FESTOLIPAN: Prestes a estrelar a minissérie “Dois Irmãos”, Bruna Caram diz: “O moralismo atual me entristece”


A atriz, cantora e poetisa fala sobre a carreira musical, o trabalho na nova trama das 23h, da Rede Globo, e se mostra contrária às críticas em relação às personagens gays de “Babilônia”

A partir dessa semana, você, leitor, terá no Site HT o “Festolipan”, onde poderá conhecer sempre um nome que está dando o que falar na cultura ou na área do entretenimento, seja uma atriz, uma modelo, um diretor, um cantor ou qualquer outra pessoa que esteja bombando sangue novo nas engrenagens do país. E, para estrear esse novo espaço, batemos um papo com Bruna Caram, a atriz, cantora e poetisa que participará da minissérie “Dois Irmãos”, novo lançamento da Rede Globo previsto para o segundo semestre.

Com direção de Luiz Fernando Carvalho, em história baseada no livro homônimo de Milton Hatoum, “Dois Irmãos” narra a vida de uma família, dividida pela rivalidade de dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar, vividos por Cauã Reymond. A trama começa com a morte da matriarca da família, Zana (Eliane Giardini), e segue atravessando as décadas e a evolução desses personagens fortes que trazem tanto o melhor quanto o pior da dinâmica familiar. No elenco, já estão confirmados nomes como Juliana Paes, Carmen Verônica, Maria Fernanda Cândido, Ary Fontoura, Emílio Orciollo Netto, Antonio Calloni, Letícia Sabatella e muitas outras feras. No meio desse furacão estelar está Bruna Caram em sua estreia como  atriz televisiva.

Bruna Cara interpretará Rânia em "Dois Irmãos", nova trama das 23h da Rede Globo (Foto: Reprodução)

Bruna Cara interpretará Rânia em “Dois Irmãos”, nova trama das 23h da Rede Globo (Foto: Reprodução)

Mas Bruna é muito mais do que uma atriz iniciante. Ela é também uma cantora nata, que conviveu com a música desde menina através de sua família e já tem três discos lançados, com uma carreira bem solidificada, diga-se de passagem. Ela é poetisa e acabou de lançar o livro, “Pequena Poesia Autoral”, através da editora Rogério Balzan. Sim, a moça transpira arte até no modo de falar e sorrir quando perguntada sobre as cogitadas cenas de “incesto” que ela protagonizaria com Cauã Reymond (já adiantando o assunto: não vão rolar).

Bruna Caram – “Será Bem-Vindo Qualquer Sorriso”

HT bateu um papo com Bruna sobre seus mil e um talentos performáticos, como foi ser convidada para “Dois Irmãos”, o que acha da nova onda do pseudo-politicamente correto que tem atacado produções como “Babilônia” e todo seu (en)canto musical. Vem com a gente:

HT: Quando você decidiu que queria trabalhar com música e artes em geral?

BC: Na verdade, eu sempre falo que não decidi ser cantora, porque eu já trabalhava com isso desde pequena. Como minha família tem uma grande conexão com esse mundo – o [grupo musical] Trovadores Urbanos foi criado pela minha tia -, eu entrei com nove anos nesse mundo. E continuei brincando de cantar, até quando fui convidada a gravar meu primeiro disco [“Essa Menina”, 2006]. Mas, o que me fez pensar em seguir a carreira como profissional foi quando li a biografia da Elis Regina. Eu tinha 15 anos. Sempre gostei das “cantatrizes”, como Maria Bethânia, Elba Ramalho, Carmen Miranda, Dalva de Oliveira… Carrego muito essas referências no meu jeito de pensar e agir como cantora. Além do mais, na música, eu tenho uma grande influência do jazz e do soul, de gente como Aretha Franklin.

Bruna Caram – “Flor do Medo”

HT: Como foi fazer a transição de cantora para atriz? É algo em que você sempre pensou?

BC: Eu fazia aulas de teatro desde o meu segundo disco [“Feriado Pessoal”, 2009]. Convidei a [atriz] Cris Ferri, que educou a minha maneira de agir no palco. Não era nada profissionalizante e isso se refletiu no meu jeito de cantar. Eu sempre tive vontade de estudar teatro para tornar mais forte o meu lado cantora.

HT: Qual foi sua primeira reação quando atendeu o telefone e era um convite para trabalhar como atriz na nova minissérie da Globo?

BC: Fiquei super feliz e muito surpresa. Na verdade, me chamaram para fazer um teste, não fui confirmada logo de cara. Tive quatro dias para chegar ao Rio de Janeiro e aprender o poema que eu teria que interpretar para a audição. Mas quando eu vi que era um projeto do Luiz Fernando Carvalho – sou muuuuito fã do Luiz e de tudo o que ele faz – e vi o tamanho da oportunidade, devorei o livro [de “Dois Irmãos”] em três dias, decorei o poema do teste e senti que tinha ido bem. Depois, foi tudo muito rápido e muito lindo: lá, no estúdio, me senti desde o começo como uma criança que quer aprender tudo!

HT: Como está sendo conciliar as duas carreiras?

