Emilly Nayara vive a primeira menina negra em ‘Turma da Mônica’: ‘Amo meu cabelo, minha cor e meus traços’

*Por Thaissa Barzellai

Com apenas 13 anos, a atriz mirim Emilly Nayara já traz no currículo um feitio histórico para a cinematografia infantil brasileira. Depois de 60 anos, o clássico literário ‘A Turma da Mônica’ inseriu uma menina negra nas histórias em quadrinho e a jovem foi escolhida para levar essa responsabilidade às telonas. Como a jovem Milena em ‘Turma da Mônica – Lições’, a atriz espera que a personagem inspire outras crianças negras, que agora poderão se reconhecer em uma das principais narrativas que vivem no imaginário cultural de diferentes gerações. “É uma alegria ajudar a levar uma personagem tão representativa ao cinema. Uma grande vitória estar vivenciando a Milena e ser um ponto de referência para todos que me amam e estão comigo sempre, só tenho a agradecer a cada um que sempre me apoiou”, conta.

”Cada dia mais eu tenho orgulho das minhas origens e de quem eu sou. Amo meu cabelo, amo minha cor, amo meus traços, eu me amo do jeitinho que sou. Para uma jovem, saber sobre suas origens é muito importante pois ajudará na sua autoestima e formação como pessoa na sociedade”

Dirigido por Daniel Rezende, o sucesso de bilheteria, que sucede o longa-metragem ‘Turma da Mônica – Laços’, acompanha, sob um olhar mais maduro e sensível, as dores e reflexões vividas na infância e no processo de crescimento. Dessa vez, a aventura na Rua dos Limoeiros começa quando Mônica (Giulia Benite), Cebolinha (Kevin Vechiatto), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) se esquecem de fazer o dever de casa e decidem fugir da escola. O plano dá errado e as crianças são separadas pelos pais de Mônica, que a colocam em outro colégio. Na trama, Milena, que se torna amiga dos protagonistas ao conhecer a Magali, é uma menina de jeito meigo e afável, apaixonada por animais e, ainda mais, por si mesma. O cabelo afro é o maior orgulho da jovem, uma narrativa que ressoa com milhares de jovens negras que são bombardeadas e influenciadas por muitos a seguirem padrões estéticos, cuja única função é exaltar a visão hegemônica da sociedade. 

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Para Emilly, que foi ensinada desde cedo a ter consciência de suas raízes e a celebrá-las, o contato com referências semelhantes é essencial para o processo de autoconhecimento e desenvolvimento de todo jovem. “Meus pais sempre me mostraram tudo de bom sobre a minha cultura, me dando exemplos de pessoas importantes que fizeram e fazem muito por nós. Foi muito bom aprender desde cedo sobre minhas raízes, cultura e ancestralidade. Cada dia mais, eu tenho orgulho das minhas origens e de quem eu sou. Amo meu cabelo, amo minha cor, amo meus traços, eu me amo do jeitinho que sou. Para uma jovem, saber sobre suas origens, é muito importante pois ajudará na sua autoestima e formação como pessoa na sociedade”, reflete a atriz que tem como maior inspiração a atriz e diretora Zendaya. 

Apesar de estar há quatro anos no ramo, o papel no longa foi apenas o seu segundo grande trabalho como atriz e a oportunidade para ingressar no universo criado por Mauricio de Sousa surgiu logo depois que Emilly começou a estudar teatro. Fã declarada da turminha, a atriz, que, assim como muitos brasileiros, aprendeu a ler com as aventuras vividas nos gibis, confessa que ficou nervosa no primeiro dia de gravação, mas logo depois já estava se sentindo em casa: o medo e vergonha eram coisas do passado. ‘’Desde o primeiro contato fui muito bem recebida por todos eles e isso me ajudou muito, pois confesso que tinha muito receio de como seria esse primeiro encontro. A cada dia era um aprendizado”, relembra. 

Do mundo da moda, Emily nunca pensou em seguir a carreira de atriz e investia em um currículo de campanhas e desfiles para grandes marcas. Diante de um âmbito profissional conhecido por perpetuar padrões estéticos irreais, criando um ambiente de trabalho extremamente tóxico, Emilly Nayara desde cedo manteve o pé firme quando o assunto era a sua autenticidade e nunca abriu mão disso, por mais difícil que fosse. Depois de fazer um comercial de TV para uma famosa rede de lojas de construção e decoração, ainda que a paixão pela moda esteja presente na sua vida, o chamado do teatro ecoou mais alto e foi nos palcos que a atriz encontrou o seu lugar. “Minha mãe me inscreveu em uma escola de teatro. Foram dois anos incríveis. Apesar de eu ser uma menina animada, risonha, eu tinha muita vergonha do público e o teatro foi o que mais me ajudou nessa questão. Foi a partir daí que me encantei em atuar e o meu foco agora é na atuação’’, afirma a atriz que não dispensa trabalhos em catálogos e desfiles. 

O primeiro trabalho na televisão como atriz foi em uma pequena participação na série ‘Bugados’, do canal Gloob. O curto tempo no projeto foi o suficiente para se tornar inesquecível para Emily, que teve a oportunidade de conhecer os principais atores e diretores. Entre um projeto e outro, Emilly Nayara não subestima os estudos e equilibra os deveres da profissão com os escolares com êxito: para o orgulho dos pais, notas baixas nunca foram uma questão. ‘’Eu nunca tive nenhum problema com minhas notas, concentração ou algo do tipo na escola quando comecei nessa correria do meu sonho/trabalho. Como meus pais dizem “estudo acima de tudo” então o mais importante é ter meu conhecimento, ser formada, ser uma boa aluna’’, diz a atriz que deseja aperfeiçoar a sua técnica e aptidão com cursos, estudo de línguas e aulas de música. 

“É uma alegria ajudar a levar uma personagem tão representativa ao cinema, é uma grande vitória estar vivenciando a Milena e ser um ponto de referência para todos que me amam e estão comigo sempre, só tenho a agradecer a cada um que sempre me apoiou”

Além da carreira na atuação, a atriz tem planejamentos concomitantes e sonha em se formar na área de tecnologia e inovação, um interesse que começou a partir de um dos seus hobbies, a edição de vídeos. Como uma representante da geração Z, Emilly acredita que a profissão será uma das tendências do mercado de trabalho, refletindo as demandas da cultura digital cada vez mais iminentes na sociedade. ‘’É uma área que me atrai muito e sinto que tenho muita facilidade com edição, programação, audiovisual. É a profissão das próximas gerações e que irá comandar o mundo”, conta a atriz que deseja realizar um intercâmbio em Nova Iorque. 

Com o sucesso do longa, que já levou mais de 500 mil pessoas para as salas de cinema e é considerado o maior lançamento nacional desde a reabertura dos cinemas, Emilly Nayara espera conquistar ainda mais oportunidades na indústria e vislumbra uma trajetória artística onde a sua visibilidade e voz irão imperar como exemplo dessa nova geração de artistas negros no Brasil. “Meus objetivos são conquistar cada vez mais pessoas para conhecer minha história, meu trabalho, e que ao longo dos anos eu tenha cada vez mais visibilidade e voz. Que venham mais trabalhos incríveis!” Que assim seja!