*por Vitor Antunes
Fábio Mássimo é ator desde muito jovem. Sua primeira novela foi em 1972, “Bicho do Mato“, quando atuou aos 12 anos. Nesta entrevista, o ator fala com sinceridade sobre como estabeleceu sua trajetória artística desde então. Tem um olhar crítico ao fato de ter sido astro mirim e pondera sobre haver ingressado tão precocemente na profissão: “Perdi a minha infância (…). Tive os estudos muito prejudicados. E era levado por um forte temperamento, pois não tinha tempo para brincar e estudar e, por vezes, era tirado da cama a uma hora da madrugada para gravar os capítulos que seriam exibidos para a Censura”.
De igual maneira, o ator fala sobre o seu aparente ocaso. Diz-nos que “achava que meu sucesso nunca ia acabar. Não tinha psicológico para entender que o meu futuro estava ali. Não esquentava a cabeça, não tinha preocupação e achava que sempre haveria dinheiro”, reconheceu, após um AVC isquêmico, transitório, que acabou trazendo-lhe alguma limitação de movimentos. “Sigo em tratamento”, diz ele, esperançoso. Atualmente, o artista mora em Volta Redonda, cidade do interior fluminense, cerca de 130km da capital. Ele não faz uma novela inteira há alguns pares de anos. Sua última participação foi em “A Lua Me Disse” (2005).
Em tratamento fisioterápico para poder reabilitar uma sequela à caminhada, o ator conseguiu uma licença médica e vive dos proventos da Previdência Social. Diz estar escrevendo dois textos de teatro e sendo sondado por uma rede de televisão. Possui um canal no YouTube onde ministra técnicas de interpretação, além de, nesse ínterim, haver ministrado aulas de teatro para autistas e deficientes intelectuais. Também já deu aulas no DEGASE [Departamento Geral de Ações Socioeducativas], órgão carioca voltado a ressocialização de menores infratores, interrompido na gestão de Luiz Fernando Pezão como governador do Rio.
Mássimo sonha voltar à mídia: “Sinto falta de estar em projetos na TV, já sofri muito… Antigamente eu ficava decepcionado, deprimido… Como pode um ator que fez tantas novelas não fazer mais nenhuma? Mas hoje isso passou. Lido naturalmente, estou muito melhor com relação a mim, ao meu talento, mais orgânico com as pessoas e podendo ensinar muito bem. O meu trabalho de direção é muito bom e isso tem me garantido. Eu não saberia ser outra coisa eu me formei como ator e sou apenas isso”, comenta.
Além desta questão, Mássimo aborda um drama familiar. Há anos rompido com seu filho, o também ator Eduardo Spinetti. Fábio lamenta a ruptura dos laços, a despeito de terem tido uma relação pouco sólida: “Eu percebi que ele queria ser ator. Incentivei e, tecnicamente, ele era muito cru. Apresentei-o aos diretores da TV, gravamos um videobook e a avó dele conseguiu entregar o material ao Aguinaldo Silva“. Spinetti compôs o elenco de Império (2014).Pouco tempo depois da trama, e especialmente durante a reprise da novela em “Edição Especial” em decorrência da pandemia, ambos estiveram no centro de uma disputa de versões sobre suas relações afetivas. Sobre o trato com Eduardo, Fábio lastima: “Não nos falamos”.
A PATOTA E AS PATOTAS
A estreia de Fábio Mássimo aconteceu há 51 anos, na Globo. Ele morava perto da emissora, no Jardim Botânico, Rio. “Eu brincava na rua e descia de carrinho de rolimã até a emissora, na Rua Von Martius. Fiz amizade com os porteiros da TV, que me falaram da Guta Mattos (1919-1993), diretora de elenco. Eu disse a ela que tinha vontade de ser artista e queria trabalhar. Ela achou engraçado e falou com a minha família. Foi assim que estreei na TV, no programa Comédia Especial chamado ‘O Dicionarista‘”. Depois, fui chamado para fazer “Bicho do Mato“, minha primeira novela completa, na qual eu gravava todo dia, de segunda a sábado. Quando perceberam que eu tinha facilidade para gravar textos, meu papel ganhou destaque”. Logo depois desta trama, de Chico de Assis (1933-2015) e Renato Corrêa de Castro, Mássimo esteve em “A Patota“, primeira – e única – novela escrita por Maria Clara Machado (1921-2001). Sobre esta, Mássimo diz, a contrário do que reza a historiografia da TV, que a trama possuía boa repercussão. “Eu era o chefe da patotinha. Era uma novela muito divertida. A meu ver, a novela fazia mais sucesso que “Bicho do Mato“.
