*por Vítor Antunes
Desde 2016 fora das novelas, a sua última foi “A Lei do Amor“, na Globo, Gabriel Chadan foi lançado em “Malhação“. Segundo ele, hoje a soap-opera jovem que a TV exibia não se adequa mais ao mercado da TV aberta e soaria anacrônico. “Acho que hoje não cabe mais, pelo menos na televisão. A linguagem tem que ser para o jovem, sem caretice, falar sobre os assuntos que permeiam a vida da maioria dos jovens reais”, aponta. Sobre voltar aos folhetins de televisão, ele sente saudade. “Quero voltar a fazer sim, em algum momento. Fiquei oito anos na Globo direto, e quando saí de lá fui convidado a fazer uma série internacional da Disney, “Juacas”. Estava com vontade de ter outras experiências no audiovisual e as plataformas de streaming internacionais foram uma ótima oportunidade para isso”.
O streaming tem sido um caminho interessante e importante aos atores, especialmente àqueles que não querem ficar reféns dos convites da televisão. Gabriel Chadan não apenas está de volta numa série do streaming, a “DNA do Crime“, do Netflix, como se lançou como comunicador através do podcast “Criatividade Elástica “, sobre processos criativos e altas habilidades/superdotação. Segundo o artista, a ideia de fazer um podcast sobre esse assunto surge da necessidade haver “papos mais aprofundados sobre processos criativos de pessoas que admiro, seja na arte ou não. Essa curiosidade sobre tudo que envolve a magia da criatividade e da inovação moveu a criação do projeto”. Sobre “DNA do Crime“, que vem repercutindo positivamente, a segunda temporada já foi confirmada pela distribuidora.
Além do trabalho como ator e do podcast, Gabriel também pode ser visto sob outro matiz, o de cantor. Rapper, ele está inserido em um dos mercados musicais que mais ascende no Brasil, que é o do rap/trap/funk, que, segundo ele, é fruto de “um trabalhão de décadas feito por Thaíde, MV Bill, Racionais MC’s, Sabotage (1973-2003), Negra Li e Rzo entre outros, como produtores, DJ, grafiteiros e B-boys fortalecendo toda a cultura Hip Hop, e a da periferia.
O gênero ainda sofre preconceito, claro, mas quem passou pelos grandes desafios mesmo foi a galera da antiga, que abriu terreno para hoje termos grandes artistas representando a música e dominando o mercado, como Djonga, L7, Froid, Tasha e Traice, Winnit, Drica Barbosa, Flora Mattos, entre outras que continuam na luta para abrir mais caminhos e espaços”.
NOS SEUS LUGARES
Gabriel Chadan está na série “DNA do Crime”, da Netflix, que trata, também sobre o crime organizado e seus reveses. Segundo o ator, que vive Cauã, “a série em si, é uma obra de ficção baseada em fatos reais, então não tiro ela como uma referência direta para essa análise sobre o crime no Brasil, que é algo complexo. Se tem um ponto que eu acho interessante é o de mostrar o topo da pirâmide, de que o crime não está está só nas ruas. Ele está também nos sistemas jurídicos, na política, nas empresas privadas… E se perguntar o que e quem causa todo esse caos e violência, e sempre trabalhar para vivermos num lugar mais justo para todos”. O ator nos assegura que haverá a segunda temporada da série, porém ainda não há um grande detalhamento sobre esta fase do produto.
