Não há dúvidas de que 2015 tem sido um ano e tanto para Dani Calabresa. A humorista, que vinha fazendo sucesso na bancada do “CQC”, abandonou o programa das segundas-feiras e migrou para a Rede Globo, onde foi apontada pela emissora e vista pelo público como a maior poster girl do novo “Zorra Total”, agora apenas “Zorra”, com um humor mais refinado e proposta diferente da anterior. Mas, além disso, Dani tem motivos pessoais para comemorar. Ela finalmente realizou seu sonho de infância e participou de uma produção da Disney, como conta em entrevista exclusiva ao HT. Mais especificamente, a atriz dubla Nojinho, na nova parceria do estúdio com a Pixar, “Divertida mente” (“Inside Out”).
O filme, que nos Estados Unidos reuniu nomes como Amy Poehler, Mindy Kaling e Bill Hader no time de dubladores, segue a pequena garotinha Riley, acompanhando tudo o que se passa dentro de sua cabeça e como suas emoções – Alegria, Medo, Tristeza e a própria Nojinho – interagem entre si. Aqui, no Brasil, o elenco também não deixa a desejar, reunindo, além de Dani Calabresa, gente como Otaviano Costa, Katiuscia Canoro, Sidney Magal, Miá Mello e por aí vai.
Trailer oficial de “Divertida Mente”
Os amantes de animações já sabem há muito tempo que parcerias entre Disney e Pixar não agradam apenas as crianças, como já ficou provado em produções como “Vida de Inseto”, “Toy Story”, “Monstros S.A.” etc. “Divertida mente” não é nenhuma exceção: apesar de ter grande apelo infantil, essa é uma daquelas histórias de deixar adultos soluçando dentro das salas de cinema, como aconteceu com a própria Dani. “Eu estava me sentindo uma idiota, mas então percebi que o Léo Jaime também chorou e aí a gente começou a se abraçar”, conta.
Na conversa que você lê abaixo, Dani mostra sua flexibilidade não só como artista, mas também como mulher. Ao mesmo tempo em que diz ter a casa toda decorada com personagens da Disney, a comediante não tem medo de se pronunciar contra o machismo no humor e como a mulher é muitas vezes subjugada no meio. Ela também mostra plena ciência de seus limites e desejos profissionais, algo tão raro hoje em dia, admitindo que não sente essa vontade tão grande assim de fazer papeis dramáticos e compartilhando qual projeto ela sonha em realizar. Isso tudo e algumas cositas más, você confere agora:
HT: Como você recebeu o convite para dublar “Divertida Mente” e como reagiu quando descobriu que tinha sido aceita?
DC: Eu sou louca demais pela Disney! Tenho coleção, DVD, trilhas sonoras e vou ao parque ano sim e ano não. Também sempre sonhei em ser desenhista ou dublar algum filme deles. Quando era pequena, pedia à minha mãe para entrar em curso de dublagem e tudo, sem falar que eu sempre gostei de imitar os personagens. Mas assim, é sonho, né? Cheguei a falar com o [Marcelo] Adnet, quando começamos a namorar, que ele um dia seria convidado para dublar algum desenho animado, já que interpretava tantos personagens com vozes tão diferentes. No dia que me ligaram para fazer o teste, chorei de felicidade. Eu berrava com meu empresário e ele falava ‘calma, é só um teste, não se empolga tanto’. Fiquei louca de tudo, muito descontrolada. Quando fui fazer o teste, nem imaginava que eles me chamariam, já estava feliz só por estar ali. Fui embora dali tremendo, sabendo que eles ainda mandariam para Los Angeles para passar por aprovação.
Quando descobri que eles haviam me aceitado, chorei de novo. Fui lá chorando, passei vergonha e tudo. Mas era meu sonho! E ainda mais poder participar desse filme incrível, poque é uma combinação de emoções maravilhosa. É uma animação e bem engraçada, mas também é um filme sobre tristeza. A gente acha que precisa ser sempre feliz, mas todo mundo precisa desse equilíbrio.
HT: Essa é a primeira vez que você trabalha com dublagem. Como foi para você?
DC: Eu sabia que era difícil dublar, mas é muito mais complicado do que parece. Você não assiste ao filme enquanto está falando, não decora, não se prepara… É tudo muito diferente. Eles passam a fala uma vez e você grava cena por cena, enquanto ouve a dublagem em inglês no fone de ouvido. Daí tem que ficar atenta ao time code e tentei ainda seguir o ritmo das falas em inglês, torcendo para acertar. Até por que tem que ser um pouco parecido com o que a dubladora fez no EUA para manter a personagem.
