“Verdades Secretas”, folhetim que ocupa a faixa das 23h da Rede Globo, faz jus ao nome: escancara os calabouços da sociedade contemporânea. Tem marido traindo a esposa com a enteada, o fácil acesso a drogas ilícitas na cracolândia do Centro de São Paulo, o agenciamento de modelos para prestar serviços sexuais, aborto, relação homossexual e alcoolismo. Por muito pouco – aliás, por um selinho entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg – “Babilônia”, a trama das 21h, sofreu um boicote anunciado de setores conservadores da sociedade, como aqui noticiamos. Para entender a diferença desse cerceamento e detalhes do sucesso que é “Verdades Secretas” – a novela vem batendo recordes nos índices do Painel Nacional de Televisão -, fomos atrás de Walcyr Carrasco, o autor da trama.
Em entrevista exclusiva ao HT, Walcyr, antes de qualquer mais nada, deixou claro que não vê com tanto exagero essa reunião, no mesmo balaio, de temas tão polêmicos. “Eu não sinto que pesei a mão. Como o próprio título diz, eu quis desvendar verdades secretas da sociedade e, principalmente, do mundo do glamour”, disse. O autor paulistano, de 63 anos, foi o grande responsável por fazer da expressão – até então pouco conhecida – “book rosa” um dos assuntos mais comentados do primeiro semestre. “Eu tinha vontade de explorar o mundo do glamour e seu outro lado. Não pretendia colocar o dedo na ferida. [Queria] apenas falar sobre um assunto que me fascinava”, explicou, garantindo: “boa parte do mundo da moda me apoiou”.
Querendo levar ao horário das 23h “as relações familiares, o contato da juventude com a droga e o risco do crack”, Walcyr Carrasco, que já terminou de escrever a novela – mesmo com as gravações ainda acontecendo e o fim programado para setembro -, disse que não mudaria o folhetim em nada, caso o texto ainda estivesse em aberto. “O grande acerto é a escalação. Temos um elenco maravilhoso e a direção magnífica do Mauro Mendonça Filho”, elogiou. Mas afinal, por que “Verdades Secretas”, que aborda temas polêmicas assim como “Babilônia”, não sofreu o mesmo efeito de queda de audiência? “Eu não acho que ‘Babilônia’ tem sido massacrada pelo público”, se limitou a dizer, justificando: “Jamais responderia a uma pergunta que envolve a discussão sobre o trabalho de um colega meu, que admiro muito, o Gilberto Braga [autor da trama das 21h]”.
Mas HT insiste, já que ele fez o ator Mateus Solano beijar Thiago Fragoso na novela ‘Amor à Vida’, levando ao ar o primeiro beijo gay dessa fase contemporânea das novelas. Para Walcyr Carrasco, não há conservadorismo por parte de quem tem o controle remoto nas mãos. “Eu acho que o público gosta de assuntos polêmicos. Inclusive porque sabe que a discussão de certos temas ajuda a formar opiniões”, opinou. Polêmicas à parte, Walcyr já se prepara para voltar, dez anos depois ter escrito “Alma Gêmea”, ao horário das 18h. A trama já tem nome: “Candinho”. “”É baseada em um filme do [Amácio] Mazzaropi [ator e cineasta brasileiro] (1912-1981), o ‘Candinho’. É uma homenagem a um dos maiores humoristas brasileiros do passado”, adiantou.
Depois de tanto tempo longe do primeiro horário de novelões da Rede Globo, Walcyr ainda não sabe qual será sua postura para a faixa. “Como em todo trabalho, me atiro de cabeça e depois fico morrendo de medo, insegurança, temendo não dar certo”, admitiu. Insegurança essa que, logo, logo passa. O papo rápido termina com um questionamento que ronda os bastidores de suas novelas: “Que história é essa de você matar os personagens de atores que colocam cacos [improvisações] no seu texto? ”. “A improvisação é muito ruim, porque, frequentemente, quando o ator improvisa é por não conseguir dar ao texto as intenções necessárias do personagem. Então, [ele] inventa. O caco é uma muleta”, esclareceu.
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