Fernanda de Freitas brilha em novela das 21h e diz: ‘As pessoas gostam de dar pitaco na vida alheia e com preconceito’

Erica (Fernanda de Freitas)

*Por Brunna Condini

Fernanda de Freitas tem atraído a atenção do público como a batalhadora Erica, sua personagem em ‘Um Lugar ao Sol‘. Verdadeiramente apaixonada por Santiago vivido por José de Abreu, a personal trainer é ética e mãe zelosa do pequeno Luan (Miguel Schmidt). Aliás, sua relação de ‘leoa’ com o rebento na ficção tem comovido. Na vida, a atriz é mãe de ‘filhos de pelos’, quatro cachorros, que cuida ao lado do marido, o empresário Simão Filippe, e não se sente pressionada ou obrigada à maternidade (de humanos).

“Já me considero mãe. Sou daquelas supermães de cachorro. Quando vou para algum lugar, sempre penso em levá-los. Já estou preparando minha mente, para quando viajar para fora do Brasil. Estou vendo um hotelzinho para quando for preciso. Mas é uma relação que me alimenta muito”, diz. “Em relação ao filho humano nunca tive desejo. Mais nova dizia que não queria ser mãe, fui amadurecendo e parando de dizer. Hoje tenho dúvidas, mas nunca passou pela minha cabeça a decisão. Filho biológico vai ficando cada vez mais difícil, não congelei óvulos. Agora, ser mãe não é só engravidar. Se algum dia quiser, adoção é um caminho lindo”,  revela a atriz, que em 25 de fevereiro completa 42 anos.

Fernanda de Freitas é a batalhadora Erica em ‘Um Lugar ao Sol’, apaixonada por Santiago (José de Abreu) e mãe afetuosa (Divulgação/ Globo)

Bailarina há muitos anos – ela chegou a dar aulas de balé no passado -, a atriz sempre praticou esportes, mas intensificou os treinos para a novela das 21h. E acha graça quando dizem que parece que o tempo não passa para ela. “São feições. A Cacau (Claudia Abreu) também tem feições de menina. A Fernanda Rodrigues é outra que tem mais ou menos a minha idade. O tempo pode parecer não passar para os outros, mas de pele, por exemplo, já sinto a diferença, a perda do colágeno. Mas ainda não fiz nenhum procedimento estético, acho que isso é um ponto neste lugar de aceitação do envelhecimento. Ao mesmo tempo, olho no espelho, e não gostaria de ter marcas de expressão”.

A atriz com Fiona, Nina, Zeca e Kikinho, seus filhos caninos: “Já me considero mãe. Sou daquelas supermães de cachorro. Quando vou para algum lugar, sempre penso em levá-los” (Acervo pessoal)

“Nós que fazemos TV, temos também essa cobrança do público: estética. E têm as redes sociais, as pessoas não poupam. Além dessa cobrança minha comigo, gosto de estar como me sinto bem, cuidando do corpo e da saúde. Mas como a alternativa a envelhecer não é boa, prefiro assim (risos). Está tudo certo”.

“Não fiz nenhum procedimento estético, acho que isso é um ponto neste lugar de aceitação do envelhecimento. Ao mesmo tempo, olho no espelho, e não gostaria de ter marcas de expressão” (Reprodução/Instagram)

Rompendo preconceitos

A personagem criada por Lícia Manzo está envolvida em tramas que derrubam preconceitos e levantam questões sérias, como a violência contra a mulher – sua irmã, Stephany (Renata Gaspar) sofre agressões do marido Roney (Danilo Grangheia) – Erica também tem um filho negro e faz questão de enfrentar o racismo que ele possa sofrer com coragem; e além disso, se envolve com Santiago, um homem muito mais velho e rico, suscitando olhares desconfiados de quem está no entorno. Mulher potente essa personagem. “Sim. Nunca tive um relacionamento abusivo, por exemplo, mas já tive relacionamentos que se fosse hoje, preferia não ter tido, mas não nunca fui agredida. Isso é uma sorte em se tratando de Brasil. Trazer esse assunto à tona é preciso”, aponta.

