Foi vivendo Nena em “Um namorado para minha mulher” que Ingrid Guimarães levou para casa o troféu Lente de Cristal da 20ª edição do Brazilian Film Festival of Miami. Ao lado da diretora Julia Rezende, a atriz comemorou o sucesso do longa que teve Domingos Montagner vivendo seu último papel nas telonas. Além deles, Caco Ciocler compõe o triângulo amoroso para lá de divertido. “Foi legal, porque o filme abriu a Mostra Competitiva do festival e ainda estamos em cartaz nos cinemas com essa comédia que fez muito sucesso na Argentina e tem muitas versões, mas acho que a nossa é a melhor porque tem muito humor. Eu e Julia colaboramos com o roteiro e o filme tem gerado muita identificação”, disse ela, que foi além: “Eu nunca fiz uma personagem que imaginei que as pessoas fossem se identificar tanto. As mulheres chegaram em um limite de querer falar o que pensam nesse mundo cheio de regras, de gourmets, de modas, e ninguém tem coragem de falar as coisas porque você quer ser curtido, adicionado, querido… acho que a Nena colocou para fora algo que toda mulher – toda pessoa – gostaria de dizer sobre a vida, mas se falar passa de antipático”, analisou, aos risos.
E o que foi, na opinião de Ingrid, o “quê” a mais para levar o troféu? “É uma comédia muito bonita que eu acho que não perde em nada para as comédias americanas. Tem humor, amor, e emoção. E tem essa história de que é o último filme que o Domingos lançou e vê-lo fazendo comédia, circo… é emocionante. Eu comecei a exibição aqui meio triste, chorando, mas transformei meu sentimento porque fui vendo o publico rindo muito dele e do Caco… aquele meu sentimento se transformou na alegria de tê-lo eternizado nesse papel que ele não está galã: está cafona, divertido, engraçado, fazendo o que ele mais gosta, que é circo”, contou Ingrid, que conheceu o colega durante as gravações e logo se encantou com sua gentileza e cordialidade. “É o que todos dizem. Se você for reparar, todos falam a mesma coisa do Domingos: gentil, excelente colega, que joga muito bem. É um cara daqueles tipo galã antigo… eu chamava ele assim. Acabava a cena ele sempre mandava mensagem elogiando. De um companheirismo, delicadeza, gentileza, sempre de bom humor. Um cara especial. Fui feliz do primeiro ao último dia”, garantiu.
Pois além do vencedor do festival, Ingrid apresentou outro longa em Miami. “O ‘Entre idas e vindas’ é um filme mais autoral, dirigido pelo José Eduardo Belmonte. É um road movie que tem eu, Fábio Assunção, Alice Braga, Carol Abras e Rosanne Mulholland. O legal nesse é que é a primeira vez que o Fábio faz papel do pai do filho dele e a primeira vez que o filho dele é ator”, contou ela, que foi só elogios ao João, de 13 anos. “Ele é um talento, lindo, uma graça. Teve uma superquímica com o pai. O filme é bem legal, fala de encontros e desencontros. Pessoas que através de uma viagem se encontram com elas mesmas, algo que talvez não tivessem se não vivessem aquela sensação de estrada. É um longa muito bonito, simples, barato, feito em 14 dias. O Belmonte trabalha muito com improviso, fora que é um filme autoral – que eu nunca tinha feito – e eu queria muito ter essa experiência. Ele conseguiu juntar um elenco eclético, onde cada um vem de uma escola diferente”, disse ela, que resumiu: “É muito interessante, emocionante, tem humor mas fala muito de amizade e de pessoas que tem que se perdoar pra continuar seguindo em frente na estrada”.
Pensa que acabou? Pois Ingrid Guimarães não para. “Agora vou fazer o ‘Fala sério, mãe’, meu primeiro projeto infantil/adolescente. É baseado em um dos livros mais vendidos da Thalita Rebouças e fala sobre a relação de mãe e filha. Faz muito tempo que eu quero fazer algo que se relacione com maternidade, ser mãe de menina – que é o que eu sou. O filme será dirigido pelo Pedro Vasconcellos, que dirigiu ‘Dona Flor’ agora”, adiantou ela, que, além de à frente das câmeras, também está por trás do projeto. “Eu estou assinando o roteiro junto da Thalita e do Paulo Cursino. É legal, porque minha filha vai poder ver um filme meu, que ela nunca viu, e esse fala desde quando a menina está na barriga até quando sai de casa. Começo a rodar daqui a duas semanas e a minha filha é a Larissa Manoela, uma atriz linda que é um fenômeno entre as crianças, fez ‘Carrossel’ no SBT e viaja pelo Brasil fazendo shows. Fui ver uma apresentação dela e tinham três mil meninas berrando. A Larissa é muito talentosa e querida pelas crianças e pré-adolescentes”, elogiou.