Em razão de ter atuado em novelas muito cedo e muito jovem estar nos estúdios e com demandas profissionais, isso acabou sendo algo deletério. “Quanto a ser ator mirim, eu perdi a minha infância. Comecei com dez anos e eu não parava de trabalhar. Tive a infância perdida, estudos prejudicados, além de um temperamento irritadiço. Às vezes, eu era tirado da cama para poder gravar o final de capítulos que seriam entregues à Censura. Até mesmo quando os fãs me reconheciam, e eu estava tão de saco cheio por tanta coisa que eu tinha para fazer, que quando me falavam na rua eu dizia não ser eu, mas meu irmão. Eu queria me livrar do assédio dos fãs, já que eu era assediado pela novela, pela minha família… Eu tinha muita gente em cima de mim o tempo todo”. Todavia, hoje, Fábio diz que isso não acontece. “Isso tudo mudou, porém. Hoje eu amo a minha carreira, os meus fãs. Sempre procuro tratá-los com delicadeza”.
Ao pessoal que está começando hoje e que tem a idade que eu tinha (12 anos), eu posso dizer que é muito perigoso, porque os estudos ficam muito prejudicados. Trata-se de uma carreira muito volátil. Eu acredito que a pessoa quando é muito jovem tem que estudar mesmo e ter outra opção na vida. No meu caso foi o que aconteceu. Eu consegui , aos trancos e barrancos, fazer Artes Cênicas, ainda que eu já tivesse uma bagagem – Fábio Massimo
Quanto ao afastamento das novelas, ao ver de Fábio, esta começa a acontecer por uma concorrência. “Primeiro foi o Lauro Corona (1957-1989), já que naquela faixa de idade éramos só eu e ele. Percebi que o meu espaço não era mais o mesmo e comecei a fazer algum lobby para permanecer na casa. Há aquelas oligarquias de poder na Globo, turminhas, patotas e eu não me enquadrava muito nisto. Como eu já estava crescendo e me tornando um rapaz, começaram as cantadas e eu não fazia muito o jogo dos diretores. Fui me desvencilhando das panelas”, analisa.
E lastima: “Eu devia ser mais cordato. Achava que nunca ia acabar meu sucesso, não tinha psicológico para entender que o meu futuro estava ali. Eu não esquentava a cabeça, não tinha preocupação, sempre achei que entraria dinheiro e como eu era muito conhecido, fui para o SBT fazer “Razão de viver” (1983). Depois, fiquei no SBT querendo fazer outras novelas na Globo, mas as ofertas de personagem não eram as mesmas. Estas minguaram ainda mais e transformaram-se em participações. Isso tudo por que não fiz o lobby”.
Mássimo prossegue dizendo que nos anos 1990 chegou a retornar para a Globo, mas a passagem não foi venturosa. “Boni [José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, diretor da Globo] mandou me contratar fixo. Fiquei dois anos na Globo e não fiz nada de muita expressividade. Uma vez um autor escreveu um papel especifico para mim, numa novela das 19h e me convidou dizendo que eu ficasse atento, porque o diretor lançava mão de artifícios escusos para montar o cast, pois que ele não escalava atores que não se submetessem aos seus desejos. Ainda que eu fosse indicado pelo próprio autor, não fiz a novela”, diz ele, sobre uma trama famosa e nunca reprisada, dos anos 1990.
Não dei o devido valor à disciplina que eu tinha que ter e uma conduta mais favorável à expectativa dos diretores e produtores de elenco. Eu era meio retraído, meio sem graça, meio metido, eu devia ter sido mais acessível, mandar presentes… – Fábio Mássimo
TOCANDO EM FRENTE
Em 2015, quando da exibição de “Império”, o ator Eduardo Spinetti, filho de Fábio Mássimo, estava no elenco. Ambos não possuíam uma boa relação e isto foi algo que acabou repercutindo na mídia. O pai faz seu mea-culpa, e apresenta o seu lado para as questões que os envolve nesta rusga: “A meu filho eu não dei amor e carinho, não dei o que ele precisava. Eu era muito desajuizado, estava no auge do sucesso, larguei minha mulher, não tinha idade nem estrutura psicológica para lidar com ele”, reconhece. Certa vez ele pediu ajuda para que eu o ensaiasse e num dos dias eu não pude. Daí, ele foi muito deselegante e tivemos um desentendimento. Não nos falamos mais. Numa entrevista, ele fala indelicadezas como se não me conhecesse ou nunca me houvesse visto”, afirmou.
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