*por Vítor Antunes
“Bandeira pouca é bobagem“, diz a música tema de “Elas por Elas“, atual novela das 18h. Porém, audiência pouca nunca é bobagem. E no caso da trama de Alessandro Marson e Thereza Falcão, a novela vem atingindo índices baixíssimos, verdadeiros recordes para o horário. Marcou 10.4 pontos de média – ainda que tenha chegado a ter 9.2 pontos – no dia 6 de dezembro. Ainda que não seja possível estabelecer a média final da novela, até agora ela marca 15,5 pontos. Por mais que a amostragem de audiência varie ano a ano, o que se reflete nos pontos, a atual novela a ocupar a lanterna entre as tramas com menos telespectadores, é “Nos Tempos do Imperador” (2021) – coincidentemente, dos mesmos autores. A novela protagonizada por Selton Mello foi a primeira inédita a ser levada ao ar nos últimos momentos da pandemia, e, ainda assim, não cativou o público. O folhetim atingiu 16,9 pontos de média. Acima, portanto, do atual número marcado em “Elas por Elas“.
O grupo de discussão da Globo, que analisa o rendimento e recepção das tramas, apontou que o tom afetado de comédia, a confusão entre as sete protagonistas, a suposta falta de história em Taís (Késia), a rejeição a Helena (Isabel Teixeira) e ao casal Ísis (Rayssa Bratillieri) e Giovanni (Filipe Bragança) foram dos fatores que impulsionaram a baixa adesão à trama, assim como a inadequação ao horário. Não são poucas as pessoas que dizem que trama se encaixaria muito melhor no horário das 19h.
A faixa das 18h sempre atraiu historias mais românticas ou adaptações de clássicos da literatura. Tramas ingênuas como “A Gata Comeu“; urbanas como “História de Amor” e versões literárias como “Sinhá Moça” repercutiram muito positivamente. No caso de “Sinhá Moça“, o folhetim foi bem tanto na versão protagonizada por Lucélia Santos (1986) como naquela liderada por Débora Falabella (2006). Porém, outras tantas ocuparam o índice de audiência mais baixa do horário, assim como ficaram com o histórico da baixa repercussão, encurtadas e pouco vistas. Exemplos seriam “O Amor Está no Ar” (1996), “Sabor da Paixão” (2002), “Gente Fina” (1990), e “Agora é Que São Elas” (2003). Três meses depois da estreia, “Elas por Elas” tende a entrar nesse rol dos produtos que não empolgaram faixa do início da noite. Telespectadores apontaram-nos outras tramas do horário das 18h que, na opinião deles, também deram errado, tanto na questão da audiência como pelos equívocos narrativos, que acabaram justificando o baixo Ibope.
Elas por Elas (2023)
Para a telespectadora Maria Emma Serrano, de São Paulo (SP), que é engenheira de produção, a mais equivocada das novelas das 18h é, justamente, “Elas por Elas“. E sua fala, em muito se coaduna com a do grupo de discussão da trama: “O horário de ‘Elas por Elas‘ tinha que ser o das 19h. Tramas das 18h são geralmente históricas ou espíritas”. A seu ver, os adaptadores também são inadequados. “Deveria ser a Maria Adelaide Amaral. Ela entende bastante das novelas do Cassiano Gabus Mendes (1929-1993), já que foi colaboradora em duas outras tramas do autor, além de haver feito dois remakes de suas obras, “Anjo Mau” (1997) e “Ti-ti-ti” (2010). Em ambos os casos as novelas fizeram mais de 30 pontos. Ainda para Serrano, a ecsolha das protagonistas também não foi feliz. “Deveriam ser, em sua maioria, veteranas”.
Nos Tempos do Imperador (2021)
A produtora multimídia Lari Lovisi, de Curitiba (PR) – que é uma das debatedoras do podcast Novelesco – sinaliza que a novela mais “errada” da abertura da faixa vespertina é “Nos Tempos do Imperador“, igualmente já citada por nós. Para ela, esta trama foi “Equivocada na abordagem dos temas, especialmente por haver sido exibida naquele momento final da pandemia. A fotografia soturna não tinha a leveza que o período de exibição pede”.
De Quina Pra Lua (1985)
Jornalista, professor do curso de Radio, TV e Internet, Pesquisador de televisão e diretor do Museu Brasileiro de Rádio e TV, Rodolfo Bonventti, de São Paulo (SP) aposta em “De Quina Pra Lua” (1985), de Alcides Nogueira. “O texto era muito fraco e colocaram a Elizabeth Savalla em uma fria, fazendo par com o Agildo Ribeiro (1932 – 2018) – excelente comediante mas não tinha nada de galã de novela. Eva Wilma (1933-2021) também sofreu [para fazer este trabalho] e em uma entrevista disse que ‘foi uma novela para esquecer’. Fracasso de audiência total”.
Sol Nascente (2016)
Já citada por nós em outra ocasião, no que diz respeito aos equívocos na representação do povo asiático, “Sol Nascente“, de Walther Negrão, foi a trama lembrada pelo vendedor Rodrigo Cunha, de Sorocaba (SP). “Pra mim, esta novela se enquadra nesta categoria não só pela audiência baixa, mas pelo conjunto da obra, a escalação da protagonista, o desserviço com o yellowface do Luís Melo, a falta de respeito da direção com o autor, fazendo-o alterar as características da protagonista para encaixar a escalação equivocada da Giovanna Antonelli, que definitivamente não precisava daquele papel, e que substituir a Dani Suzuki, que faria a personagem principal. Já há tão pouca representatividade na TV e a Globo dá essa bola fora com boas atrizes que poderiam render boas protagonistas”. A crítica de Rodrigo ao “yellowface” diz respeito à caracterização que transformou o ator Luís Melo, descendente de indígenas, em oriental.
Negócio da China (2008)
Gil Marcel é roteirista e stroyteller, além de ser um dos criadores do podcast Novelesco e seu âncora. Para Gil, a novela que ocupa esse lugar é “Negócio da China“, escrita por Miguel Falabella em 2008, “uma novela que, além de confusa – numa mistura de temáticas que não fluía – tinha uma proposta de ação que não dialogava com o horário. Ainda teve problemas visíveis de escalação de elenco e o posterior afastamento do Fábio Assunção, o que deixou o triângulo amoroso principal, que já pouco funcionava, sem norte. Sem falar que o texto do Miguel Falabella, mais solto e escrachado, não combinou nada com a faixa.
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