HT: Se você pudesse escolher algum personagem da Disney para dublar, qual seria?
DC: Eu dublaria a Ariel, d’“A Pequena Sereia”. Eu gosto de todos os desenhos da Disney, tanto que minha casa é cheia de miniatura pelas paredes. Mas ela é a única que repete pela casa inteira. (Risos)
HT: Como foi assistir a um filme da Disney com sua voz nele?
DC: Eu achei que ia passar vergonha sozinha, porque estava chorando muito no final do filme. Mas quando as luzes acenderam, eu olhei para o Léo Jaime e vi que ele estava com o rosto todo molhado e disse “que bom que você também está chorando”. Eu vi com o elenco todo e, cada vez que surgia a voz de alguém, a gente vibrava. É muito emocionante .
HT: Você está confirmada no elenco de “Desculpe o Transtorno”. Conte um pouco mais sobre o filme e como foram as filmagens.
DC: Ele já está filmado desde o ano passado, e acredito que o lançamento seja por volta de outubro. O filme é com o Gregório Duvivier e ele faz um personagem com dupla personalidade. Um é paulista e namora comigo – eu faço uma patricinha meio fresca e controladora, que escolhe tudo o que ele veste e come. O outro é carioca e gosta da Clarice Falcão. Foi uma delícia fazer esse filme.
HT: Você passou muito tempo como apresentadora de TV, e programas como o “Furo MTV” e, mais recentemente, o “CQC”. Agora, tem se dedicado ao papel d atriz com personagens no “Zorra” e no cinema. Qual dessas duas facetas você diria que dá mais satisfação?
DC: Eu gosto dos dois, são prazeres diferentes. É muito gostoso poder ser espontânea e improvisar, ou fazer uma matéria. Mas é muito gostoso também ter o trabalho de sustentar uma postura, de achar uma voz diferente da minha e imitar alguém, por exemplo. Gosto de ser desafiada e de criar personagens. Essa loucura minha com a Disney desde pequena me deu muita facilidade em imitar vozes. Eu costumava fazer show com os meus bonecos!
Sou atriz desde os cinco anos e sempre fiz peça de teatro. Comecei a fazer isso profissionalmente em 2005. Ser apresentadora foi novidade para mim, entrei por causa do stand-up e fazia show de cara limpa quando chegue na MTV a convite da [roteirista] Lílian Amarante. Depois do “Furo”, fui para a bancada do “CQC”, o que foi uma delícia de fazer, mas eu sempre fui atriz.
HT: Tendo a formação como atriz, você toparia fazer um papel mais dramático na TV ou no cinema, afastada do humor?
DC: Estou super disposta. Havendo um roteiro, direção e se eu achar o personagem certo, toparia fazer drama, mas não é um sonho que eu tenho. Prefiro a comédia. Eu sempre sonhei com a com comédia, a alegria e a Disney. Até hoje, meu sonho ainda é fazer um seriado como “Friends”. Amo série divertida! Adorava o “Sai de Baixo” e esse formato de levar o teatro para a TV, mas nunca participei disso.
HT: Você recentemente falou sobre o machismo que as mulheres enfrentam na comédia e como elas não podem fazer o mesmo tipo de piada que os homens. Por que acha que isso acontece? Consegue ver alguma mudança nesse cenário?
DC: Eu acho que está mudando sim. Na época da minha mãe, que tem 68 anos, se ela levantasse na mesa e falasse que pegou dois caras na micareta bêbada, pegava muito mal. Meu tio poderia levantar e dizer a mesma coisa que todo mundo riria. O homem sempre pôde falar palavrão, arrotar, ir em puteiro… Isso é muito diferente. Nem acho também que homens e mulheres pensem de forma igual – nós temos um lado sensivo e emotivo mais aflorado. Mas ainda acho errado quem pensa que a mulher é louca por falar de sexo e outras coisas do tipo. É um pensamento velho e nada moderno.
Temos que conquistar mais espaço e permissão social para podermos ser espontâneas, para falarmos normalmente. Parece que a mulher tem que aprender a cozinhar desde cedo, ser mãe e casar, enquanto os homens são criados para serem livres. “Ah, tem amante? Tudo bem!”. O homem tem permissão para ser uma eterna criança e o mundo cobra muito mais das mulheres.
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