* Por Carlos Lima Costa
Neste início de 2021, ano que o mundo deposita esperanças de que seja o início de uma nova era, a atriz Flávia Monteiro revela que além de enfrentar a Covid-19, que atingiu o marido, o empresário Avner Saragossy, e a filha, Sophia, precisou superar um conflito interno. “Tive crise de ansiedade, vira e mexe me vem, sinto falta de ar, taquicardia e palpitação. Na época, estava sem contrato. Aquela coisa de falar ‘meu Deus, em casa com minha filha, me aproximando dos 50 anos, passei a repensar a vida, que projeto vem pela frente, o que eu quero fazer, é com isso que eu quero continuar’, sabe”, desabafa.
E acrescenta: “O mundo mudou muito com internet, redes sociais, imediatismo, agilidade. A tecnologia agilizou a nossa vida, mas demandou muito para a gente. Você tem que fazer tudo, controlar tudo e acaba não fazendo, nem controlando nada. Comecei a trabalhar isso na terapia. Vira e mexe me vem. Mas agora, vem um dia e passa, tipo quando fico pilhada, aí da um curto-circuito.”
Hoje, sabe que não foi uma antecipada crise dos 50, que vai completar somente em julho de 2022. “É a projeção do futuro, que legado eu quero deixar, era e continua sendo um momento de reflexão bem profunda, de quais foram os sonhos realizados, de como me conduzi até aqui, do que não quero abrir mão.”
Antes de vivenciar este processo, ela havia trabalhado 12 anos na Record, onde participou de produções como Vidas Opostas, Milagre de Jesus, Ribeirão do Tempo, Conselho Tutelar, Apocalipse e Plano Alto. “Fiz ótimos trabalhos e bem ecléticos. Quando meu contrato acabou, em 2018, pensei que 2019 seria um ano sabático, dando atenção para a família e me estruturando”, explica ela. Mas, como contou, teve a crise.
Novidade profissional aconteceu em outubro de 2019, quando a Record a convocou para interpretar a parteira Aya, mulher de Charur (Paulo Goulart Filho), a partir do 12º capítulo de Gênesis, que estreia agora, em janeiro. Ela é quem fará o parto que trará ao mundo Abraão, filho de Amat, vivida por Branca Messina, protagonista da fase Terá, ao lado de Ângelo Paes Leme. “A novela está tão bonita, fiquei orgulhosa de fazer esta personagem tão centrada. Resiliente, fica ali cuidando de todos”, ressalta. Quando a quarentena começou, ela havia gravado 90% das cenas e teve seu contrato que era de quatro meses, estendido até janeiro de 2021. Sua parte das gravações foi concluída recentemente entre outubro e dezembro.
Quando a quarentena começou, pessoalmente, achou que fosse ser fácil. “Sou canceriana, adoro ficar em casa. Então, não senti esse aprisionamento, mas meu marido sofreu, ele é ativo, empresário, o Haz Restaurante teve que permanecer fechado. Conseguimos manter os funcionários, mas foi difícil no quesito financeiro. Depois disso, a parte do delivery que não era forte no empreendimento, acabou se intensificando”, conta.
O ano de 2020 acabou sendo de muito aprendizado. Na questão do homeschooling, ela conta que Sophia se adaptou bem com as aulas através da internet. “Mesmo assim, eu me cobrava muito, não sei se foi porque fiquei com muitas funções, lavando, faxinando, cozinhando, passando, cuidando da filha. Virei mãe multifunção, uma mulher polvo, tinha que dar conta de tudo. Aí mais uma vez tive crise de ansiedade, sensação de taquicardia. É dia, bate, quando você tem que dar conta de tudo e não dá conta de nada. Acho que sou exigente demais comigo mesma”, reflete.
Nesse período, mudou algumas coisas no cotidiano. “Até para não entrar em pânico, procurei não ligar a TV para não acompanhar os noticiários, brinquei muito com minha filha, assistíamos desenhos. Já que tivemos que ficar em uma bolha, na bolha eu fiquei, caso contrário tudo ficava mais intenso. Esse período, foi mais uma oportunidade que tive para repensar valores no geral. E tentar transformar isso em coisas boas, em mudanças, aprendizados. As pessoas precisam ser mais solidárias, cuidar das outras”, acrescenta.