BC: Por enquanto, consegui continuar com os shows da minha atual turnê. E, felizmente, quando fui chamada para a minissérie, já estava em uma época em que o volume de apresentações tinha diminuído, então não tive muitos problemas de agenda. Até porque, não vejo problema nenhum em trabalhar todos os dias. Ai, ficar cansada agora não rola! (risos) Já estava gravando um single para as rádios e terminado um outro para o próximo disco, um deles produzido pelo amado Zeca Baleiro.  Então estou tentando adiantar o processo ao máximo. Minha ideia é terminar a minissérie e entrar com tudo no estúdio.

Bruna Caram (centro) posa com o elenco de "Dois Irmãos", em foto publicada no Instagram da atriz. Na legenda: "Jantar-brimo-da-firma ontem ❤️❤️❤️ Depois do longo árduo lindo dia de gravação! #DoisIrmãos #miltonhatoum #LuizFernandoCarvalho + Cauã [Reymond],Emilio [Orciollo Neto], [Antonio] Calloni, Ju [Paes, Êli Jardini

Bruna Caram (centro) posa com o elenco de “Dois Irmãos”, em foto publicada no Instagram da atriz. Na legenda: “Jantar-brimo-da-firma ontem ❤️❤️❤️ Depois do longo árduo lindo dia de gravação! #DoisIrmãos #miltonhatoum #LuizFernandoCarvalho + Cauã [Reymond],Emilio [Orciollo Neto], [Antonio] Calloni, Ju [Paes, Êli Jardini

HT: Conte um pouco sobre Rânia, a sua personagem em “Dois Irmãos”.

BC: Rânia é a irmã dos dois irmãos do título, vividos por Cauã Reymond. Ela é uma presença misteriosa, quase invisível, além de uma mulher muito calada, então ninguém sabe o que ela está pensando ou o que ela quer. Vive trancada no quarto, tanto que no livro ela é descrita como “um ser enclausurado”. Mas, ao mesmo tempo em que é solitária, ela é uma pessoa muito guerreira, que cuida da grana da família toda e a que mais trabalha na casa. Ninguém sabe direito o que está pensando e o que quer, vive se trancando no quarto. Ela carrega um peso muito grande, é muito atormentada, mas eu estou apaixonada pela personagem. Na minha teoria, ela é até feminista sem saber, porque é muito independente e faz o papel de “homem da casa”.

HT: Como é exatamente essa relação entre ela e os irmãos? É verdade que rolam cenas de incesto?

BC: Não, não vão rolar cenas de sexo. Pelo menos não até onde eu li no livro e no roteiro.  Existe, sim, uma certa paixão dela pelos irmãos, e uma sensualidade entre eles três, que você acaba pensando: ‘será que isso não está demais?’. Mas não passa de uma relação passional e exagerada. As cenas são bem sutis.

HT: Algumas pessoas já andaram julgando a trama por causa desse suposto incesto que, como você diz, nem existe. Como você se sente com esse tipo de pseudo-moralismo? “Babilônia”, por exemplo, tem sofrido muitas críticas por causa do casal vivido por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg.

Bruna Caram posa com Cauã Reymond: "Bastidores da preparação: Três irmãos em dois! Rânia, Omar e Yaqub ❤️❤️❤️ #DoisIrmãos #miltonhatoum #LuizFernandoCarvalho", diz a legenda no Instagram

Bruna Caram posa com Cauã Reymond: “Bastidores da preparação: Três irmãos em dois! Rânia, Omar e Yaqub ❤️❤️❤️ #DoisIrmãos #miltonhatoum #LuizFernandoCarvalho”, diz a legenda no Instagram

BC: Olha, confesso que é algo que chega a me incomodar, principalmente porque a minissérie nem foi ao ar ainda. As pessoas já partem para essa relação violenta, a partir de algumas reportagens que elas leram. O que me deixa triste é que nós estamos trazendo um clássico da literatura brasileira para as telas, uma história maravilhosa que, pode até não ser moralmente correta, mas, com certeza, as pessoas vão se identificar se chegarem com o peito aberto. Me entristece todo esse moralismo. As relações que o Milton inventou são as mesmas de todas as famílias, mas o autor exagerou para transformar em algo trágico. Talvez o grande problema seja que eles se amem demais. E, sobre “Babilônia”, as personagens são gays e mostram um amor tão terno que não entendo qual é o problema.

HT: Você lançou esse ano seu primeiro livro de poemas, “Pequena Poesia Autoral”. É uma vontade que você sempre teve?

BC: Esse ano aconteceu muito de os meus outros lados não-cantora virem à tona e parece que eu enlouqueci (risos). Na verdade, aprendi a escrever em casa, com a minha mãe, e nunca havia pensado em lançar um livro de poesia. Mas, há alguns anos, terminei um relacionamento longo e comecei a postar poesias avulsas no Instagram. Nessa brincadeira, comecei a escrever muitos poemas curtos: algo pop e fácil de ler, principalmente para os jovens. O que me deu mais coragem foi pensar que a poesia é um gênero literário meio abandonado.

HT: Seu disco mais recente se chama “Será bem-vindo qualquer sorriso”. O que não será bem-vindo na sua vida?

BC: Intolerâncias e preconceitos. Moralismos sem razão de ser. Trânsito! (risos) E o desrespeito a qualquer pessoa, principalmente à mulher.