Falando nisso, a atriz, multitalentosa, anda cada vez mais colaborando nos roteiros de seus projetos. “Em ‘Um namorado para minha mulher’, eu acabei assinando o roteiro junto, escrevi as partes de rádio, da criança viajando… A verdade é que eu sempre escrevi muita coisa na vida e fui engolida pelo cinema. Esse do Belmonte eu sou coprodutora também”, disse.
Com tantos trabalhos, ainda é difícil viver de arte? “Olha, eu não posso reclamar. Me produzi desde muito cedo porque nunca tive tanto convite, então aprendi a me produzir e fiz muitos sucessos na vida, ‘Confissões de adolescente’, ‘Cócegas‘, etc… quando a galinha estava gorda guardei os ovos. É difícil viver de arte, tenho consciência que sou privilegiada. Vejo atores amigos meus que estão na luta, principalmente quem não é contratado da televisão. No teatro é difícil. Viver de arte é complicado, mas quando a vida é isso não tem como fugir. A gente não consegue, está na alma”, declarou.
Falando em crise, a próxima temporada de seu programa, o “Além da conta”, será no Brasil. “Serão lugares populares de fazer compra, vou mostrar gastando além da conta na crise, sem viajar, já que as pessoas não tem mais dinheiro para isso. Tivemos duas temporadas em Nova York e uma em Miami e a ideia era fazer em Los Angeles, outros lugares, mas não tem sentido porque os brasileiros se identificam muito e eles não estão mais viajando tanto. Vamos para lugares como a 25 de março, Bom Retiro, Saara, falar do mercado de luxo que teve que se adaptar, bazares”, contou ela, que acredita que a crise pode ter um lado bom: “Como toda crise, a arte sofre, porque infelizmente não é prioridade em momentos como esse, então temos que estar preparados para ser deixados de lado e vamos ter que nos unir pra criar maneiras de sobreviver à crise. É normal que a prioridade se dê para a saúde, a educação, mas não dá para desprezar a arte como se fosse supérfluo, ela faz parte da formação do ser humano. Acho que é nesses momentos que a criatividade do artista aflora: temos que criar maneiras de fazer nossa arte. Mas estamos passando por dificuldades de captação, ainda não tem política para cinema no Brasil, acaba que vamos agindo na sobrevivência. Os atores estão se unindo em prol de causas, criando soluções, cobrando dos governantes. O problema é que ainda está tudo muito polarizado, é feito de forma agressiva… mas enfim, a gente está em um momento radical da vida”, comentou.
Apresentando um programa de compras, dá para se controlar na hora de ir ao shopping? “Olha, eu sou muito focada e comedida. Faço programa de compra, porque quis falar sobre esse fenômeno – que já passou – que eram os brasileiros podendo viajar para fora para comprar. Mas na verdade guardo dinheiro desde novinha, não faço loucuras, tenho medo do futuro, quero envelhecer bem, penso em aposentadoria. Compro o que eu posso e vou confessar que gosto, mas desde que comecei a fazer o ‘Além da conta’ comecei a ficar muito seletiva em relação ao que compro. Comecei ver o outro lado do consumo, o que ele gera na vida emocional, ansiedade, mania, desperdício, o que gera de papel, sujeira, lixo eletrônico, valores equivocados… então hoje em dia eu tomo cuidado. Ainda vale a pena, por exemplo, comprar roupa aqui em Miami, porque é barato, mas eu presto atenção”, confessou ela, que é ligada nas causas sociais: “Eu cuido dos meus. Sempre que eu posso eu ajudo instituições ou pessoas em volta de mim que não tiveram oportunidades, que trabalham comigo. Tento dar oportunidades, fazer contrapartida social nas minhas peças e estou sempre pronta a ajudar causas que acredito”, garantiu.
E isso ficou ainda mais forte dentro da atriz depois da maternidade. “Nossa, é o antes e depois de ter filho. Nem lembro como eu era sem ela. Minha filha veio em um momento que eu já estava estabelecida profissionalmente, já era madura, não tive ansiedade, só alegria de tê-la. Hoje faço tudo em função dela, férias, aceito ou não trabalho dependendo dela. A maternidade te dá um sentido de prioridade e eu, que sempre tinha dúvidas de tudo, agora tenho muito foco. O principal é a filha e o resto a gente vai levando”.
Voltando ao trabalho: Ingrid já se prepara para uma experiência inédita nas telinhas! Ela será uma vilã em uma novela de época. “Vou ser uma atriz portuguesa casada com Chay Suede, que sai de Portugal junto da família real para tentar a vida no Brasil. O nome da novela é ‘Novo Mundo’, dirigida pelo Vinícius Coimbra, e é muito divertido porque nunca fiz novela das seis, nem de época, nem vilã, e essa é superdivertida, uma trama que fala sobre história com muito humor”, adiantou. Mal podemos esperar para ver.
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