Creio que há muito dinheiro investido em segurança , armamento e pouco, muito pouco, para educar e dar condições para o povo brasileiro. Isso vai desde a valorização dos professores, às estruturas das escolas, alimentação e moradia de qualidade. Na missa visão, enquanto existir tanta desigualdade haverá violência. A educação e o amor são os caminhos pra isso. Creio que tudo, ou quase tudo vem da educação, que é relegada a último plano, quando deveria ser o primeiro – Gabriel Chadan
Além da série do Netlix, Gabriel está lançando o “Criatividade Elástica“, podcast sobre pessoas com altas habilidades e/ou superdotadas. O tema surgiu “primeiro por gostar muito do formato de pessoas conversando de verdade sobre assuntos que realmente interessam, além disso, trazer para o público um pouco de inspiração e questionamentos. Falar sobre o caminho, mais do que sobre resultados, bem como levar informação e inspiração para as pessoas seguirem suas vidas de forma mais potente”. Para a temporada 2024, Gabriel aponta que o programa será ao vivo. Para o ator, ser artista é sua alta habilidade “Qualquer profissão executada com excelência precisa de alta habilidade. E no sentido amplo, não só como um talento ou facilidade em executar. Todo trabalho de estudo, aperfeiçoamento, auto-conhecimento, dedicação e disciplina. Vários fatores que influenciam diretamente o resultado. Assim como um médico ou jogador, um artista precisa trabalhar muito bem essas camadas para fazer sua arte. Apesar da parte abstrata do nosso trabalho, grande parte dele é concreto, diário e trabalhoso”.
Há sete anos afastado do gênero telenovelas, quando fez “A Lei do Amor“, o ator diz sentir falta. “Quero voltar a fazer sim em algum momento. Fiquei oito anos na Globo direto. Estava com vontade de ter outras experiências no audiovisual e as plataformas de streaming internacionais foram uma ótima oportunidade para isso. Estou adorando essa experiência com essas produtoras, mas sim, tenho muita vontade de voltar a fazer novelas, é muito divertido mas também demanda muito tempo”. Lançado em “Malhação“, perguntamos se um produto assim faz falta no dia de hoje e como ele lida com a soap, que por vezes era alvo de preconceito da crítica especializada:
Acho que hoje não cabe mais, pelo menos em TV aberta. A linguagem tem que ser para o jovem, sem caretice, falar sobre os assuntos que permeiam a vida da maioria dos jovens “reais”, como o contato com ilícitos, puberdade, sexualidade, conflitos familiares, amor, violência… Acho que a TV aberta não tem esse espaço e essa liberdade – Gabriel Chadan
Ainda sobre o assunto, ele diz que “em contrapartida temos um mercado muito potente no streaming, que tendo mais liberdade consegue se comunicar com os jovens e família de pontos mais reais e reflexivos, como as séries “Sintonia”, “Euphoria” e “Elite” por exemplo. Então acho que nesse sentido os conteúdos feitos para jovens são mais relevantes e interessantes hoje. “Malhação” foi um presente, amei fazer e realmente mudou minha vida. Eu acho que isso passa na cabeça de qualquer um que participou. Primeiro porque somos muito jovens, esse foi nosso trabalho de estreia e isso gera esses pensamentos sobre o futuro. Porém, aos poucos a gente percebe que aquela é só mais uma parte do trabalho, que a profissão se faz no dia-a-dia e que vai muito além de estar numa novela”.
O BRANCO E AS CORES
Marcadamente um gênero musical preto, o rap/trap/funk tem revelado alguns artistas que, a contrário, não são negros. Perguntamos a Chadan se, ante ao fato de ele ser branco, foi visto como privilegiado e/ou alvo de preconceito. E ele respondeu de pronto: “Não existe racismo ou preconceito reverso! Ainda que eu seja um cara branco, trago todos os privilégios que isso implica. O Rap, o Hip Hop é uma arte, uma manifestação artística do povo preto. Tenho que respeitar, entender a história e, de alguma forma, dentro do que posso, servir ao movimento para que as informações cheguem. Entendendo meus limites, fico aprendendo e aperfeiçoando meu olhar, principalmente entendendo e respeitando a história e os espaços. Mas a música é para todos e todas, só temos que saber nosso lugar”.
Longe da questão étnica e das cores sociais, o arco-íris de possibilidades que a paternidade oferece. Pai de Gaia, 5 anos, ele diz o que muda na vida de um homem ao ser pai. “Minha filha é meu amor. A primeira grande primeira mudança foi com minha mulher Ana Terra Blanco, incrível, grande artista e pessoa que me ensina dia a dia, sobre respeito e amor. Isso foi potencializado por minha filha. O olhar, sobre as estruturas machistas, as minhas atitudes e padrões. Sou muito grato por ter essa experiência com elas e poder crescer um pouco a cada dia, e através delas, ser um homem melhor”.
Créditos:
Styling: Samantha Szczerb
Artigos relacionados