“Tudo o que acontece de ruim na vida da gente é para melhorar”. É essa a frase que dita o clima de “Êta mundo bom”, de Walcyr Carrasco, próxima novela das 18h da Rede Globo que estreia no dia 18. O espírito otimista é do protagonista Candinho, interpretado por Sérgio Guizé, que tem a fala como seu bordão na vida. Com a história, o autor retorna ao horário que fez sua fama, resgata a parceira com o diretor Jorge Fernando e investe em uma linguagem mais simples, sem situações cênicas grandiosas.
“Tenho um grande carinho pelo horário, porque fiz grandes sucessos, mas nunca dava para voltar, então fiz o projeto da novela com muita antecedência. No meio disso, surgiu o convite de ‘Verdades Secretas’ e eu só topei se não me tirassem das 18hs. Me perguntaram se eu emendava e eu aceitei. Queria muito o Jorge Fernando, ele entende bem esse estilo, é genial, delicado, preciso, sabe conduzir o ator, veio do teatro. Só queria o Jorge Fernando e não quis as férias pra fazer com ele”, entregou Walcyr na noite de ontem, na coletiva no Itanhangá Golfe Club.
A inspiração para a trama doce, ambientada na década de 1940, na capital e no interior de São Paulo, foi o filme “Candinho”, de Amácio Mazzaropi, de 1954. O longa, por sua vez, também teve de onde colher seus elementos: o clássico iluminista “Cândido ou o otimismo”, de Voltaire, foi a fonte inicial de tudo. “É sobre otimismo, uma sátira, é engraçado e eu quis, de certa maneira, homenagear meu pai, porque quando eu era criança ele me levava no cinema todo dia, então acabei vendo todos os clássicos. Tive esse universo aberto por ele e recordo de como riam desse humor simples”, relembrou o autor, garantindo que a ideia já estava pronta. “Eu sou uma pessoa caseira e fico revendo filmes. Quando vi esse pensei que dava uma supernovela, li o livro e quis muito fazer. A mensagem de tudo que acontece de ruim é para melhorar a vida da gente é tão legal! Sou assim. Se algo não foi bem, faço de novo, tento de outro jeito. O otimismo é gostar de arriscar, não aceitar perder. Eu sou assim, vou atrás, não gosto da perda”, contou.
Se Walcyr gosta de ganhar, ele faz por onde: “Amo os desafios. Tenho livro infantil, escrevo teatro erótico, gosto de mudar. Não quero sempre o mesmo. Sair de ‘Verdades secretas’, que era uma temática forte, para as 23h e ir para outra linguagem é um desafio muito grande e legal. É muito bom se reinventar, esse é o segredo da vida”, nos disse ele, que acredita que “Êta mundo bom” tem a dose de otimismo capaz de contagiar. “É bom nesse momento da vida, que o mundo inteiro está em crise. Candinho traz um sopro de felicidade. Quero que assistam a novela e terminem com um sorriso”, confessou.
HT lembra, aliás, que a novela mudou de nome antes mesmo de começar. A ideia inicial de Walcyr era batizá-la de “Candinho”: “Mas mudei porque é uma trama longa e quando fui construindo abri um leque enorme. Não quis ficar preso em um único personagem, até porque tenho atores geniais e histórias muito legais”, explicou. E como será que ele se sente ao encarar o mundo de ingenuidade após a ousadia de “Verdades”? “Não tenho uma linguagem preferida. Gosto do que me encanta e fisga e foi assim com essa trama. Escrevo com emoção e gostaria que o público partilhasse isso comigo. A única expectativa é ser feliz escrevendo ‘Êta mundo bom’ como já estou sendo. O maior prazer do autor é sentar, ver a novela e gostar”, ressaltou.
