*Por Karina Kuperman
Em “Orfãos da Terra”, Muna se divide entre a dança do ventre e o trabalho como garçonete na casa de chá da família. Na vida real, sua intérprete, Lola Fanucchi, também tem duas paixões: o teatro, caso de amor antigo, e, agora, a televisão. Essa, aliás, chegou em sua vida de uma forma inesperada. “Eu estava em cartaz no final do ano passado com a peça ‘Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812’, e o Gustavo Fernandez, diretor artístico da Globo, foi assistir e gostou do meu trabalho, pediu para a produção entrar em contato comigo e, assim, fui convidada para um teste. Quem me contou isso foi o Gabriel Leone, que fazia a peça comigo até, e já conhecia o Gustavo. Quando ele disse eu já fiquei feliz demais. Três dias depois do teste, tive o resultado e fiquei muito honrada. Ainda mais de a oportunidade ter surgido através do teatro”, diz. No entanto, Lola ressalta as enormes diferenças entre os dois meios.
“Eu imaginava que fosse diferente mas não tanto. É muito. As habilidades do ator são bem distintas em cada um dos meios. Estou aprendendo demais e tive sorte de pegar uma equipe maravilhosa, tipo dos sonhos, todo mundo competente, disposto a ajudar, o elenco também. Me sinto aprendendo no melhor lugar que poderia. O teatro é ao vivo e tem que funcionar, já na TV tem a edição, mas, por outro lado, a televisão exige repetições, tempo de espera, gravar fora de ordem… fora o fato de a novela estar sendo escrita enquanto acontece, então não sabemos a curva do personagem. Mas poder assistir é muito gostoso”, comemora ela, que é fã da trama: “Está tudo lindo demais. Assistir é um segundo momento de aprendizado, a gente vê o que não funciona tão bem, o que os colegas fazem de legal. Ao vivo na hora de gravar achamos que algo não funcionou e na TV funciona demais”, conta.
Para viver Muna, Lola teve um desafio especial: a dança do ventre. “As pessoas que estudam há mais tempo sabem quão enorme é a dificuldade. Quando soube que a minha personagem era professora de dança do ventre pensei que teria facilidade, venho do teatro musical, desse meio, me acho coordenada… pensei ‘a Shakira faz’. Mas é difícil demais. É um controle dissociado do abdômen, quadril. Fiz antes da novela e agora continuo por conta própria para não passar tanta vergonha na televisão”, ressalta ela. “Eu rezo para a Jade todos os dias da minha vida, quando leio o script já faço minha oração”, brinca, referindo-se à inesquecível personagem de Giovanna Antonelli em “O Clone”, trama escrita por Gloria Perez e veiculada em 2002. “Eu assisti bastante coisa da Giovanna, ela estava belíssima em ‘O clone’, espero fazer jus a esse legado, mesmo porque o pessoal da dança do ventre vem me escrevendo bastante, superanimados com a novela, é um incentivo a mais para a dança”, diz. Se, nas ruas, tem sido sucesso, para Lola, ainda há o que melhorar. “Mulher é complicado, de barriga de fora então… sempre achamos que precisamos perder dois quilinhos. Eu sou meio crítica, queria fazer melhor, mas existe a limitação de não ter tanto tempo de ensaio”, avalia.
Falando em sucesso, Lola, que é cria do teatro, ainda tenta assimilar toda visibilidade de uma trama global. “Eu já senti principalmente diferença nas redes sociais, mandam muita mensagem, é até difícil responder todo mundo, mas é muito carinho, as pessoas estão gostando muito da novela, a resposta é muito positiva. Na rua às vezes acontece também, mas continuo fazendo tudo que eu fazia antes, andando de metrô… uma ou outra pessoa reconhece, pede foto, mas significa que o trabalho é admirado. Estamos em uma história que esperamos que realmente toque a vida das pessoas, é uma novela de empatia e é um momento necessário para se falar disso”, diz, referindo-se ao tema dos refugiados e que levanta questões importantes como a revalidação de diplomas universitários para imigrantes, por exemplo – o que foi elogiado, inclusive, pela ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), agência da ONU.
“Sendo super honesta: eu conhecia de maneira bem superficial o drama dos refugiados. Acaba que aqui no Brasil ficamos distanciados disso. Quando passei no projeto tivemos um processo de preparação, foi muito rico, a produção e direção colocaram a gente em contato com refugiados, eles conversaram com os atores, pudemos mergulhar fundo, ver de perto o sofrimento dessas pessoas. Sinto que existe uma questão de vir pro país, as pessoas acham que vão roubar vagas de emprego, mas quem tá em situação de refúgio não escolhe isso, não é como um imigrante. Eles saem de seus países, deixam tudo que tem, porque correm riscos de vida. É triste”, destaca. “É importante se colocar nesse lugar, se fosse comigo eu gostaria que me abrissem as portas. As autoras, Duca Rachid e Thelma Guedes, estão falando do assunto com maestria. Os primeiros capítulos foram muito intensos se comparados com outros produtos das 18hs. É um assunto delicado e sensível. Existem núcleos cômicos, afinal, ainda é uma novela, tem a estrutura de folhetim, mas é, de fato, um assunto sério e que merece essa exposição que uma novela consegue dar. É uma honra conhecer e contar esse tipo de história. Nós temos até mesmo colegas de elenco que são refugiados. Eu não podia ter sido mais feliz em uma estreia na TV com projeto desses”.
Artigos relacionados