*Por Brunna Condini
A atriz Gabriela Moreyra entrou no elenco de ‘Salve-se quem puder’ na reta final da trama que deve retornar à grade da Globo em março. Ela já terminou de gravar como Aurora, uma diplomata que vai se relacionar com Renzo, personagem de Rafael Cardoso. Depois de uma grande interrupção da novela por conta da pandemia e de vários casos de Covid-19 no elenco, as gravações da novela foram concluídas em dezembro seguindo os protocolos para a proteção das equipes. Novos tempos, novos modos de fazer. Gabriela afirma que seguindo as regras precisou se preparar para a personagem remotamente e aprender a se produzir sozinha para as gravações. E menciona que todo o processo foi bem solitário e o período de isolamento social chegou a abalar sua saúde emocional. “Na verdade, o mais difícil, principalmente em nosso trabalho que é de muito contato, foi o manter a distância. Cheguei a ter crises de ansiedade. Tudo incerto, o medo do desconhecido, medo de perder as pessoas. No início da pandemia foi bem difícil, mas depois consegui me adaptar e acredito que tudo vai dar certo”.
“Acredito que o mais desafiador tenha sido começar a gravar nesse momento tão atípico que estamos vivendo. Foi bem diferente estar sozinha no camarim. Tive que readequar a forma como trabalho, fazer minha própria make, meu cabelo e até mesmo me acostumar em não ter com quem conversar, mas seguimos os protocolos e me sinto privilegiada de estar trabalhando com o que amo. Além disso, fico feliz de poder levar um pouco de entretenimento para as pessoas neste momento”.
A carioca, que atuou em produções da Record por mais de 10 anos antes de ir para a Globo, em 2018, fazendo parte do elenco de ‘Segundo Sol’, admite que ficou com medo de retomar o trabalho apesar de todos os cuidados para evitar o contágio: “Mas tudo foi feito com tanto planejamento e segurança que me senti segura para gravar. Conheço pessoas próximas que pegaram Covid, tiveram sintomas leves e saíram dessa muito bem, mas é tudo muito sério”. Sobre sua personagem afirma: “A Aurora tem uma força que me identifico, é forte como eu. Também aprendi muito com ela. Tenho uma certa dificuldade em focar em atividades que não envolvem meu trabalho, já a Aurora é focada em tudo na vida e venho aprendendo a desenvolver isso em mim também”, detalha.
E como muitas pessoas durante a pandemia, ela também vem sendo obrigada a recalcular a rota. “Apesar de ter vários projetos em andamento, com o que estamos vivendo, tudo mudou. Mas pretendo voltar a colocar planos em prática, como por exemplo, viajar para festivais com o filme “Para Além da Memória”, do diretor português Miguel Babo e quem sabe, ganhar o prêmio de melhor atriz no London International Motion Picture Awards (LIMPA) pelo qual fui indicada”, torce.
Protagonismo e antirracismo
A atriz de 32 anos ficou conhecida do grande público ao protagonizar a novela ‘Escrava Mãe’, na Record, que vem sendo reexibida. “É muito gostoso relembrar essa personagem. A Juliana foi muito importante para a minha carreira e também para mim. Foi a partir dela que me reconheci como uma mulher preta, consegui enxergar fora da minha bolha e estudar mais sobre o assunto. Essa personagem é essencial também para refletirmos sobre pautas importantes em nossa sociedade, por isso, ver que a reprise da novela vem se destacando em audiência é muito significativo”.
O que mais te tocou ao viver essa personagem? Como você se posiciona na luta antirracista? “Viver a Juliana me marcou principalmente como pessoa e te afirmo que não foi um processo fácil. Infelizmente vivemos em um país muito desigual. O Brasil é um país que foi colonizado, foram séculos de escravidão que geraram um grande atraso para nossa sociedade e sofremos com as consequências até hoje. Ainda venho estudando muito sobre a luta antirracista e quanto mais eu aprendo mais eu a defendo, mais eu tenho a certeza de que precisamos sim falar e mostrar que o racismo existe, principalmente no Brasil”.
