Fabio Porchat fala sobre tema do especial de Natal do ‘Porta’, do futuro do seu programa e do que sente medo

*Por Brunna Condini

Estamos em temporada de festas, senhores! E o final de ano não é igual sem o especial do Porta dos Fundos. Já virou tradição para quem não tem medo do humor afiado, como quem tem do lobo mau, não é mesmo? No filme deste ano, que estreia dia 21, somente no streaming, no Paramount+., o coletivo não satiriza mais o lado religioso do Natal, e aponta sua câmera e criatividade para o ‘Bom Velhinho’. O ‘Porta’ mata Papai Noel na maior, sem direito à Noite Feliz. “Agora todo mundo pode assistir o especial de Natal, sem deixar a avó católica de lado (risos). Mas podemos voltar a fazer esquetes de religião, por que não? Estamos no nono especial, ano que vem será um especial bem especial, podem aguardar”, diz Fabio Porchat, sobre a produção que até traz Jesus no início, mas meio chateado, porque não faz parte dessa vez. “É diferente fazer terror, porque você precisa acreditar mais do que o normal. Atuar de um jeito bem verdadeiro. Precisam acreditar que você está morrendo, matando, com medo”.

Nos últimos anos, o especiais do coletivo tiveram manifestações polêmicas como reação. Incluindo um atentado à bomba na sede da produtora no Rio de Janeiro, em 2019. O especial ‘A Primeira Tentação de Cristo‘ foi o primeiro a ter muitos processos na Justiça e, de todos eles, o ‘Porta’ saiu vencedor. Sentiu medo de continuarem batendo na mesma tecla? “Como conteúdo, sim. Ficar fazendo piada em torno de algo que já fizemos muito. É bom mudar, sair do esperado para não ficar na piada de uma nota só. Não temos problema em tocar no tema religião, mas foi bom fazer uma coisa diferente, bom para não se repetir”.

Se estiver dentro da Constituição Brasileira, sim. Podemos fazer piada com tudo e com todos – Fabio Porchat

Fabio Porchat e Antonio Tabet são casal no especial de Natal do Porta dos Fundos (Divulgação)

Mais atento do que nunca ao destino político do país – inclusive tendo aderido à campanha para eleger Luiz Inácio Lula da Silva -, ele arrisca dar um nome para os últimos quatro anos de governo Jair Bolsonaro. “Com certeza, seria ‘O Predador‘. É de arrepiar. O Lula ter sido eleito me deu alívio, uma sensação de que a Terra vai voltar a ser redonda, sabe? Vamos poder voltar a confiar em vacinas, e não vamos ficar mais nos preocupando diariamente com maus-tratos, descasos, fake news que incitam ódio e violência. Acho que no fim das contas vamos poder respirar mais aliviados”. E acrescenta: “Acho que é fundamental continuar com essa relação estreita que eu desenvolvi com as pessoas nas minhas redes sociais. Precisamos conversar, ouvir. Entender que tem gente diferente e que acredita em outra coisa. Claro que existe o criminoso, o maluco, o cara que defende o nazismo. Com esse eu não quero papo. E esse é um momento ótimo. Voltamos a ter a bandeira do Brasil, sai o estrelismo. Vamos continuar cobrando do novo governo, mas não terá tanto ódio por trás. Precisamos retomar os laços, as conversas”.

“É bom mudar, sair do esperado para não ficar na piada de uma nota só” (Divulgação)

Investindo no terror ou melhor, ‘terrir’, o especial traz referências do gênero e o humorista divide aqui o seu filme preferido do estilo. “Eu adoro ‘O Iluminado‘. É uma junção de tudo ao estado máximo. É o Stanley Kubrick (1928-1999) fazendo um terror psicológico e de espírito, inspirado em um livro de Stephen King, que é um cara brilhante para escrever esse tipo de coisa, com o Jack Nicholson sublime. A trilha sonora é extraordinária. Tudo uma perfeição. E, no especial, em uma singela homenagem, começamos o filme com aquela cena dos carros indo para a Serra, fazendo uma alusão ao início de ‘O Iluminado‘, que tem os carros subindo a montanha para o hotel”. Nada afeito à superstições, ele entrega o que lhe causa medo: “Olha, tenho um medo meio irracional, que é de ventania. Quando estou em casa e começa a ventar forte, balançar cortina, mexer móvel, me dá uma angústia grande. Acho que é o mais perto que consigo chegar de alguém que tem algum tipo de pânico”.

Ele fala do novo especial do ‘Porta dos Fundos’ e do futuro do seu programa (Foto: Pedro Dimitrow)

Controlador assumido, Porchat diz que embora a direção não seja a sua praia, gosta de acompanhar de perto todo o trabalho de filmagens para a realização dos vídeos. “Sou o chatíssimo do set (risos). Como roteirista também fico cobrando que todo mundo fale o texto que foi pensando. Uma piada a mais, algo diferente, pode matar a piada que vem na frente. E isso serve para a piada visual também. Se o cenário não estiver como tem que estar. Neste especial, fiquei em cena para cuidar que o conteúdo fosse o mais engraçado e assustador possível. Acompanho desde o nascimento da ideia até o último corte”, conta.

Cena do especial de Natal do ‘Porta dos Fundos’: “O Espírito de Natal” (Divulgação)

Daqui para frente

Depois de um período longe dos palcos, Porchat voltou à cena com o espetáculo ‘Histórias do Porchat‘, no qual fala de forma divertidíssima das suas curiosas histórias de viagens. Após temporada de sucesso no Rio de Janeiro, ele segue viagem. “Em fevereiro faço uma turnê na Europa, com oito países. E de março a julho estaremos no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado, em São Paulo”, divulga.

Sobre o ‘Que História é Essa, Porchat?’, que está em sua quarta temporada, ele anuncia: “O programa tem mais uma temporada confirmada ano que vem, no GNT. Serão mais 40 episódios, e uns 20 devem ser exibidos na Globo. Estreamos em março. São quatro anos de programa, mas só em 2019, no de estreia, fiz como pensei. Em 2020 ficou remoto, em 2021 não tinha plateia, agora, em 2022, tem plateia, mas metade com máscara. Então, em 2023 vamos fazer como pensamos originalmente. O programa vem com tudo. Das pessoas que ainda sonho levar tem o William Bonner, que me prometeu que vai. A Renata Vasconcellos também. Eles devem ir em dias diferentes. Paolla Oliveira já me disse que tem história para contar. Também quero Chitãozinho & Chororó no programa e Luan Santana. O mundo sertanejo ainda não foi e preciso dele lá”, diz.

O apresentador anuncia nova temporada do ‘Que História é essa, Porchat?’ (Divulgação)

“Tem muita história para ser contada no programa ainda, muita gente para ir lá, e também gente que já foi e tem mais histórias para contar. Isso é o bom desse programa, ele não tem fim. Enquanto tiver gente com história boa, tem programa”. E revela os planos pela frente: “Tenho o desejo de tirar um ano sabático e ficar viajando pelo mundo. Falando de trabalho, pretendo criar uma série para a TV aberta, e um programa de rádio de viagens ou um podcast. Também quero ir à África fazer shows”.