*Por Brunna Condini
Erika Januza conversou com a gente a caminho do ensaio na quadra da Viradouro, agremiação da qual é rainha de bateria. “O carnaval é uma paixão, me envolvo em tudo, atravessar a ponte é um prazer”, diz, e exalta o enredo de 2023 sobre a escritora Rosa Egipcíaca (1719-1778), considerada a primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil, tendo seu legado apagado da história. “Fiz um ensaio inspirado nela, em Ouro Preto, Minas Gerais. É uma homenagem. Ela veio de Minas para o Rio de Janeiro, mas a história dela foi ser descoberta mesmo em Portugal. Me sinto representando e representada neste enredo”.
Meu objetivo é chegar a um ponto em que serei lembrada para fazer as personagens por ser uma grande atriz – Erika Januza, atriz
No ar na segunda temporada de ‘Arcanjo Renegado‘, no Globoplay, como a policial Sarah, irmã do protagonista vivido por Marcello Melo Jr, a atriz destaca os desafios enfrentados pelas mulheres em qualquer área, por mais preparadas que estejam. “As outras policiais na ficção são também na vida real. Elas me falaram que ainda hoje, na hora de uma abordagem, muitas vezes sofrem preconceito, muita gente não respeita. Precisam se impor dobrado. É preciso reconhecer e respeitar que as mulheres podem e devem ocupar o lugar que quiserem. Eu, por exemplo, gosto de me desafiar, fazendo coisas que nem esperam de mim. Agora vou tirar carteira de motorista para caminhão, já tenho de carro e moto. Quero estar preparada para tudo o que vier como atriz”. E aproveita para revelar um sonho do momento: “Quero muito fazer outra protagonista. Fiz uma há dez anos, em meu primeiro trabalho na TV (a série ‘Suburbia‘), acho que é o momento de fazer outra”.
A mineira de Contagem, Minas Gerais, de 37 anos, diz que o trabalho é sua mola propulsora e celebra uma década de trajetória. “Aprendi nesses anos, que para conquistar algo você precisa correr muito atrás. E a acreditar em si mesma. Quando comecei, cheguei a ouvir de uma pessoa que deveria estar me ajudando, que ‘preto não vendia’. Sou muito determinada, até teimosa, e esgoto as possibilidades quando desejo algo. Aprendi a não parar. Quando não dá certo, é porque não tinha que dar”, divide. “Nestes 10 anos de carreira, tive altos e baixos. Posso dizer que aprendi a ser menos medrosa. Para você ter ideia, tinha tanto medo, que quando fui fazer ‘Suburbia‘, trabalhava em uma escola como secretária lá na minha cidade, e cheguei a pedir à minha chefe para voltar quando acabasse a série. Achava que não me dariam outra chance, já que eu não tinha experiência”.
Ela se reconhece como a típica mulher taurina: determinada e persistente. E assim conseguiu conquistar um dos seus maiores sonhos. “Comprei a minha casa, falta terminar a obra agora. Estou morando nela (risos). Mas fico feliz com cada etapa, quis isso por anos. É um lugar também para receber minha família quando vier, isso me deixa muito realizada”.
Hoje sou uma pessoa mais segura, mais corajosa, mas alcancei isso após alguns ‘baixos’- Erika Januza, atriz
E mesmo reservada – “sou tímida também” – fala sobre um desejo ainda mais pessoal. “Um dia quero ter um filho, mas não é algo para agora. Por isso penso até em congelar óvulos. Acho que tudo tem seu tempo. Ainda quero ser rainha de bateria por muitos anos, acho que a maternidade pode esperar. Agora casar é algo que se for para acontecer, vai rolar. E se não for, está tudo bem. Sou muito independente, tudo que conquistei na minha vida foi com suor, muito trabalho, esforço”, detalha Erika, que namora Juan Nakamura há dois anos.
De Contagem para o Brasil
Além de ‘Arcanjo‘, em breve Erika Januza poderá ser vista também no Disney+. Ela está na série ‘A Magia de Aruna‘ programada para estrear em 2023. De todos os sonhos na bagagem, o que ela mais almeja é reconhecimento profissional: “Meu objetivo é chegar a um ponto em que serei lembrada para fazer as personagens por ser uma grande atriz. No passado já estive sem trabalho e desejei muito ter tantas oportunidades que teria que fazer escolhas. Hoje está quase assim (risos). Sou muito grata e quero aproveitar para trabalhar tudo o que puder”.
A atriz recorda o início do trajeto, após o protagonismo na TV. “Recebi convites que recusei e não deveria. Neguei por conta de influências equivocadas de pessoas ao meu redor na época. Me arrependo e não me arrependo, porque aprendi muito. E logo depois veio minha primeira novela, ‘Em Família‘, a última do Manoel Carlos. E não parei mais. Estudei, mas aprendi principalmente fazendo, observando os atores e atrizes mais experientes”.
Continuo sendo a Erika de Contagem, com mais aprendizados e uma profissão que amo hoje – Erika Januza, atriz
E aproveita para fazer um balanço: “Hoje sou uma pessoa mais segura, mais corajosa, mas alcancei isso após alguns ‘baixos’. Aprendi a não confiar em qualquer pessoa, me blindar mais. Passei por momentos difíceis, sem trabalho. Cheguei a não confiar mais em mim, a achar que não daria certo, apesar de já ter feito uma protagonista e uma novela das 21h. Mas consegui ressignificar tudo com uma rede de apoio. Na época contei muito com o suporte de um coach, que me ajudou a resgatar essa fé em mim”.
“Olha, não é clichê. Quando você está com baixa autoestima, sem acreditar em você, vai para um teste achando que não vai passar, achando que não é merecedora daquela oportunidade. Mas quando muda essa chave na sua cabeça, atinge outro patamar de autoconhecimento e confiança, atrai outras coisas e se fortalece para ir em busca das oportunidades. Estou mais corajosa para ir em busca do que desejo. Mas não é fácil, viu?”.
Quero muito fazer outra protagonista. Fiz uma há dez anos, em meu primeiro trabalho na TV – Erika Januza, atriz
E frisa que o mais importante é não perder sua essência pelo caminho: “Conservo tudo da mulher que saiu há 10 anos de Contagem. Quando vou para Minas, durmo na mesma cama que dormia antes, uso minhas roupas que tenho guardadas há 20 anos. Fui criada com bases muito sólidas, é difícil tirar isso de mim. Infelizmente, vejo muita gente que muda com o sucesso, a fama. Isso não entra na minha cabeça. Preservo a minha identidade. Continuo sendo a Erika de Contagem, com mais aprendizados e uma profissão que amo hoje”.
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