E se depender da vontade de seu elenco, sem dúvidas isso acontecerá. O que dirá do protagonista. “Estamos apaixonados pelo trabalho! O Candinho vai trazer um pouco da moral e bons costumes do pós-segunda Guerra com uma coisa lúdica, bem humorada”, definiu Sérgio Guizé, que torce para que seu bordão pegue. “O lema do Candinho é uma mensagem universal! Quando o Voltaire escreveu acho que era uma critica à sociedade na época, mas estamos usando com otimismo, para olhar as coisas boas, a vida, o presente. Ter a possibilidade de enxergar o novo”, disse. Na pele de seu terceiro mocinho consecutivo, Sérgio não teme ficar estigmatizado: “Estou aproveitando. O Candinho tem essa mensagem de esperança e amor incondicional lindo com a vida. Acredito muito que ‘tudo que acontece é para melhorar’ e espero fazer o público crer também”, declarou.
Mas como nem só de alegria se faz uma boa trama, uma alta dose de reflexão também permeará “Êta mundo bom”. Voltemos a Walcyr: “Falar desse passado é também falar com o presente, por exemplo, com a mulher que ainda é oprimida. Por mais que falemos que somos liberais, olhamos para o presente e não percebemos como a relação homem-mulher mudou e não mudou. A mulher ganhou emprego, mas chega em casa lava louça, cuida do filho. Ainda é raro uma casa que o homem divide tarefas domésticas. Há uma pesquisa que revelou os salários das mulheres são mais baixos em todas as profissões, mesmo exercendo o mesmo cargo. Todo mundo acha diferente, mas não é tanto assim. No caso da moça que perdia a virgindade a tendência era ser expulsa de casa e, atualmente, não é assim. Mas ainda hoje a moça tem o filho e a responsabilidade fica para ela”, analisou o autor.
Também por ali, no clima de expectativa para a estreia da trama, encontramos Débora Nascimento, que vive a protagonista Filomena. Como ela está? “Já chorei muito, como toda mocinha”, brincou, revelando que estar na pele de seu primeiro papel principal causou ansiedade. “Recebi os capítulos, vi a complexidade e fiquei bem nervosa, engordei três quilos. Aí eu comecei a gravar e foi ótimo. Já perdi dois quilos e meio e percebi que o que muda é o volume de trabalho, mas a dedicação e o foco são os mesmos”, garantiu ela, que não se inspirou em mocinhas clássicas para construir a sua. “A Filomena é uma mulher-menina doce, criada na roça, ingênua. Ela acredita na palavra das pessoas. Sabe aquela que você fala: ‘vou amanhã às 14h na sua casa’? Ela vai esperar. Sua palavra é como a honra, ela acredita na pureza das pessoas, é romântica que só ela. Foi uma construção totalmente interna, não vi outras, fiz uma mistura de Débora”. E o que uma tem da outra? “Também gosto do romantismo, de bilhetes, flores, carinho. Eu e José (Loreto, seu marido) cultivamos muito isso. E a roça também, quando era pequena meu avô tinha sítio e vivia de pé no chão, subindo em árvore, correndo atrás dos cachorros, puxando cavalo”, compartillhou.
E, por fim, se a protagonista não pensa na pressão de repetir sucessos, o autor também não se intimida em manter a audiência elevada do horário. “Aposto no meu trabalho, na minha emoção. Fico feliz pela Elizabeth Jhin, que fez uma novela genial, com uma ideia incrível”, garantiu Walcyr, que promete entregar nas telas um romance de novelão. “A história começa com Candinho e vai se abrindo como um leque para outros personagens. Ele é um caipira que vai para São Paulo em busca da mãe e sonha em reencontrar seu grande amor, que é a Filomena”, adiantou. O que podemos esperar do que veremos na televisão? “Humor, romance, drama, tudo junto. Uma volta às raízes que retorna aos valores e costumes dos anos 40. Não é uma novela histórica, mas a história é pano de fundo. E, claro, encarar o mundo de maneira positiva”, adiantou. Precisa dizer mais?
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