Não tem mistério para Júlia Rabello: “Acho que o que define o humor é se ele é engraçado ou não”. Não importando se ele é carregado de bordões, à la “Zorra Total” ou se prefere rir de si mesmo como o “Tá no ar – A TV na TV”. “Tem espaço sempre para todos os estilos. É claro que tem épocas em que um está mais em alta do que outro, mas eles coexistem tranquilamente. A diversidade só é positiva”, opinou em entrevista exclusiva ao HT. Já quando a diferença é estabelecida entre TV paga e aberta, o papo é diferente. “O ‘Tá no ar’ é um exemplo atual de mais liberdade na TV aberta e o ‘Vai que Cola’ na TV fechada. Mas isso pensando só nas TV’s. No cinema e na internet ainda temos mais espaço para ousar. No teatro então, nem se fala”.
O raciocínio de Júlia é facilmente explicado se olharmos para trás e lembramos de sua labuta nos vídeos de humor do canal “Porta dos Fundos”, que, no YouTube e agora no Canal FOX, usa de um texto debochado para tratar de fanatismo religioso, homofobia ou para criticar bizarrices do cotidiano. Se esse é o caminho de cutucar a ferida e elucidar temas importantes da sociedade? “Não sei se é ‘o’ caminho, mas é um caminho: rir de nós mesmos, de nós brasileiros, dos nossos costumes, das nossas idiossincrasias. Isso pode até incomodar, mas faz refletir. O caminho para a mudança é a reflexão e para refletir temos que nos comunicar e a piada é a arma mais rápida para atingir a comunicação com alguém. O riso é irresistível”, analisou.
E esse tal caminho não anula, por exemplo, a função de instrumento político que o humor pode assumir vez ou outra. “O humor é uma característica humana que serve para tudo, inclusive para a política. E, como instrumento político, pode ser uma arma poderosíssima. Acho que é o termômetro da liberdade de expressão. Se querem restringir é porque querem restringir a liberdade de expressão. Se ele está livre, fazendo a bagunça dele, é porque a democracia está funcionando”, disse. Talvez por isso podemos dizer que “A regra do jogo” esteja no rumo certo. Úrsula, personagem de Júlia na trama, é lésbica numa decadente família tradicional carioca, tem uma namorada, que, por sua vez, engravidou do namorado da ex-cunhada. E nenhum sinal de chiado dos conservadores.
“Não sei se dá para analisar matematicamente a aceitação, mas arriscando um palpite, acredito que é por se tratar de um personagem de humor e que porque está inserido em uma família onde tudo o que acontece é absorvido através do amor”, buscou entender. E não só: “A trama da Úrsula é escrita com cores super leves, mesmo tendo temas que poderiam ser feitos de formas bem mais densas, pelo contexto da história, o caminho que tomamos é o da leveza”. Tudo, portanto, depende de qual objetivo João Emanuel Carneiro, o autor, quer “alcançar com a história”. “Úrsula é muito bem resolvida com a sexualidade dela. Isso não é uma questão para ela e, além disso, a família também é muito unida, apesar do discurso deles ser de desunião, a prática deles é exatamente o oposto”.
Ok, Júlia, mas o choque com um beijo gay, por exemplo, ainda carece de cuidados? “Acredito que o público primeiro tem que embarcar no que está sendo contado e se sentir contagiado pela história de amor em questão. Diante disso, acho que o beijo pode vir de uma maneira mais afetuosa”, rebateu. Contrariando os boatos de briga nos bastidores, a atriz garantiu que “o clima lá é mais divertido ainda do que o que vai para o ar” e agora se prepara para estrear um projeto no GNT. “Estamos em fase de idealização. Será um programa onde serei a apresentadora. Estamos trabalhando usando o humor ácido e discussões de temas como alicerces para nossa criação”, adiantou ao HT. Acha que acabou? Ainda tem o “Dois em um”, texto escrito pelo Marcos Veras, seu marido, e Antônio Prata e Tati Bernardi para o cinema. “É uma comédia romântica, sobre o primeiro ano de casamento e questões como dividir o mesmo teto, rotina, inseguranças…”. Coisas da vida.
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