O programa “Tá no Ar”, idealizado por Marcius Melhem e Marcelo Adnet, é revolucionário. Não por criar uma nova forma de fazer humor, por tentar reinventar a roda do riso ou por descobrir novos talentos. O “Tá no Ar”, que teve seu último programa da temporada exibido nessa quinta-feira (16/04), é genial por rir de si mesmo, da emissora que o produz e de todas as idiossincrasias que a gente se depara ao zapear pelos canais de forma aleatória.
Depois de colocar, em programas anteriores, Rogéria para contar histórias bíblicas, criar a Galinha Preta Pintadinha, que se utiliza de canções infantis para divulgar as religiões afro brasileiras, zoar a Velha Surda da “Praça é Nossa”, do SBT, Amaury Junior, da Rede TV!, transformar Jesus Cristo em rapper e criar um militante revoltado que “invade” o programa para falar “verdades” sobre a própria TV Globo, a trupe do “Tá no Ar” foi além neste último episódio.
Para começar, o programa declarou que era em homenagem aos 50 anos da emissora e lançou “somos obrigados por contrato a dar parabéns”, antes de exibir um compilado de imagens desta cinco décadas, que incluiu Glória Maria em uma montanha russa nos anos 80, Sandra Bréa, Chacrinha, Bussunda, Xuxa e muitos outros momentos que eram apresentados naquele estilo picotado do programa, como se estivéssemos trocando de canal. Ah, e claro, teve o momento Silvio Santos cantando, quadro já clássico do programa, enquanto a imagem reproduz o canal de áudio das TVs por assinatura. Desta vez, “Silvio” soltou a voz em “Um Novo Tempo”, aquela música de fim de ano da TV Globo, em que todos os artistas cantam junto fazendo uma coreografia. Hilário, metalinguístico e ousado.
Mas não parou por aí. Marcelo Adnet, Marcius Melhem e Danton Mello recriaram uma cena de “Irmãos Coragem”, com participação especial do comendador de Alexandre Nero; Welder Rodrigues voltou com sua ótima paródia de Marcelo Rezende, no “Jardim Urgente”, tratando de um caso de uma garotinha que fugiu da apresentação da aula de teatro da escola, a amada Galinha Preta Pintadinha transformando músicas do Balão Mágico em pontos de macumba, um Globo de Ouro da Morte, apresentado por Marcius Melhem e Isabela Garcia, com Leoni cantando em meio a um Globo da Morte, e assim por diante.
Mas, sem dúvida, o ápice do programa, que derrubou a internet e colocou o programa nos Trending Topics não foi um, foram dois. O primeiro, Antonio Fagundes dançando e dublando “Não se Reprima” dos Menudos, com uma roupa justa, roxa, brilhante e uma bandana na cabeça e o clipe final, cantado por Simone Mazzer, parodiando “Brasil”, de Cazuza, que era a abertura de “Vale Tudo”. Na nova versão musical, ouvia-se coisas do tipo “não nos colocaram no horário nobre porque o nosso galã é o Adnet”, “porque na TV, para dar Ibope, tem que ser malhado ou emagrecer”, “tem que ter anões em programas bizarros ou virar herói reformando carro”, “eu já vi jogarem bacalhau em pobre e debate editado para me convencer”, “vi TV nascer bancada por dízimo correndo atrás para passar o plim plim”, “Brasil, a TV é um negócio que vive do seu ócio”. Tá bom ou quer mais?
Mais, queremos muito mais. Queremos poder continuar rindo da gente mesmo, vendo os atores rindo deles mesmo e a própria TV, sempre com sua aura de intocável, permitindo fazer chacota de si, dos seus erros e suas discrepâncias. Queremos mais humor politicamente incorreto, menos fórmulas engessadas e mais inteligência. Queremos mais temporadas de “Tá no Ar”, vida longa à liberdade de se fazer o que quiser na TV e mais momentos de diversão que nos fazem pensar. Em entrevista ao “Vídeo Show”, aliás, Adnet disse exatamente o que defendemos com unhas e dentes por aqui também: “eu acho que, na verdade, o preconceito é quando você exclui um assunto. Quando você fala de tudo, trata todo mundo igual. Então, a gente tenta falar de tudo porque acreditamos que o Brasil precisa de debates, de debater ideias”.
E não estamos sozinhos. Foi uma enxurrada de celebridades – inclusive algumas zoadas, como Luciano Huck – pedindo a permanência do programa. A hashtag #FicaTáNoAr foi a mais compartilhada por horas. Pelo sim o pelo não, o que nos resta é esperar pela volta – que pode demorar um ano.
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