*Por Simone Gondim
Quem vê Fernanda Machado relaxada e sorridente ao lado do marido, Robert Riskin, e dos filhos Lucca, de 5 anos, e Leo, de 9 meses, nem imagina o quanto esse período de pandemia tem sido tenso para a atriz. Em meio ao distanciamento social, a paranaense passou por uma gravidez que exigia cuidados, seguida de um parto difícil e um pós-parto ainda mais complicado, sem poder contar com a ajuda dos pais – ela mora nos Estados Unidos desde 2014, enquanto o pai e a mãe vivem no Brasil. “Em dez meses, só saí de casa para me consultar com o médico e ir ao hospital ter o Leo”, revela. “Passei por uma gestação difícil sem ter meus pais comigo. Meu marido faz de tudo por mim, mas é aquele momento em que você precisa da sua mãe e do suporte emocional dela”, admite.
O mês anterior ao primeiro lockdown em Santa Barbara, cidade onde a brasileira reside com a família, coincidiu com a descoberta de que ela tinha placenta prévia, condição em que é recomendado repouso para a gestante. “Minha médica falou: você precisa de repouso absoluto, mas sei que isso não é real. Não adianta eu dizer para uma mãe que tem um filho de 4 anos fazer repouso absoluto”, lembra a atriz. “Moramos em uma casa grande, com piscina, e suspendemos todos os prestadores de serviço por causa do coronavírus. Eu tentava limpar o básico, fazia um pouquinho e parava. Meu marido me ajudou muito, mas ele trabalhava o dia todo”, acrescenta.
O balé e a prática de yoga foram os grandes aliados de Fernanda durante a gravidez, permitindo equilibrar o repouso com as tarefas domésticas e os cuidados com Lucca. “Conheço muito bem o meu corpo. Fui bailarina durante anos, faço yoga há bastante tempo e dou aula. Então, fui sentindo até onde podia fazer um pouquinho e descansar. É claro que dava medo e não foi fácil, mas a gente tira forças do além quando é mãe”, conta a atriz.
A yoga, aliás, é algo do qual a paranaense não abre mão. Geralmente, ela aproveita a soneca da manhã do filho caçula, providencia algo para entreter o mais velho e consegue praticar de 30 a 40 minutos. “É superimportante para a minha saúde mental e física. Quando estava de repouso e a pandemia começou, tinha parado. Mas, depois de um mês trancada em casa, conversei com a minha médica. Falei: olha, conheço meu corpo, terei que voltar. Algum tipo de yoga, mesmo que seja de leve. Realmente, não consigo estar bem se não estiver fazendo yoga. É um remédio para a cabeça e o corpo”, afirma. “Ao terminar minha prática, faço uma meditação de, pelo menos, três a cinco minutos. Isso é o que me mantém saudável emocionalmente”, completa.
Embora tenha tomado a segunda dose da vacina contra a Covid-19 em 5 de março, a atriz não se sente segura para viajar. “Não sei se conseguirei entrar em avião tão cedo, mesmo tomando a vacina”, confessa. Dias antes, em suas redes sociais, Fernanda lamentou a morte de uma tia que morava no Brasil, vítima de Covid-19, e citou sua participação em um estudo clínico nos Estados Unidos, que analisa o leite humano após a mulher tomar a vacina. “Sinceramente, ainda não consegui nem celebrar o fato de que já estou vacinada, participando de uma pesquisa superimportante. Infelizmente, perdi uma tia para esse vírus terrível, e a nossa dor ainda é imensa. Enquanto milhares de pessoas estiverem morrendo por conta desse vírus, meu coração vai seguir apertado”, escreveu.
O aleitamento materno é uma das prioridades de Fernanda, mas ela assume que não é algo fácil. “Minha mãe não conseguiu me amamentar e sei o quanto foi difícil para ela. Eu vivia gripada, minha imunidade ainda hoje é muito baixa. Botei na cabeça que queria muito poder amamentar e, de repente, fazer com que meu filho tivesse uma imunidade melhor do que a que tive na infância”, explica. “Sem informação, apoio e suporte é quase impossível superar os desafios da amamentação. Muita gente desiste na primeira mastite e eu compreendo, é complicado mesmo”, reconhece.
A atriz sentiu na pele a diferença de ter suporte durante o período de aleitamento. “Quando o Lucca nasceu, fiquei encantada com esse superpoder que é amamentar. Como o teu corpo pode gerar leite para o teu filho. Ainda acho isso incrível”, emociona-se. “A cidade onde moro tem muita rede de apoio para amamentação e eu me senti muito bem amparada. Consegui amamentar o Lucca por três anos e seis meses. Os benefícios que vejo nele são incríveis: nunca tomou antibiótico na vida, se pegou duas ou três gripes foi muito. Quando ele pega, passa pela gripe rapidamente, são dois ou três dias e já está ótimo. Normalmente, eu pego dele e fico super mal”, observa.
