diferente do que se vê normalmente nos cinemas. O roteirista e diretor Alex Medeiros retrata com sensibilidade o estilo de vida das amigas Beth (Giovana Echeverria), Milena (Bárbara França) e Carina (Jeyce Valente), três universitárias que se divertem sem pensar no futuro. Com uma linguagem diferente, o longa se passa em 24 horas na vida das protagonistas – com direito a muitos flashbacks e uma festa de revéillon intensa. No decorrer da narrativa, o filme desvenda os acontecimentos da festa de ano novo anterior, na boate Hades, de Antonio (Nicola Siri).

“São duas épocas. A noite do ano anterior é um flashback para que o espectador entenda o que aconteceu com as meninas até chegarem a esse revéillon. Isso teve impacto grande na caracterização. A Giovana chegou a emagrecer sete quilos, elas mudaram aparência, cabelos. O público vai ver três meninas em duas noites com intervalo de um ano entre elas”, explicou Alex, que quis retratar uma história de amizade, crescimento, conflitos e relações em momentos decisivos da vida. “Eu peguei o modelo clássico de um dia que muda a vida de uma pessoa e define quem ela é. A ideia é contar uma história sobre um rito de passagem e ambientar isso na contemporaneidade, misturando realismo, humor, seriedade e a chegada da idade adulta”, disse ele, destacando a importância do período: “A festa de revéillon delas acontece no final da faculdade. Poucas vezes eu vi esse início de vida adulta retratada e quis mergulhar nisso”, contou.

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Milena, Beth e Carina são amigas que vivem a época de transição entre a juventude e a vida adulta (Foto: Inacio Moraes)

O conflito do filme se dá quando Beth volta de Nova York após um ano. Decidida a mudar de vida e amadurecer, suas vontades batem de frente com a das amigas, que fazem de tudo para impedir que ela se torne uma pessoa comportada e levam vários outros jovens para comemorar o ano novo em sua casa. “As atrizes têm a idade das personagens e tiveram liberdade pra contribuir e trazer elementos de observação delas. Foi um trabalho aberto, um coautoria, eu diria. Eu sou observador, tenho responsabilidade de criar um retrato mais fiel possível e sem julgamentos. A química entre as meninas foi fundamental para o realismo”, disse o diretor.

Bárbara França contou que as três chegaram a morar na mesma casa por alguns dias para construir uma relação íntima. Enquanto Jeyce e Giovana já se conheciam, a intérprete da roqueira Milena chegou e foi logo bem recebida. “Elas me acolheram. Antes de gravarmos vivemos na casa da Beth por vários dias. Passamos um tempo juntas sem nenhuma preocupação com texto ou ensaios. O Alex queria que tivéssemos pelo menos sete dias sem responsabilidades dentro da casa para criar o laço. Foi uma convivência intensa e forte. Dali saíram muitos improvisos”, disse ela, que por pouco não aceitou o papel. “Quando eu li o texto do teste, recusei. É um filme que retrata o universo jovem sem filtro, a beira do abismo, com muitos palavrões, conversas sobre sexo. Fiquei preocupada. Agradeci a disse que não ia, mas o Rafael (Costa, produtor) pediu para eu conhecer eles. Quando cheguei lá, fiquei à vontade. O Alex é um diretor tipo pai. Nunca trabalhei com alguém assim. Ele é sensível, generoso e ótimo profissional”, elogiou.

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O filme aborda as relações das três em uma festa de ano novo com direito à flashbacks do reveillon passado (Foto: Philipp Lavra)

A sensibilidade de Alex Medeiros tem muitos motivos. Um deles é a própria filha adolescente, que o inspirou e influenciou no processo. “Ela não tem relação direta com nada que acontece no filme, mas víamos muitos longas sobre jovens, temos um gosto parecido para humor. Eu sempre me interessei pelo rito de passagem, o crescimento”, contou. Apesar de o lançamento ser só no dia 12, a recepção do público já pôde ser sentida através de sessões-teste. “Fizemos uma em Guadalupe. Como #Garotas se passa em determinada fatia de classe média-alta, eu optei por fazer o teste em um bairro pobre. Queria ver a reação dos jovens que não tem relação com esse universo social e foi uma resposta intensa. O público valorizou determinados aspectos da história mais do que eu esperava, como o envolvimento com drogas, a relação da Beth com a mãe”, contou o diretor. A abordagem real, não saudosista ou contemplativa, também ajudou a dialogar com os jovens. “É sempre um desafio, mas não acho que eles não passam o dia pensando sobre essa fase da vida e foi isso que quis mostrar”, disse.

As próprias intérpretes se identificaram com a história e concordam. Bárbara acredita que o longa será bem-aceito por pessoas da mesma faixa etária. “Quando falei que tive medo era justamente pela pegada trash, sem filtro. Mas, depois que assisti, vi que não aconteceu em nenhum momento, ficou sensacional em todos os aspectos, trilha, fotografia, edição. Fazer um filme sobre três meninas poderia ter ficado machista, mas virou um trabalho de qualidade. Acho que o público vai gostar muito”, analisou ela, que mergulhou intensamente em sua personagem. “Ela é meu oposto. Tem uma agressividade na forma de falar e se portar. Eu fui à shows de rock vestida de Milena. Me infiltrei, colhi o que achava interessante e vivi aquilo como se fosse meu nicho. Ela é fantástica e tem muitas características que eu adoraria ter, como a espontaneidade, de fazer o que quer independente de julgamentos e preconceitos. A Milena é transgressora, gosta de se comportar como a sociedade diz que não pode e esconde a própria fragilidade dentro de uma casca”, disse.

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Carina, Beth e Milena descobrem juntas as dificuldades da fase que vivem (Foto: Alexandre Berra)

Além das telas do cinema, a história poderá ser vista pela internet em outros formatos. Alex Medeiros, que é um diretor experiente em webséries, adiantou que cinco episódios exclusivos de making of serão disponibilizados nas redes. “Desde o início sempre soube que teria que ter um trabalho forte com a internet. Como o filme é independente, preciso confiar na repercussão dele na web. Além dos episódios inéditos, a Paris Filmes fez uma campanha legal que já está na nossa fanpage”, disse ele, que comparou a experiência de seu primeiro longa à de produzir conteúdo online. “O processo foi muito artesanal, com equipe pequena. Essa forma tem tudo a ver com a internet. Eu sempre tive planos de fazer um longa e estou muito realizado com esse filme, desde o processo até o resultado. Pretendo fazer outros, mas não é uma guinada de agora só fazer cinema. É orgânico. Eu faço audiovisual e vejo como uma forma ampla. Não penso em me limitar”, garantiu. Nós, do site HT, já estamos ansiosos para conferir essa história de perto.