José de Abreu, Miguel Schmidt e Fernanda de Freitas: núcleo que fala de afeto e combate preconceitos (Reprodução/ Instagram)

“Sobre a relação dela com o Santiago, a ideia sempre foi passar o amor verdadeiro, sem interesse nenhum. A Lícia construiu muito bem a figura da Erica para isso, mas ainda tem muita gente com esse olhar ‘viciado’ para o preconceito. Li um livro que diz que só conhecemos nossa história, porque o homem nasceu para ser fofoqueiro. É só observar como as pessoas gostam de olhar a vida dos outros, nas redes, nos sites. E claro, é mais fácil dar ‘pitaco’ na vida das outros. Ainda somos uma sociedade muito preconceituosa, e apesar das minorias estarem ocupando seus espaços, tendo voz, estamos vivendo um momento de retrocesso, que o governo atual corrobora. Então, precisamos falar dessa discriminação de classe, de idade”.

Deborah Secco

A semelhança entre Fernanda e a atriz Deborah Secco é antiga. A atriz faz questão de esclarecer, ao contrário do que já foi noticiado, que não tem nenhum problema com isso. “Nunca fiquei incomodada de sermos parecidas. Sempre falaram que éramos parecidas desde que eu morava em São José do Rio Preto, imagina. Quando ela fez a Iris, de ‘Laços de Família’, eu ainda trabalhava como assistente de palco da Xuxa (a atriz foi uma das ‘Garotas do Zodíaco’ em 2000), e virei mais fã ainda”, conta.

A atriz e Deborah Secco: “Nunca fiquei incomodada de sermos parecidas” (Reprodução)

“Sou fã de carteirinha do trabalho dela. O que me incomodou é que muitas vezes isso era usado para comparação. Já li e ouvi várias palavras que me incomodavam, do tipo: ‘não vai passar neste teste, porque é parecida com a Deborah’. Outros diziam que eu imitava, imagina. Depois, com maturidade, deixei isso para lá e fui em busca do ‘meu lugar ao sol’ (risos). A Renata Gaspar, que faz a Sthefany na novela atual, até colocou um ‘caco’ falando da Deborah esses dias, foi divertido”.

E brinca: “Fiz com a Deborah ‘Pé na Jaca ‘(2006), mas acho que está na hora de fazer outro trabalho juntas. Podemos interpretar irmãs, temos três meses de diferença (risos). Mas, cada uma é única, tem suas histórias, sua cadência no falar, seu jeito de interpretar”.

Novo desafio

Antes de ‘Um Lugar ao Sol‘, Fernanda de Freitas vinha brilhando na comédia. A atriz esteve em todas as temporadas de ‘Tapas & Beijos’ (2011-15), foi uma das protagonistas do seriado ‘Mister Brau‘ (2015-18) e participa da nova geração da ‘Escolinha do Professor Raimundo‘. “Eu fazia mocinhas, até que o Mauricio Farias me viu no teatro e me chamou para ‘Tapas & Beijos‘. O Guel Arraes uma vez disse que tinham poucas atrizes da minha idade fazendo comédia. Talvez por isso, tenha feito tantas seguidas. Amo fazer humor, mas, em algum momento, me incomodou. Queria revezar, abrir meu leque”, recorda, acrescentando: “Mas a comédia tem uma função muito especial. Abordamos temas duros, sérios, de forma a aliviar um pouco a dor e dar o ‘recado’. Daqui a pouco já quero fazer comédia de novo. A Erica é drama, vim de uma peça que era uma tragédia e vou captar para um drama, meu primeiro monólogo”, anuncia.

Fernanda e Otávio Müller em ‘Tapas & Beijos’, série que a atriz brilhou no humor (Divulgação/ Globo)

“Vou me jogar fazendo meu primeiro solo, se chama ‘Sobrevivente’, tem muito a ver com o que estamos vivendo. O texto é da Carla Faour. Sempre pensei que quem fazia um espetáculo solo era corajoso. Fazer teatro já é muita coragem. Mas acho que está na hora de arriscar. A direção vai ser do meu parceiro maravilhoso, Arlindo Lopes. Já fizemos duas peças juntos, ‘morávamos’ no teatro. Fazíamos o ‘Ensina-me a Viver’ e um infanto-juvenil. Estamos tentando captar há algum tempo, não está fácil, mas vamos realizar”.