“Falar de ansiedade é uma forma de as pessoas verem que não estão sozinhas”, diz Débora Falabella


Sem sair de casa, atriz usa o celular e transforma a própria residência em cenário para gravar a websérie que mostra a quarentena de Dani, sua personagem no filme “Depois a louca sou eu”, cujo lançamento foi adiado por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus. “O que me admira nessa mulher é a maneira sincera de expor suas fragilidades. Passo por tudo isso que ela diz nos episódios, mas de forma um pouco mais leve”, conta

*Por Simone Gondim

Em isolamento social para tentar conter o avanço do novo coronavírus, a jovem escritora Dani passa os dias trancada em casa e divulga na internet a sua rotina. Poderia ser a vida de muita gente em tempos de pandemia, mas é a websérie “Diário de uma quarentena”, de Débora Falabella, mostrando o dia a dia da protagonista da comédia dramática “Depois a louca sou eu”, de Julia Rezende. Gravados pela atriz com um celular, usando a residência dela como cenário, os vídeos duram, em média, pouco mais de três minutos, e falam de situações como higienizar o ambiente doméstico e os alimentos, o medo de entes queridos se contaminarem e a ansiedade provocada pela Covid-19 e seus desdobramentos. “Falar de ansiedade nesse período de quarentena, em que todo mundo está passando por isso, é uma forma de as pessoas verem que não estão sozinhas”, acredita Débora.

Ansiedade, aliás, é um sentimento que a personagem e sua intérprete têm em comum, cada uma do seu jeito. “Eu me considero uma pessoa ansiosa, muitas vezes. Talvez não tanto quanto a Dani, mas acho que é algo comum desse momento do mundo em que vivemos, um lugar com tantas informações para digerir e administrar, onde tudo acontece tão rápido e a vida é corrida”, diz Débora. “O que me admira nessa personagem é a falta de filtro para falar sobre isso, essa maneira sincera de expor suas fragilidades. Dentro da quarentena, sinto mais ou menos o que ela sente, passo por tudo isso que ela diz nos episódios, mas de forma um pouco mais leve. Na websérie, o objetivo é expor todas essas sensações com tintas fortes”, acrescenta.

“Eu já fazia quarentena antes de todo mundo viver em quarentena”, diz Dani, vivida por Débora Falabella (Foto: Divulgação)

Débora conta que a ideia do “Diário de uma quarentena” surgiu a partir de um bate-papo com a diretora Julia Rezende. “É uma maneira de deixar o público curioso para assistir ao filme e aproximá-lo da personagem. Um jeito que encontramos de continuar seguindo e falando de cinema”, observa. E a audiência tem respondido bem: um levantamento da equipe mostra que, na estreia da websérie, em 10 de abril, o alcance foi de 1,4 milhão de pessoas e 800 mil views em menos de uma semana. Até o momento, são quatro episódios no ar, disponíveis nas redes sociais da atriz, da Morena Filmes e da Paris Filmes, com mais de cinco milhões de pessoas alcançadas, número de views que ultrapassa três milhões e milhares de reações, comentários e compartilhamentos. Quem assina o roteiro do filme e da websérie é Gustavo Lipstzein.

Segundo Débora, a identificação do público com Dani também é grande. “Ela revela sentimentos que, muitas vezes, as pessoas experimentam, mas não têm coragem de dizer. O jeito de pensar da personagem e a maneira como ela se coloca no mundo fazem com que o público se reconheça”, afirma. Um exemplo disso é quando a escritora dá a entender que ficar em casa não é tão ruim assim e o rigor com a limpeza é de família. “Eu já fazia quarentena antes de todo mundo viver em quarentena. O meu avô lavava a comida toda com vinagre, porque ele dizia que ‘menina cuidada não fica doente’. Agora, é só adaptar para álcool gel. Só de falar disso eu já fico mais ansiosa e começo a limpar a casa toda”, confessa Dani. Quem nunca?

Débora Falabella se considera uma pessoa ansiosa, embora não tanto quanto a personagem Dani (Foto: Jorge Bispo)

A atriz considera o isolamento social extremamente importante neste momento e reconhece que poder ficar em casa, como ela tem feito, é um privilégio, mas revela que deixar de sair não é garantia de tranquilidade. “Eu me sinto muito insegura pelo meu país como um todo, pelo que as pessoas vão passar, por quem está em uma situação mais vulnerável do que a nossa. Tenho muito medo dessa doença ser devastadora no Brasil”, declara.

Débora ressalta que faz questão de se manter informada, ainda que as notícias sejam difíceis. “Acho importante estarmos atentos nesse momento, saber quais decisões estão sendo tomadas e a maneira como a gente tem que lidar com essa situação”, garante. “Mas também tento filtrar e consumir informação de uma maneira mais consciente. Procuro tocar minha carreira e as coisas que tenho feito durante a quarentena: cuidar da minha filha, da minha casa, dos meus trabalhos e das pessoas que estão ao meu redor”, explica.

“A websérie é uma maneira que encontramos de continuar seguindo e falando de cinema”, afirma Débora (Foto: Jorge Bispo)

Outra preocupação de Débora é com os trabalhadores da área cultural que perderam fontes de renda por causa da pandemia. Por isso, ela tem ajudado um fundo chamado Marlene Colé, criado pela Associação de Produtores Independentes (APTI) de São Paulo, com apoio do Sated-SP. “As pessoas podem se inscrever para receber auxílio, mas o projeto está aberto a contribuições. Muitos profissionais vão ficar desempregados nesse período, principalmente os envolvidos nas artes cênicas, famílias inteiras que trabalham no circo, técnicos, costureiras e camareiras”, alerta. “Talvez, para esses profissionais, seja ainda mais difícil, porque o teatro, o circo, os espetáculos de música, os concertos e as óperas vão demorar muito mais a voltar por conta da necessidade do isolamento, de evitar aglomerações”, lamenta. Para quem precisar de ajuda ou desejar contribuir, basta ir ao endereço www.fundomarlenecole.com.br.

“Depois a louca sou eu” tem distribuição da Paris Filmes e é produzido por Mariza Leão, da Morena Filmes. A estreia, marcada para 23 de abril, foi adiada por causa dos riscos relacionados à Covid-19 e ainda não tem nova data definida. Mas o longa-metragem não foi o único projeto da atriz a ser interrompido. “Todos estamos sendo obrigados a uma pausa forçada para um bem maior. Estava gravando a segunda temporada de “Aruanas” e tinha alguns projetos no teatro, mas acho que, no momento que estamos vivendo, o melhor a se fazer realmente é parar e esperar o que vai acontecer. Claro que isso é frustrante, mas também precisamos ter consciência e compreender que estamos passando por uma guerra silenciosa, uma crise mundial, e esse isolamento precisa ser cumprido. No meu caso, tenho o privilégio de ficar em casa e aguardar um trabalho para o qual já estava contratada”, conclui.