Em outubro, um novo susto. O marido começou a apresentar sintomas da Covid-19, três dias de forte dor no corpo, febre não muito alta, calafrios, perdeu o olfato. “Antes de ter certeza do que era ele já ficou isolado em um quarto. Chamamos o laboratório para fazer exames e meu marido e minha filha testaram positivo, eu não. Foi assustador, fiquei muito preocupada. Graças a Deus, na Sophia os sintomas não se manifestaram. Eu não tive, nem entendi como, porque eu e minha filha vivíamos agarradas. Depois que o Avner se isolou, ela dormiu comigo, bebemos no mesmo copo”, pondera ela, que mesmo assim fez quarentena. E acrescenta que sua irmã, sua sobrinha e a sogra também tiveram a doença.
Enquanto o marido e a filha se recuperavam, Flávia voltou a apresentar o quadro de ansiedade. “Sou ligada no 220, fico irritada ou fico mais sensível, chorosa, dependendo do meu estado aciona essa chave. Aí paro para respirar, dou uma desacelerada e aos poucos tudo melhora. No momento, estou bem.”
Aos 48 anos, ela mantém um espírito jovem. “Vou fazer 50 com cabeça de 12 (risos). De certa forma, a idade pesa na questão da responsabilidade. Mas assim, com a minha filha continuo dando cambalhota, fazendo micagem. Claro, que no futuro, por exemplo, não vou poder ser uma mulher de 60 usando minissaia. Mesmo que me sinta bem (risos), tem coisas que não cabem mais”, aponta.
E é, principalmente ao lado de Sophia, único fruto de sua relação de dez anos, que deixa aflorar seu espírito jovem. “Eu entro em piscina de bolinha, tenho uma alma infantil. O nascimento da minha filha foi uma transformação, a concretização de um sonho da Chiquititas, quando de certa forma tive filho no país inteiro”, lembra a intérprete da professora Carolina, na novela do SBT, que conquistou as crianças de todo o Brasil, em 1997. ”
Sophia nasceu após duas gestações interrompidas. “Minha filha é parecida comigo não só fisicamente, mas no astral, na personalidade. Me vejo muito na Sophia. Dizem que filho é a nossa evolução. Sei que eu aprendo muito com ela.” Quando a herdeira nasceu, Flavia estava prestes a completar 43 anos e apesar de apaixonada pela maternidade, não se empolgou em ter mais um. “Preferi ficar quieta. Criança é uma bênção, mas existe uma demanda de dinheiro. No Brasil é tudo muito caro, então, preferi ficar somente com ela para oferecer o melhor. E prefiro estar inteira, com energia superdisponível para ela”, conta. Ela tem ainda um enteado, Pedro Saragossy, de 24 anos.
Com o mesmo espírito, apesar de ver a sua volta muitas mulheres em busca desenfreada pela juventude, pretende continuar sem plásticas. “Essa harmonização que muita gente tem feito, eu chamo de desarmonização facial. Ninguém fica bem com aquilo. E sou medrosa para procedimentos estéticos, tenho pavor. A sorte é que tenho cara de menina. Tomo cuidado para não ficar com cara de maracujá de gaveta. Sou a favor do botox, mas já não faço há uns três anos, coloquei para algumas personagens e uma vez para a própria vida, no meio das sobrancelhas. É que franze demais no meio da testa”, explica, às gargalhadas. E prossegue: “Tenho preguiça dessas obrigações femininas. Acho bonito quando assume a idade. As pessoas tem que tomar cuidado com os excessos, senão quando vê já se transformou em algo que não se conhece mais”, alerta.
Agora, em 2021, Flavia quer dar andamento a projetos pessoais. “Mas em primeiro lugar, quero saúde. Sem ela, não vou nem à esquina. E não só a saúde física, mas a mental também para encarar esse novo ano que a gente não sabe bem ainda o que vai acontecer. Pode ser que seja mais difícil, pode ser que tudo seja mais fácil com a vacina. Temos que estar preparados para viver em mens sana in corpore sano”, observa ela, que quando tudo passar, deseja concluir o documentário Ana Botafogo – Uma Vida na Ponta dos Pés, que vem produzindo já faz alguns anos.
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