*Por Brunna Condini
No longa “A Divisão’, que teve sua première no Festival do Rio, Natália Lage vive uma personagem que não remete em nada a seu physique du rôle e seus últimos papéis na TV. No longa produzido por José Junior, com roteiro de Gustavo Bragança e José Luiz Magalhães, que retrata os bastidores de um grupo de policiais da Divisão Antissequestro (DAAS), ela vive Roberta, uma policial envolvida em corrupção e que sabe jogar duro com a bandidagem. “Quando ela entra para DAAS, Roberta pressupõe que vai ter que mudar seu procedimento e sente dificuldade de se adaptar a esse universo, se sente preterida pelos amigos. Isso vai acarretar muitos acontecimentos na trama”, comenta.
Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, a atriz acrescenta: “Nos preparamos com a Maria Silvia e por conta da produção ser do Afroreggae, e de todo o caminho aberto que o José Junior tem, nos mais diferentes âmbitos do Rio, pudemos ter conversas com policiais, ex-policiais, ex-donos do tráfico. Foi uma preparação rica, não só profissionalmente, mas pessoalmente. E claro, fizemos aula de tiro, aprendemos a montar uma arma, passamos dias em uma comunidade”.
A atriz conta ainda sobre as dificuldades de viver a policial de caráter duvidoso. “Me identifico muito pouco com a Roberta. Ela é uma mulher muito ambiciosa, que está muito ligada em grana, que deseja se dar bem, que não mede esforços para atingir seus objetivos. E eu não sou assim, mas isso para o ator é um prato cheio, conseguir se colocar em situações que nunca imaginamos e que na nossa vida civil talvez nunca experimentássemos”.
Nascida em Niterói, ela aproveita para falar sobre a situação de violência no país. “Estamos vivendo um momento muito triste, com uma segurança pública deixada às mocas. Segurança é um direito, assim como saúde e educação, que o governo deveria garantir”, analisa. “Nunca passei por nada muito violento, mas já fui assaltada no carro, no sinal de trânsito. E tive, infelizmente, uma situação com os meus tios. Entraram na casa deles, amarraram, bateram e levaram tudo. É triste porque vemos casos de violência diariamente em nosso país”.
Morando em São Paulo há três anos, a atriz compara as cidades sobre o mesmo tema. “São Paulo também é muito violenta, mas acredito que pela sua distribuição geográfica, a gente talvez sinta menos isso. Talvez porque fiquemos isolados em nossos privilégios e isso chega menos”, conclui. “Não sou uma pessoa que vive com medo, mas isso me afeta emocionalmente. Não deixo de fazer minhas coisas, mas dá uma tristeza profunda, por empatia e pela possibilidade de acontecer com a gente a qualquer minuto”.
Há 12 anos sem fazer novela – a última foi “Pé na Jaca” (2005) – Natalia esclarece que isso não foi uma decisão, exatamente. “Foi a maneira que a minha carreira foi se colocando. Fiquei quatro anos em “A Grande Família”, depois foram mais quatro em “Tapas e Beijos”. Nisso já são oito anos, destes 12. Fiz muito teatro, mais séries, cinema”, conta. “Não rolou e o convite para novela que rolou neste período, não encaixou. Essa maneira que a minha carreira foi sendo construída, me permitiu viver muitos personagens diferentes, em gêneros distintos também”.
Escalada para próxima novela da autora Licia Manzo, na Globo, no horário das 21h, dirigida por Maurício Farias, prevista para 2020, em que fará par romântico com Mariana Lima, a atriz diz estar curiosa para voltar. “Tem muito tempo que não faço. Quero entender o que mudou nestes anos, sei que tem uma dinâmica mais acelerada. Em novela você joga mais com o público, mais com a resposta das pessoas e isso é muito bom também”, divide. “Tenho pouca informação da personagem ainda, mas estou animada. Sei que ela é médica e fica com a Mariana. Não entro no início da novela, talvez por isso, saiba pouco sobre ela”.
E a preparação para a nova personagem? “Olha, não tenho o hábito de assistir essas séries médicas, mas sei que tem um monte para pesquisar e conhecer. Pretendo fazer esse dever de casa”, brinca.
Em relação à homossexualidade da personagem, Natália acha importante a visibilidade. “Estamos quase em 2020 e é surreal as coisas estarem sendo colocadas como estão, esse retrocesso, essa maneira reacionária de ver o mundo. Isso me entristece. Tenho amigos que sofrem com isso. A sexualidade de cada um não tem nada a ver com o caráter de ninguém. Cada um vive da maneira que acredita, que gosta, que sente e ninguém tem nada com isso. Isso não deveria ser um assunto, mas ainda é. Então, é um momento de resistência, de luta, e essa pauta, assim como outras, precisam de representatividade”, pontua.
Aos 41 anos, ela dá a receita da “carinha de menina”. “ Acho que tem um pouco a ver com o meu jeito, sou um pouco moleca ainda”, garante. “Também cuido da minha alimentação, faço ginástica, cuido da pele. Mas sem radicalismos ou para me encaixar num padrão. Só para me sentir bem, entendendo que meu corpo é meu instrumento de trabalho, por mais clichê que esta frase possa soar. Mas é isso, preciso ter um corpo disponível, minha preocupação é essa, quero estar bem”.
E Natália revela, que o coração também vai bem.“Estou namorando com o Silvio Guindane”, diz, sobre o relacionamento com o ator, que também está no elenco de “A Divisão“. E conta sobre o final do ano: “Vou viajar para Buenos Aires. Ano que vem têm muitos projetos para tocar: a novela, a segunda temporada no Netflix da série “Irmandade”, e a “Hard” uma outra série que fiz para HBO”.
Artigos relacionados