Fazia um calor senegalês na Ilha de Vitória, capital do Espírito Santo. A fama de Ilha do Sol, aliás, nunca fez tanto sentido. Estávamos na Praia de Camburi, a maior da ilhota, onde está fincado o Hotel Costa do Sol – desativado após falência. Por ali, membros da CATI – International Police Training (treinados por um instrutor da SWAT, a polícia tática americana), muitas pistolas, metralhadoras, um grupo de meninas-atletas reféns e pseudo-terroristas palestinos. Se sua mente o levou ao Massacre de Munique, em plenos jogos olímpicos de 1972, bingo. A ideia era realmente essa. Ah, e se não bastasse surgiu uma morena à la Lara Croft de Angelina Jolie em “Tomb Raider” (de Simon West). Era Sabrina Sato. O teatral clima de pânico, terror e aflição que, horas depois, reuniria populares em frente ao hotel e pararia a avenida mais movimentada de Vitória, tinha um objetivo: gravar o especial em comemoração aos dois anos de “Programa da Sabrina”, no ar todos os sábados à noite na Rede Record.
O site HT foi o único veículo de comunicação autorizado a acompanhar todas as gravações e conversar com exclusividade com Sabrina Sato às vias de um momento importante em sua carreira. Um dia antes, ela já havia realizado treino físico, aprendido táticas de imobilização, tiro ao alvo e foi à rua exercitar a prática de progressão em área de alto risco. Na retratação do Massacre de Munique, Sabrina teve a função de salvar os reféns fazendo um rapel pela fachada do hotel desativado. Detalhe: o tempo virou em Vitória e o vento forte trouxe uma fria chuva. A japonesa – que pediu até chiclete, porque, segundo ela, alivia a tensão -, topou e foi à frente mesmo assim. Tudo em meio ao mise-en-scène com o selo Sato de qualidade. Ela, aliás, já havia previsto a mudança de tempo e chegou a sugerir uma inversão na ordem das gravações. Porque Sabrina não quer ser só uma show woman.
Ela – em total sintonia com três produtores, dois cinegrafistas e um diretor -, sugere de um tudo. “Agora eu vou tirar todas as minhas dúvidas com o Marcos do Val (fundador do grupo de treinamento que participou da gravação) para a gente colocar no começo (do programa)”, chegou a dizer. E outro momento, incluiu em sua gravação uma sugestão do produtor, atrás das câmeras, enquanto o play rodava. “Pergunta do salário do policial”, estava escrito em um quadro-negro. E ela, num jogo de cintura que você de casa nem imagina, acrescenta e segue o fluxo com uma oratória que parece ter nascido com ela. Não há direção, produção ou seja lá quem for quem tente ou que influencie esse lado de Sabrina Sato. O texto dela é natural, sai de imediato, e faz a gente até se controlar para não rir. “É melhor ser bandido magro, né gente?”, soltou, enquanto passava por uma prova de retirar algemas. Ao notar a gargalhada deste jornalista que voz escreve (a morena é atenta à tudo), ela emenda: “Vão achar que a gente é doido”.
É esse adjetivo, aliás, que seu diretor de externa usa para descrever a labuta que é gravar com Sabrina Sato: “Uma doideira”. Que a Record, por sua vez, deve estar amando. Com o “Programa da Sabrina” alcançando a vice-liderança consolidada deste sua estreia, o contrato da japonesa foi renovado por mais três anos. “A gente não está preocupado com a audiência, que é medida em São Paulo. Queremos mostrar as figuras e personalidades do Brasil como um todo. Fazemos um programa super democrático. Eu acho que a televisão hoje ainda é a fatia maior do bolo – que também tem a internet e a TV à cabo. Mas todos formam opinião. A TV, por sua vez, tem um diferencial: é popular. E o segredo é esse: você tem que ser do povo. Eu tenho que mostrar para a senhora lá em Penápolis (cidade onde nasceu, no interior de SP) que vai se divertir com o marido. Eu procuro pensar que todo mundo pode me assistir, que uma fatia grande da população vai me ver. Quero saber se o câmera está gostando, se o cara do posto de gasolina também está. Eu penso em todo mundo. O que eu quero colocar de mais chique, posto no Instagram, no meu snapchat”, explicou.
