Há três anos se dividindo entre o Rio de Janeiro e Nova York, o ator Darwin Del Fabro recebeu, em um belo dia, uma mensagem do produtor de elenco André Reis sobre um possível papel para o artista. “Ele disse que tinha um personagem que dançava e cantava, mas não estava muito bem construído ainda. Depois de uns 2 meses, eu fiz o teste e acabei passando”, comenta, em entrevista exclusiva ao HT. Foi assim que Darwin começou a construção de Collete D’Or, a travesti performática que marca a sua estreia na TV e promete chamar a atenção em “Ligações perigosas”, a nova minissérie de dez capítulos da Rede Globo, com texto de Manuela Dias e direção geral de Vinícius Coimbra, que chega às telinhas na próxima segunda-feira (4).
A trama é baseada no clássico “Les liaison dangereuses”, escrito por Choderlos de Laclos como uma exposição crua e visceral da alta sociedade francesa de 1782, e segue o jogo de interesses de Isabel D’Ávila de Alencar (Patrícia Pillar) e Augusto de Valmont (Selton Mello), enquanto ambos tentam corromper as pessoas ao seu redor, em um esquema de luxúria e manipulação. No centro de uma das vinganças protagonizadas por Isabel, está Colette, a artista que foi expulsa de casa pelo pai por sua sexualidade e que volta de Paris disposta a humilhar o homem por seu descaso, o mesmo que tenta reviver um processo de 20 anos para destruir Isabel.
“O ritmo foi bem tranquilo, porque eu apareço em três dos 10 capítulos. Nós gravamos no Theatro Municipal, e foi tudo bem calmo. Fiquei encantado com a minha atuação ao lado da Patrícia e com a oportunidade de trazer a música junto ao trabalho. A minissérie conta com uma equipe incrível, figurinos da Marília Carneiro, e é uma junção de muita gente boa. Me sinto privilegiado”, conta Darwin para HT.
Com uma trajetória significativa no teatro, onde já participou de musicais como “O Mágico de Oz”, “Um violinista no telhado”, “Era no tempo do rei”, além de dirigir e estrear “Be careful, it’s my heart”, com músicas do icônico compositor Irving Berlin (e que resultou no primeiro disco do artista), Darwin promete fazer sucesso nas telinhas, com uma personagem que chega para quebrar a mesmice da representatividade LGBT no horário nobre. Com passagens pela New York Film Academy e a Broadway Dance Center, o ator deve conquistar o público com seu talento desenvolvido nos palcos e a verve performática, que já atraiu aplausos na coletiva de imprensa da minissérie.
Abaixo, Darwin Del Fabro fala sobre a sua composição para Collete, como foi a preparação física para tal papel, os desafios da personagem, planos futuros e até o medo (ou não) de ser estigmatizado por estrear de maneira tão forte na TV. Confira o papo completo:
HT: Como foi a preparação física para viver a Collete? Teve que perder muito peso?
DDF: Eu malho cinco vezes por semana com um personal trainer desde os 13 anos, mas para a minissérie eu entrei em um tipo de corrida da Nike, em Ipanema, porque queria estar mais magro e ganhar a delicadeza do corpo da personagem. Eu já sou magro e perdi 5 Kg, agora estou pesando 60 Kg.
HT: Houve alguma adaptação que tenha sido mais difícil para você? Roupas, salto, esmalte…?
DDF: O salto não foi difícil, por incrível que pareça, mas acredito que seja por causa da minha experiência no balé. A princípio, eu achei que seria, porque todos os sapatos são muito altos, e eu mesmo pedi que fossem assim por causa da postura. Acho que enriquece mais a personagem.
HT: Como foi o trabalho de pesquisa para a personagem? Teve algum nome no qual você se inspirou para a composição?
DDF: Recebi a notícia de que havia ganhado o papel três semanas antes de começarem os encontros, então foi tudo muito rápido e tentei correr atrás o máximo que pude. A minha grande inspiração foi Josephine Baker (1906 – 1975), uma mulher muito ousada para a sua época. O Jared (Leto, em “Clube de compras Dallas”, de Jean-Marc Vallée) também amo, porque foi um trabalho sensacional, e já estava no meu subconsciente. Fora isso, olhei muitos desfiles da Betty Lago (1955 – 2015) na internet.
HT: Como você avaliaria a Collete na trama geral de “Ligações perigosas”? Pelas prévias, ela parece ser muito amiga da Isabel (Patrícia Pillar). Podemos esperar por uma vilã?
DDF: Ela é esse menino que foi expulso de casa pelo pai, o qual está tentando voltar com um processo de 20 anos atrás contra a Isabel. A Collete foi para Paris, se tornou uma estrela, e voltou ao Rio de Janeiro para se apresentar. A Isabel fica sabendo disso e pede para a sua empregada ir buscá-la, porque sabe que isso vai afetar o pai da Collete. É aí que ela cria esse show na frente de toda a sociedade, para o pai ficar envergonhado. Elas acabam criando uma amizade meio que fundada na vontade que as duas têm de prejudicar o mesmo homem.
HT: Essa é a sua estreia na TV e, nos últimos meses, alguns atores declararam que jamais interpretariam um personagem homossexual por medo do estigma. Isso é algo que chegou a te preocupar em algum momento?
DDF: Não tenho nenhum medo e não chego nem a pensar nisso. Estou muito feliz de poder mostrar o meu trabalho e levar o canto junto comigo. A Collete não é só uma travesti, é uma personagem que também canta e dança, e estamos trazendo isso para o musical. Ela é chique, bem vestida e eu não tentei fazer nenhuma caricatura. Vergonha? Vergonha nenhuma! Quero que existam ainda muitas Colletes na TV e que hajam muitos personagens desse jeito. Acho que isso é besteira. Que bom que eu tenho essa experiência na minha carreira e espero que as pessoas que gostam de arte e bom entretenimento se sirvam.
HT: Com sua experiência na Broadway, como avalia o estado atual dos musicais no Brasil?
Somos o 3º país a produzir mais musicais em todo o mundo, e acho que estamos indo bem. Mas, mais do que isso, acho que existe a possibilidade de o ator construir uma carreira em teatro musical. Isso é muito importante, e é algo que já existe nos EUA, mas precisamos de público e patrocínio. E mais teatros também, porque em Nova York existem muitos. Aqui, você faz uma produção bacana e só tem três ou quatro lugares para exibir, o que é uma pena por não ter uma continuidade da temporada. Crescer e ter mais diversidade com jovens atores e compositores é algo fundamental para criar.
HT: Quais são seus outros projetos para 2016?
DDF: O lançamento do meu primeiro disco, um resultado do musical “Be Careful”. Decidi também ficar no Rio neste ano, sem ter que ir e voltar entre um país e outro. Quero muito fazer cinema, tenho muita vontade, porque é uma área que eu ainda não conheço. Ainda não tive esse oportunidade, mas a careira de ator é assim: os trabalhos acontecem.
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