Desde antes de O Sétimo Guardião estrear, nós já havíamos comentado que o núcleo de Carolina Dieckmann e Marcelo Serrado daria o que falar. Dito e feito. A família Ferreira borbulha a cada capítulo com temas urgentes que estão sendo discutidos na nossa sociedade atual como homofobia, machismo e patriarcado. Um dos grandes pivôs desta discussão está encarnado no personagem de Eduardo Speroni. Com o sonho de ser bailarino, o jovem de cidade pequena sofre nas mãos de um pai conservador que enxerga a dança como um espaço unicamente feminino. “Frente a esta estrutura mais antiga na figura paterna, estamos conseguindo levantar críticas ferrenhas ao machismo e o patriarcado, deixando de lado a ideia de que cada gênero possui as suas funções específicas. Abordar este tema e levantar esta discussão, para nós, atores, é muito bacana. Gostamos de tocar na ferida. Queremos levantar nas famílias brasileiras este questionamento visando a igualdade entre homens e mulheres. Não existe esta divisão de gênero”, avisou o ator Eduardo Speroni, que vive o Bebeto na trama das 9h.
Os embates familiares não param por aí. Além de lidar com a figura de um homem de família especialmente dominador e conservador, o papel de Eduardo Speroni também precisa lidar com as frustrações paternas. Junto com o preconceito com relação à dança, o personagem de Marcelo Serrado ainda queria que o filho fosse um jogador de futebol famoso que pudesse manter a família com o seu dinheiro. “Não se pode depositar em cima do filho sonhos que seguem os seus próprios ideais. Os pais precisam dar apenas um apoio emocional e financeiro, se possível, para os mais novos conquistarem o seu espaço”, salientou.
Já deu para ver que cenas fortes de embate familiar são bem comuns nesta família disfuncional. Para isso, Speroni garantiu contar com uma forte parceria com os atores Carolina Dieckmann e Marcelo Serrado. “Eles são super experientes e, ao mesmo tempo, muito generosos. Estamos respeitando muito este trabalho, porque entendemos a importância deste papel social. Quando vamos fazer uma cena de maior embate familiar, tentamos chegar mais cedo para bater o texto juntos. Queremos entregar os melhores personagens possíveis”, salientou.
A parceria do núcleo da Família Ferreira seria irrelevante caso a preparação de cada um deles não tivesse uma carga extra de dedicação. E este foi o caso de Speroni. O ator precisou ter aulas de street dance com a coreógrafa Sonia Destri, fundadora e diretora da Companhia Urbana de Dança, que, em sua maioria, é formada por dançarinos vindos da periferia e que hoje já se apresentaram até na Alemanha. Durante o aprendizado, ele conseguiu conversar bastante com os jovens que faziam parte da cia. O artista teve a oportunidade de ouvir depoimentos parecidos com aqueles que estava vivendo em cena. “Eles são muito feras”, comentou. Além destas conversas, ele também foi atrás de histórias na internet e discutiu o tema com amigos para aprimorar ainda mais a atuação. “Ouvi muitos homens, em sua grande maioria, comentarem sobre este preconceito que sofreram, porque gostavam da dança”, relembrou.
Até hoje ainda surgem depoimentos de pessoas que se identificam com o Bebeto nas redes sociais de Speroni. Diferentemente dos relatos mais tristes que escutou no início, através do feedback ele está conseguindo perceber o impacto do personagem na casa dos brasileiros. “Muitas pessoas contaram que haviam desistido de resistir dentro de casa por conta do preconceito dos familiares, mas, por causa do meu personagem, voltaram a dançar. Os depoimentos são um sinal de que estamos no caminho certo. Fico muito feliz de poder transmitir esta mensagem e efetuar mudanças”, comemorou. Mas nem tudo são flores. O artista também recebe comentários de espectadores que possuem ideiais parecidos com o do pai na novela.
Speroni fez participações em vários trabalhos marcantes e, ao mesmo tempo, polêmicos do audiovisual. Sempre com papéis fortes, ele atuou em Impuros, da FOX, e também em Sob Pressão, da Globo, onde se discute, respectivamente, o tráfico de drogas e a precariedade da saúde pública. “Se tem algum trabalho que foge dos meus ideais ou que é politicamente incorreto, nem tento fazer. Sendo assim, gosto de papéis que possuem uma densidade crítica muito maior. Talvez por eu buscar isto, eles acabam aparecendo naturalmente. Fico feliz de conseguir tocar em todas as esferas da sociedade”, salientou. Com planos de voltar para o teatro depois que a novela terminar, Eduardo Speroni garantiu que quer se manter fazendo sempre um pouco de tudo passando pelo teatro, cinema e TV. Vai com tudo!
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