A rotina de Sabrina é ditada pelos rumos do programa. Às segundas, grava estúdio com as atrações musicais e, no restante da semana, entra no que ela chama de “turnê”. Se, nessa semana estava em Vitória, na passada bateu ponto em Aracaju e assim vai seguindo até o…Marrocos, onde ela vai carimbar o passaporte logo, logo. Tudo para preencher as quase duas horas e meia de programa. “Como é muito tempo, a gente começa com a audiência da fatia masculina, mas o nosso público disparado é feminino e acima dos 20 anos”, contou. Até chegar nesse nível, a paulista de 35 anos ralou. Foi modelo, dançarina do “Domingão do Faustão”, fez ponta na novela “Porto dos Milagres”, participou do “Big Brother Brasil 3” até chegar a apresentadora e repórter do “Pânico na TV”. “Ao longo dos quase 11 anos que eu fiquei no ‘Pânico’ recebi várias propostas de outras emissoras. Eu trabalho e aprendi muito lá. Mas tudo tem seu momento. Não se pode dar um passo maior que a perna. Eu aceitei em um momento em que precisava me reinventar, queria fazer algo diferente. E mesmo assim foram meses e meses de negociação. A própria Record fez muitas pesquisas internas e com o público. Colocaram vários nomes e meu nome saiu. Foi como se fosse sair de casa para crescer e tentar algo sozinha “, lembrou.
Tentou e conseguiu. Sabrina Sato não é mais a menina do “é verrrrrdade” (apesar de usar o bordão constantemente em frente as câmeras) que Pedro Bial nos apresentou. Muito menos aquela que cometia erros de português ao lado de Emílio Surita e sua trupe. Virou celebridade de patamar global, é a rainha das rainhas de bateria (ela reina na Unidos de Vila Isabel no Rio e é madrinha da Gaviões da Fiel em São Paulo), queridinha do mercado publicitário e o amor das editoras de revista que se estapeiam por uma capa com ela. “Desde o ‘BBB’, quando eu era uma adolescente, que vocês me acompanham. As pessoas ainda hoje ficam chocadas com a minha idade, mas é mais por causa da minha cabeça (gargalha). Eu demorei para amadurecer e em todos os sentidos. Eu fui e vou amadurecendo, mas mantendo minha essência de gostar das coisas simples, de ser mais menina, do interior”, garantiu. E procede: depois que deixou nosso encontro, zarpou para São Paulo e, ao lado do namorado Duda Nagle e de amigos como a estilista Helô Rocha e o stylist Yan Accioli, curtiu um bom churrasco em sua cobertura no bairro de Perdizes. Bem que horas antes havia nos dito: “Aos finais de semana, meus amigos me chamam para festa e eu só quero um churrasquinho em casa. Adoro tomar chope, ir para o samba. Mas eu me sinto bem tanto no samba, quanto ouvindo jazz”.
Comportamento típico de quem sempre viveu em meio à simplicidade. Nem no momento em que está, onde sua vida é manchete, Sabrina deixa de agir naturalmente. Nem quando a reportagem aponta para ela uma série de curiosos que, debaixo de chuva, saíram de suas casas só para observá-la, mesmo que de longe. Ela explica: “Em Penápolis minha vida era muito exposta. Eu andava pelada, só de calcinha (ri). Minha casa era aberta para todo mundo e eu morava no fundo de uma loja. Tudo era em volta da minha casa. Todo mundo entrava lá, era lotado de gente. Minha mãe, para você ter uma ideia, contou para todo mundo quando eu menstruei e quando eu beijei na boca pela primeira vez. Então, eu nunca tive privacidade na vida”. Mas…ela já aprendeu a jogar o jogo. “O que é bom fazer escondido, a gente faz, arruma lugar para fazer, tem nosso canto. Isso que é importante”, soltou para o desespero dos paparazzi de plantão. É esse espírito livre, leve e solto que faz Sabrina nunca querer ficar parada, buscando se reinventar. Aqui, cabe até espaço para conselho: “O mais importante na vida para você crescer é saber o momento de mudar. Por mais que você tenha medo, a coragem é bem maior”.
Enquanto o dia 2 de abril não chega – que é quando o “Programa da Sabrina” comemora dois dois anos no ar -, ela vai já fazendo planos ao nosso lado. “Penso em fazer algo para a internet, um conteúdo para outro tipo de público (além do portal que leva seu nome, recém-lançado). A gente, nessa área de comunicação, tem que sempre inovar, matar um leão por semana”. Sá, como é chama pela maioria ao seu redor – não é muito difícil se sentir íntimo da japa -, também pensa muito lá na frente. Muito mesmo. “Tenho vontade, claro, de fazer outras aventuras. Eu quero ser uma velhinha bem porreta que sai para jogar baralho com as amigas, viajar, beber cachaça e whisky”. Desde que sirva uma dose para a gente, tudo bem. Com duas pedras de gelo, Sá. Sabe como é, quem passou pela tensão de um rapel, pegou chuva e sentiu junto a dificuldade de um treinamento da SWAT, é íntimo. Nós e os sete milhões de seguidores só no Instagram. Não é, verrrrdade?
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