*Por Junior de Paula
Há não muito tempo, quando alguém queria aprender alguma receita, era só ligar a televisão aberta nos programas vespertinos que, certamente, teria alguém ensinando como fazer um rocambole de carne, um bolinho de chuva, ou até mesmo uma feijoada bem gordona. Eram poucos, mas infalíveis. E sempre havia a figura da senhorinha que nos remetia à imagem das nossas próprias avós, prontas para tirar dúvidas dos telespectadores em relação ao ponto do bolo e como tirar o cheiro de alho das mãos.
O mundo evoluiu, as coisas mudaram, mas parece que a vontade de aprender receitas por meio de programas de culinária na TV virou uma obsessão para os programadores brasileiros. Não há hora, gênero, ingrediente ou filosofia que nunca tenha virado tema para algumas das dezenas de pessoas especializadas em comida que povoam as emissoras. E isso já começa a cansar.
Tem desde os importados, como Jamie Oliver e Nigella, que podem até ser considerados os responsáveis por essa febre de cozinha acessível, com seus pratos simples e seus jeitos descontraídos e cools de apresentar as receitas; os expatriados, como Claude Troisgros e Olivier Anquier, que ensinam com mais sofisticação os pratos que misturam a culinária internacional com elementos brasileiros, tudo com sotaque; e há espaço até para a culinária funcional de Bela Gil e os famosos que resolveram mostrar outras habilidades na telinha, como Carolina Ferraz e Rodrigo Hilbert.
Como não há oferta sem demanda, certamente isso foi uma vontade do público em algum momento, mas que não justifica essa avalanche de comida transformando os outros – poucos – programas da grade em um ilha cercada de cozinhas por todos os lados. É claro que há de se convir que a qualidade dos programas é boa, com apresentadores carismáticos e boas receitas – simples ou sofisticadas -, mas a impressão que se tem depois de uma semana assistindo à TV por assinatura é que, se você for colocar em prática todos os pratos que aprendeu, terá de cozinhar pelo resto da vida.
Antes dessa onda, eram os programas de viagem que pipocavam a todo instante na tela e, com o passar do tempo, só os que tinham algum conteúdo relevante e uma pegada mais original se estabeleceram, como é o caso do “Lugar Incomum”, de Didi Wagner, e o “Não Conta Lá em Casa”, por exemplo. Por isso, a gente pode acreditar que a turma das panelas está no pico da produção e que, agora, é hora da natureza agir e deixar sobreviver só os mais fortes. Quem fica, só o tempo dirá.
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
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