Gabriela Moreno, atriz da série ‘DNA do Crime’, da Netflix, ser top 10 no exterior: “Nossa arte é mais valorizada lá fora”


Gabriela Moreno está no elenco de “DNA do Crime”, série da Netflix que é baseado num crime real – um grande assalto ocorrido na fronteira do Paraguai e no qual os envolvidos neste intercurso foram localizados através de exames de DNA. A série pontua entre as mais vistas no mundo e está entre as 10 mais assistidas em 71 países que são atendidos pela plataforma de vídeos. Atriz também fala sobre o preconceito e a resistência às pessoas não binárias e ao uso da linguagem neutra. Namorada de uma pessoa NB, Gabi diz que o debate sobre linguagem neutra ainda pode ser alvo de polêmicas neste ano, em razão das eleições

*por Vítor Antunes

Uma das séries de maior sucesso da Netflix no mundo é “DNA do Crime“. O projeto audiovisual brasileiro dirigido por Heitor Dhalia está com números expressivos de audiência no estrangeiro e acumulou 50,8 milhões de horas consumidas e 6,5 milhões de visualizações,  entre os dias 13 e 19 de novembro. E ainda segundo a própria Netflix, a série entrou no top 10 de 71 países. Para Gabriela Moreno, atriz da série, “A nossa arte muitas vezes é mais valorizada no exterior do que aqui. Precisamos de uma formação e reeducação do nosso público, e pra isso, a valorização e incentivo por parte do governo e das mídias pra nossa arte é essencial. Infelizmente essa é uma realidade que ainda estamos em processo”. Ainda de acordo com a artista, Projetos de Lei como a PL 5.497/2019, o de “Cota de Tela”, são “de extrema importância pra difundir as obras nacionais e mudar essa realidade”. O sucesso de “DNA” garantiu a sua renovação junto à Netflix e trata sobre um tema muito em voga nos projetos audiovisuais: A ascensão do crime organizado e os crimes verdadeiros (true crimes). Para Gabi, “O gênero do true crime da forma com que é abordado em DNA, se torna ainda mais interessante, por ser baseada em uma história verídica e por nos revelar esse grande quebra cabeça que é esse sistema e a complexidade de ambas as perspectivas, tanto da polícia federal quanto quem está dentro do crime”.

Namorada de uma pessoa não-binária, Gabi  aponta que “muita coisa mudou de uns anos pra cá mas ainda acho que há um caminho longo a ser percorrido. E, sim, ainda há muita desinformação, homofobia e transfobia. As pessoas ainda estão aprendendo que gênero e sexualidade são coisas distintas. Mas a luta continua e temos que nos orgulhar das conquistas”. E ela destaca que neste ano é a primeira vez em que há deputadas federais trans, como Erika Hilton e Duda Salabert. “Pessoas LGBTQIAPN+ são essenciais na política pra transformar essa realidade brasileira, que é a de ser um dos países que mais mata pessoas LGBT+ no mundo”. A atriz ressalta o fato de que este ano tem eleições e mais uma vez, a discussão sobre o uso ou não de linguagem neutra, pode pautar os palanques políticos:

A luta por direitos básicos e políticas públicas é a mais urgente, mas não obstante, o debate sobre linguagem neutra ainda pode ser alvo de polêmicas sim. Mas creio que aos poucos vamos conquistando os espaços e ganhando essa representatividade – Gabriela Moreno

Gabriela Moreno é atriz e está no elenco de “DNA do crime “(Foto: Júlio Aracack)

LÁ NOS PRIMÓRDIOS

Antes de começar no audiovisual, Gabriela Moreno passou pelo circo. Esse fazer artístico, inclusive, é aquele onde ela mais se reconhece.”É o meu berço, minha essência. Onde eu aprendi a transformar as dores em arte, a conhecer as múltiplas capacidades que um corpo pode ter. A ter disciplina, constância, paciência, equilíbrio, flexibilidade”. Ela porém não é a unica artista da cena brasileira a ter relações com as artes circenses. Outros como Dedé Santana e Ana Rosa também iniciaram sua carreira neste segmento. Outros, como Marcos Frota, hoje volta-se somente ao circo. No passado haviam muitos circos pequenos, itinerantes e com a presença de animais, algo que hoje não é tão comum – inclusive a presença de bichos hoje é proibida. “Uma medida de extrema importância a meu ver, a retirada de animais dos espetáculos”, aponta Gabriela. Que prossegue dizendo que “Hoje em dia o circo é mais popular apesar de não ter quase nenhum incentivo público, as poucas lonas do circo tradicional ainda sobrevivem com shows um pouco mais comerciais. Já os circenses que não são de famílias tradicionais seguem trabalhando de forma autônoma”, analisa.

Gabriela Moreno. Atriz iniciou carreira no circo (Foto: reprodução/Instagram)

Tal como o circo, as artes marciais também chegaram cedo à vida de Gabriela. “Meu pai, desde pequena, me ensinava algumas coisas de defesa pessoal e luta com espadas. Eu sempre tive muito interesse e em 2022 conheci uma academia na qual me identifiquei muito com o treino. E a coincidência mais marcante foi descobrir que o meu grande mestre, Braulio Estevam, havia treinado o meu pai ha muitos anos atrás”. Ela pratica Kung Fu e Box Chinês e diz que “há muitas coisas do Kung Fu no Boxe e vice versa”.

VERDADE

Há uma tendência no audiovisual recente em se adaptar crimes ou situações reais para a ficção. Uma delas foi a adaptação de “DNA do Crime“, inspirada num crime real, um grande  assalto perpetrado contra uma empresa de transporte de valores situada em Cidade do Leste, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, no ano de 2017. A diligência conduzida pela Polícia Federal conseguiu discernir o perfil genético de mais de cinquenta indivíduos participantes, contribuindo, assim, para a resolução do mencionado episódio. A série foi criada por Heitor Dhalia, que também é diretor-geral, além de Bernardo Barcellos e Leo Levis e conta com produção de Manoel Rangel e Egisto Betti. “Foi uma experiência maravilhosa adentrar esse universo do true crime (crimes verdadeiros), que eu sempre gostei muito. Trabalhar em uma série de ação exige muito do nosso físico e psicológico, estar preparada pra isso foi muito importante. Esse é um gênero que vem crescendo e se modificando ao longo do tempo também. Já tivemos muitas produções com esta narrativa, porém, realizadas de outras formas, e que também é um retrato da nossa sociedade”.

Gabriel Chadan, Gabriela Moreno e Douglas Sampaio em “DNA do Crime”. Série está no Top10 Brasil da Netflix (Foto: Reprodução)

Para este ano, Gabriela diz “pretender continuar trabalhando com audiovisual e teatro, porém, alçar novos vôos. Começar a escrever roteiro é um deles e encontrar novos desafios dentro do que eu faço me instiga muito também”. Para tal, lança mão de uma música de Milton Nascimento. Equivalência em ser cais e mar, solidão, solidez e coragem em lançar-se: “Para quem quer me seguir, eu quero mais. Tenho o caminho do que sempre quis e um saveiro pronto pra partir. Invento o cais e sei  a vez de me lançar”.