Especiais de fim de ano desaparecem da TV, programas piloto são raros e emissoras não ousam. Economia ou preguiça?


As três principais emissoras do país – Globo, Record e SBT – tinham por hábito produzir programas especiais de fim de ano. Cada uma a seu perfil exibia uma atração diferente ou experimentava programas piloto para lançá-los na grande fixa do ano. De cerca de metade da atual década para hoje, cada vez menos especiais desse tipo têm sido produzidos ou exibidos. A Globo tem preferido lançar produtos diretamente no Globoplay em vez de arriscar na TV aberta, ao passo que as outras emissoras nem arriscam. Vão na certeza ou adaptam programas que já vem sendo transmitidos ao tema natalino. Record e SBT vão lançar mão desse expediente ao passo que a Globo vai exibir, de novidade, uma atração apresentada por Fábio Porchat e já levou ao ar um telefilme patrocinado por uma marca de refrigerantes. Apenas isso. Algo muito diferente de 2010, por exemplo, onde só de dramaturgia, produziu 5 obras, entre minisséries e projetos neste formato

*por Vítor Antunes

Chocha, capenga, manca, anêmica, frágil e inconsistente“. O conjunto de adjetivos que inicialmente compunha um posicionamento do ex-presidente Michel Temer, que durante a sua gestão, recebeu acusações do procurador-geral da República Rodrigo Janot, em 2017 tornou-se meme quando foi lido ao vivo por Renata Vasconcellos, no Jornal Nacional. Não seria imprudente dizer que esse conjunto de palavras venha a servir para definir a programação de fim de ano das emissoras. Especialmente Globo e Record costumavam fazer lançamento de programas piloto, shows especiais e edições temáticas das atrações da casa. Hoje em dia, optaram pela exibição de telefilmes patrocinados, enlatados ou em tematizar os programas diários. Atitude muito distante daquela praticada há anos atrás onde programas eram exibidos como forma de teste. Alguns foram bem sucedidos, como “A Diarista“, “Toma Lá Dá Cá“, e “Os Caras de Pau”  e conseguiram seu espaço na grade fixa. Outros, contudo, como “Nada Fofa“, “Carol e Bernardo” e “Programa Piloto“, nunca saíram da primeira exibição. O último programa piloto exibido no fim de ano e que por apenas uma temporada, foi “Lazinho com Você” (2017).

Mesmo a Record mantinha essa postura. Um especial de fim de ano virou programa fixo, “Louca Família“. Outros também foram exibidos, como “Balada, Baladão” e o reboot de “A Família Trapo“, mas nada vingou. Para 2023, a TV também mantém a linha menos arrojada e limitou-se a transmitir a final de “A Fazenda 15“, exibir a “Retrospectiva dos Famosos” e um especial autorreferente, o “Record 70 anos“, que será levado ao ar no próximo dia 29, às 22h45. Além deste, a tradicional “Retrospectiva 2023” e o “Canta Comigo especial “. Nenhum programa novo, nenhum desafio, ou proposta diferente.

São várias as razões que poderiam justificar a estratégia mais conservadora na confecção de especiais. A Globo mesmo tem usado o Globoplay como plataforma também de testes, tanto para seriados jornalísticos como para programas mais alternativos. Um deles, criticado até o último episódio, foi o “Casa Kalimann“, ainda que lançado antes da época de fim de ano. Outra razão seria a dispensa de grandes nomes, como Xuxa, Faustão e Renato Aragão, que sempre rendiam programas especiais.

Há também de se pesar que alguns shows especiais eram exibidos pela casa nesta época do ano, como o “Madonna Especial – The Girlie Show“, de 1993. Com acesso quase que imediato aos shows, quer presencialmente quer atraves das redes sociais ou das plataformas de streaming, esses shows mais “exclusivos” não são mais, frequentemente exibidos em TV aberta – ainda que a Globo transmitiu, com exclusividade, a apresentação de Ivete Sangalo no Maracanã, celebrando os 30 anos de sua carreira.

Sem dúvida, a produção de programas piloto e de testes numa época de grande recessão de audiência implica em custos. Mais que isso, o investimento numa série derivada de um especial pode ser arriscado, pois, em razão da economia e da audiência cada vez mais voláteis, não há a certeza de que o produto terá sucesso. Muito se sabe, porém, que usar o Globoplay como teste para a TV aberta não é exatamente um bom termômetro, já que a plataforma tem um público diferente do da televisão. Desta forma, como o público terá acesso a um preview da programação de ano nova das televisões se não há essa oferta? Ainda que uma grade preguiçosa e acomodada, veja as atrações de fim de ano que, além da Record, Globo e o SBT transmitirão:

Sérgio Aguiar e Ana Hickmann à frente do especial dos 70 anos da Record (Foto: Divulgação/Record)

Globo

Além das já clássicas “Retrospectiva 2023”, apresentado por Sandra Annenberg, mostrando um panorama dos acontecimentos do ano, a Globo manterá a estratégia de exibir um programa extenso, no formato documentário seriado, voltado para o Globoplay. Outras atrações nada surpreendentes são a 98ª edição da Corrida de São Silvestre, o show “Roberto Carlos Especial 2023: Eu Ofereço Flores” e o “Show da Virada – ao vivo“, com Ludmilla, Luísa Sonza, Gloria Groove e Nattanzinho, direto da Praia de Copacabana, no Rio. O programa terá a apresentação de Fernanda Rodrigues e Douglas Silva. Entre os especiais, constam o “Agora Vai”, um projeto cômico liderado por Fábio Porchat. Entre os programas já exibidos estão o “Especial Amigos 20 Anos” e o telefilme “Ritmo de Natal”, com Isacque Lopes e Clara Moneke, que será retransmitido na noite de Natal.

“Ritmo de Natal”, com Isacque Lopes e Clara Moneke (Foto: Divulgação/Globo)

SBT

Sem muitas surpresas, o SBT exibirá a “Retrospectiva 2023“, programa que terá a apresentação de Marcelo Torres e Márcia Dantas. O canal já estreou a série americana “The Chosen – Os Escolhidos”. O primeiro episódio não teve um bom resultado na audiência, e marcou 3,2 pontos. Foi o programa do horário nobre com menor audiência da emissora. Fora isto, os programas lineares da TV terão edições natalinas, como o “Programa Silvio Santos com Patrícia Abravanel”, o “Eliana”, o Domingo Legal, o “The Noite”, entre outros. Além destes, as sessões de cinema do canal e a pré-estreia dos contratados Tirullipa com o “Circo do Tirullipa” e Luccas Netto com a “Escola de Aventureiros“. A emissora paulistana também vai exibir uma retrospectiva esportiva no SBT Sports, que será apresentada por Téo José. 

Logomarca do “Circo do Tiru”, programa do SBT com o humorista (Foto: Divulgação)