Com Leo, o processo foi mais turbulento. Fernanda não sabe o motivo, mas o fato é que demoraram a identificar que o caçula tinha restrições orais – língua presa e freio labial – que atrapalham o bebê na hora de mamar. “Foram cinco meses sem saber o que estava acontecendo, eu tinha uma mastite atrás da outra. Mastite é um negócio superdifícil de você enfrentar quando tem que cuidar de um neném e um filho mais velho, porque dá 42 graus de febre, a pessoa bate o dente, é bem difícil seguir em frente”, recorda.
Para auxiliar outras mães e compartilhar o que lhe ensinaram sobre amamentação, a paranaense usa as redes sociais. “Minha vontade era dividir tudo que estava aprendendo e o quanto essas coisas me ajudaram, para poder ajudar outras mães na mesma situação. Comecei pelo Instagram, depois acabei passando para o YouTube. Tenho um canal de maternidade que está lá, meio quietinho, mas quero retomar. Muitos dos meus vídeos são sobre amamentação, basicamente dividindo tudo que aprendi e me ajudou muito na amamentação do Lucca”, ressalta. “Com o Leo, achei que seria fácil por ser segundo filho, mas na verdade foi mais difícil. Ele não ganhava o peso adequado por conta das restrições orais. Assim que tiver tempo, quero fazer vídeo de tudo que passei com o Leo, também”, adianta. “Acho superlindo quando algumas mães me escrevem dizendo que seguiram amamentando graças ao conteúdo do canal”, comemora.
A jornada de Fernanda como mãe teve outros percalços. Dez meses antes de engravidar de Lucca, ela passou por uma cirurgia para tratar endometriose. Na gestação de Leo, foi diagnosticada placenta prévia, condição que exige repouso e inviabiliza o parto normal. Entre o nascimento dos dois meninos, a atriz sofreu um aborto, com dez semanas de gravidez. “Tive um sangramento, corri para a emergência e entrei em trabalho de parto, com uma contração atrás da outra. Achei um trauma bem grande perder um bebezinho que você já ama profundamente”, descreve. “A única maneira de lidar com essa situação foi dividir meu luto com as pessoas. Fiz questão de deixar claro que esse bebezinho é parte da nossa família, ele existiu e se foi muito cedo. Não queria fingir que nada aconteceu e pensar que daqui a pouco engravidaria de novo. Foi minha maneira de honrar esse bebê”, argumenta.
Ainda na sala de cirurgia, após o nascimento de Leo, veio a má notícia: o único jeito de conter uma forte hemorragia era a retirada do útero. “A médica teve que escolher entre minha vida e meu útero. Foi ainda mais difícil porque, antes do parto, ela me perguntou se eu gostaria de ter mais filhos, pois nos Estados Unidos eles não fazem mais laqueadura, aproveitam a cesariana para retirar as trompas. Como eu e meu marido não sabíamos se iríamos querer outro filho, assinei um documento dizendo que queria preservar as trompas”, detalha a atriz. “No momento em que retiraram meu útero eu estava acordada, por causa da anestesia da cesárea, e fiquei pensando que nunca mais teria outro bebezinho crescendo no meu ventre. Depois disso, a vontade de ter outro filho foi muito grande. Acho que é um sentimento natural”, pondera. “Ainda tenho os ovários e poderia recorrer a uma barriga de aluguel, só que acho isso um pouco demais. É claro que a adoção existe e é uma opção maravilhosa, mas, por enquanto, não paramos para pensar no assunto, nossa vida está muito corrida”, esclarece.
A rotina intensa de cuidar de duas crianças é, ao mesmo tempo, prazerosa. “Estou amando ser mãe de dois. Com o primeiro filho é uma nova identidade, no segundo fica mais fácil porque você já conhece seu papel. Isso traz muita tranquilidade e o bebê sente”, assegura. “O Leo é um bebezinho supertranquilo, doce e feliz. Já o Lucca está com 5 anos, é uma idade em que entende um pouco melhor as coisas, em nenhum momento teve um ciúme muito forte. Ele tem loucura pelo irmão, desde a barriga. Quer pegar no colo e sair andando por aí, tenho que ir correndo atrás”, diverte-se.
A dupla maternidade e a pandemia deixaram Fernanda longe do trabalho. Depois de gravar, no Brasil, a segunda temporada de “Impuros”, série na qual vive a policial Andreia, ela havia sido convidada por Brian Brightly para participar, nos Estados Unidos, de um filme de baixo orçamento. “Li o roteiro e adorei, mas descobri que estava grávida do Leo. Ficaria difícil filmar na data planejada, pois o bebê seria muito pequeno. Como tudo foi adiado, vamos ver em que momento de 2021 as filmagens irão começar. Caso isso aconteça no segundo semestre, acho mais possível”, especula. “Assim que sobrar um tempinho com as crianças, quero voltar a produzir meu canal no YouTube e levar adiante o projeto de escrever um livro sobre maternidade”, adianta.
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