A obra de Amácio Mazzaropi (1912-1981) rendeu a Walcyr Carrasco inspiração perfeita para compôr um caipira para lá de original, com uma ingenuidade que conquistou espectadores por todo o país. Grande parte disso também se deve ao intérprete do personagem. Hoje, é impossível pensar em Candinho, de “Êta mundo bom”, sem pensar em Sérgio Guizé. E, a dois meses do final da trama, o protagonista do horário das 18hs confessou: sentirá saudades. “Nem me fale do dia que eu vou ter que abandonar o Candinho. Ter que me preparar com o espírito dele antes de entrar em cena é muito prazeroso, porque sei que é muito importante para mim e para quem está em volta. O Candinho atinge todas as classes e idades de um jeito ou de outro. Uma vez foi emocionante, encontrei uma avó que trouxe a neta para fotografar comigo ‘porque ela amava o personagem’ e disse: ‘bom, eu também, mas eu não conto’ (risos). Esse personagem atinge em lugares diferentes, toca as pessoas, é algo de se levar para o resto da vida”, disse ele, que já deu aula em escola pública e sabe da dificuldade de atingir os sentimentos alheios. “Lembro como era difícil passar algo. A ideia era manter os 45 alunos sentados. Eu sabia que não estava passando mensagem nenhuma e agora, 15 anos depois, eu consigo tocar de um jeito ou de outro, deixar uma mensagem positiva para as crianças, de fazer o bem para colher o bem”, ressaltou ele, emendando que “o Candinho jamais seria corrupto, não teve educação na escola, mas tem moral. Isso de algum jeito fica nas crianças e, para mim, não tem preço”.
Para Guizé, o sucesso do trabalho tem a ver com a energia da equipe. “Estamos todos com o mesmo espírito, jogando no mesmo time, felizes. São vários amigos novos e vibramos juntos no trabalho. Não deixamos a peteca cair nunca. Estou muito feliz com o trabalho de todos. É uma equipe fantástica de atores, produção. Sou muito bem amparado pelo Jorge Fernando (diretor). O texto também permite isso, cada dia é uma surpresa nova. Se pensar que a grande sacada aconteceu lá no capítulo 80, mais ou menos, que foi o encontro do meu personagem com a mãe (Anastácia, vivida por Eliane Giardini), e, desde então, ele vai surpreendendo a gente em todo capítulo. As vezes confundo o que estou lendo, gravando e vendo (risos). Tem que estar firme para o personagem não cristalizar, procurar sempre surpreender”, analisou. Faz sentido: “É que a trajetória do Candinho é bem maluca. Eu desisti um pouco de pensar em começo, meio e fim, porque ele passa por muitas situações, tenho que vivo junto dele. Não posso fazer de qualquer jeito. Tenho que estudar o tempo todo, ver possibilidades, camadas. Ele fica rico, volta a ser pobre. Tem encontro com mãe, casamento com Sandra (Flávia Alessandra), a Filó (Débora Nascimento) com a gravidez… tenho que estar muito forte pra acompanhar esse personagem”, disse.
Aliás, o ator acredita veementemente que “existem pessoas como o Candinho”. “Gente boa, pura, que só quer o bem, que tem um amor incondicional à vida. Se eu acredito, acho que vão acreditar também. É difícil, mas como o personagem é muito bem escrito ele não fica piegas. Apesar de ter essa veia lúdica, ingênua, é um texto inteligente e toca as pessoas em um lugar sensível e especial demais”, analisou. E é uma responsabilidade, não? “Muita. Tenho medo sempre antes de entrar em cena, seja no teatro, no cinema, para tocar…”, confessou. Para Guizé, aliás, mesmo com as mudanças na vida do personagem, ele continua com a mesma esssência. “Agora ele tem que cuidar da família, então tem mais responsabilidade. Mas continua um cara simples, mais duro por saber que o mundo tem gente ruim, mas ele é o homem da casa. Antes, o Candinho não tinha ninguém efetivamente. Agora as pedras no caminho ele usa para construir um castelo. É bem isso que ele está formando: uma família. Com alicerce no amor”, disse. E o que Sérgio espera para o final do personagem? “Acho que ele vai ter tudo, não é? Mãe, pai, filho… eu colocaria todos juntos, com aprendizado, os vilões olhando o mundo de um jeito bom. Terminaria ‘Êta mundo bom’ em uma festa de alegria e sentimentos positivos”.
Aliás, há necessidade de ver positividade na televisão, não, Guizé? “Total. Antes de começar a novela, nós pensávamos nisso. Acho que a mensagem de que ‘tudo que acontece de ruim na vida é para melhorar’ veio como uma luva no momento que estamos vivendo no mundo, não só no Brasil. Estamos carentes de tanto sentimento bom, de coisas lúdicas que nos levam para outro mundo que não esse, é bom. Tenho procurado não saber o que acontece fora para não contaminar aqui, porque a realidade é muito ruim, é desesperadora. Fico feliz que nosso trabalho chega quase como uma mão quente nas costas. Mesmo sabendo que é ficção, é possível, exitem pessoas boas no mundo”, destacou. “E sabíamos perfeitamente da importância disso tudo nesse momento. Eu estava preparado para carregar esse peso. Pesa, mas é bom, porque é uma mensagem linda, importante. Fico pensando nas crianças, quando mandam fotos de festa junina fantasiados de Candinho… é que em criança toca em um lugar muito mágico”, opinou.
Falando em crianças e na empatia por elas: quando vêm as suas? “Talvez em três anos. Quem sabe? Desde pequeno gosto demais de crianças e falo que quero ser pai, mas temos que trabalhar muito. Preciso trabalhar e construir algo para que meus filhos tenham um futuro bom e Deus me livre colocar um filho no mundo para não cuidar”, disse ele, que namora a atriz Nathalia Dill desde que a conheceu nos bastidores da novela “Alto Astral”, em 2015. “Ela vai gravar uma novela que também vai ocupar muito tempo e eu vou estar do lado, apoiando, mas os filhos vão ser com a Nathália, claro”, declarou ele, que, assim que se despedir de Candinho, embarca para a França: “Vou terminar de rodar o filme ‘Tudo bem, tudo bom’, que começamos antes da novela, mas fui escalado, depois teve o atentado em Paris…”, explicou. E para a TV, Sérgio? “Ainda não sei de nada, as pessoas falam, mas nada certo por enquanto”. Nós já ficamos torcendo.
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