Gabriela também admite que a trajetória ficou mais desafiadora após viver uma protagonista lá atrás. “Existe uma cobrança e no início foi difícil lidar com isso, mas eu vivo para a arte, da minha arte, e quando tenho oportunidade de interpretar papéis tão representativos como a Aurora faz tudo valer a pena”. E acrescenta sobre a paixão pela profissão: “Quero poder cada vez mais interpretar papéis que possam inspirar a nova geração, que possa de alguma forma impactar a vida das pessoas”.
HT quer saber:
O que sempre falta na sua casa? “Silêncio”.
A primeira atitude que toma ao chegar ao trabalho? “Preparar a bancada com o que preciso, conferir a quantidade de trocas de figurino e repassar o texto”.
Uma bebida: “Vinho tinto”.
Uma frase: “A abundância entra na minha vida de formas surpreendentes e milagrosas”.
Um disco: “Michael Jackson, Thriller”.
Uma mania: “Pedir para as pessoas me coçarem”.
Um defeito: “Objetividade leonina que pode ser interpretada como grosseria (risos)”.
Um medo: “De perder pessoas que amo”.
A próxima viagem: “Itália”.
Lugar preferido no mundo: “DisneyWorld”.
Com o que se preocupa? “Que a Covid não acabe”.
A doença do século: “Falta de empatia”.
Desafio na profissão: “Lidar com a inconstância que é a vida do artista”.
Quem você gostaria de ser se não fosse você: “Um pássaro”.
O que falta realizar na vida? “Proporcionar aos meus pais tudo que já fizeram por mim”.
O que mais te perguntam? “Ei, você é atriz, não é?!”
Um lugar no mundo? “Angra dos Reis”.
Ser ou não ser…como se traduziria hoje? “Apenas seja, seja você”.
O que falta entender nesta vida? “Muito. Estou sempre em busca de aprender mais sobre a vida”.
Um livro: “Quem tem medo do feminismo negro”, da Djamila Ribeiro.
Politicamente correto é…”Ouvir antes de falar”.
O que ainda é tabu hoje e não deveria ser? “Postar fotos do próprio corpo nu e ser julgada por isso”.
O que não deveria ter acontecido na história da humanidade? “A dominação entre povos, aniquilação cultural”.
Em momentos tão difíceis, como encontrar a paz? “Respire e inspire, por favor”.
Se pudesse mudar algo em você, o que seria? “Foco em outras coisas que não sejam apenas trabalho”.
Melhor conselho que já ouviu e de quem? “Não precisa chorar…tudo na vida tem jeito, só não tem jeito para a morte (meu pai disse)”.
Qual foi a maior extravagância que já fez na vida? “Fui passar dois meses em Nova Iorque para estudar e fiquei seis”.
Se pudesse viver a base de um alimento, qual seria? “Feijão”.
O maior pecado gastronômico? “Comida é sempre bem-vinda (risos)”.
A cultura do entretenimento e das redes sociais bombardeiam as pessoas pela busca do prazer rápido e do sucesso. Muitos se sentem pressionados por isso, inclusive deixando o lado emocional se abalar. Como você lida? “Eu procuro não me deixar ser atingida pelas coisas negativas que acabam rolando. Procuro ser muito real nas redes, ter uma troca bacana e de energias positivas. Costumo ter essa vibe boa de volta e o que não for positivo, ignoro e sigo em frente”.
O que é a realização para você? “Estar com as pessoas que me fazem bem e poder proporcionar alegria a elas”.
Como desenvolve inteligência emocional e se preenche? “Acredito que a inteligência emocional está muito ligada em como lidamos com nossas emoções e para isso é fundamental se conhecer, se permitir ser quem você é, sem interferências de padrões ou coisas que não acrescentam na sua vida. E isso é um trabalho diário”.
Hoje, não estando felizes, muitas pessoas travam. Tem como sentir dor, mas continuar em frente? “Às vezes sim, porque precisamos seguir. Acho que o ano de 2020 nos provou isso”.
E no ano de 2021…“Desejo que possamos estar ao lado dos nossos familiares e amores, que possamos dividir o verdadeiro valor da vida, que é estarmos juntos, vivos. O que realmente importa. Que 2021 seja próspero, com a cura, com novas e antigas possibilidades e com os ensinamentos que 2020 nos deixou”.
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