Em “Sob Pressão”, Marjorie Estiano interpreta médica de hospital público e mostra o outro lado da notícia sobre a falta de recurso: “Impacto desses problemas”

O entretenimento não é lugar apenas de romance e comédia e isso já sabemos. Com a arte cada vez mais engajada e refletindo as questões contemporâneas do nosso dia-a-dia, “Sob Pressão” estreia nesta terça-feira (25/07) na Globo como uma reafirmação desta realidade. Para além dos jornais, a série irá mostrar a consequência das notícias de roubo e desvio de verba da saúde pública em uma história que se passa em um hospital público. Na pele da médica Carolina, uma das doutoras da emergência, Marjorie Estiano dá continuidade à experiência hospitalar que conheceu no filme homônimo de Andrucha Waddington, que originou a nova trama da Globo.

Para a atriz, as histórias narradas em “Sob Pressão” apresentam um novo lado de situações que já conhecemos há anos. “Diariamente, a gente fica sabendo dos recursos que são desviados e da falta de dinheiro para a saúde por causa dos noticiários. Então, acaba que nada do que contamos é novidade. Porém, na série, mostramos as consequências e aprofundamos essas questões em cenas que revelam a vida dos pacientes e dos médicos que estão envolvidos nessas questões. Ou seja, depois de ver no jornal que não tem leito em um hospital, vemos na série os impactos desses problemas. Através do entretenimento, a gente transforma a vida dos médicos e dos pacientes e todas as temáticas que eles trazem, como política, social e ética”, disse a atriz que destacou que a série vai além de um simples objetivo de denunciar o caos da saúde pública brasileira. “Não é militante. Os episódios espelham as qualidades e os defeitos deste contexto. Porém, como temos muito mais lacunas, acaba esta sendo uma consequência”, argumentou.

Na série “Sob Pressão”, Marjorie Estiano será Carolina, uma das médicas da emergência de um hospital público (Foto: Divulgação/Globo)

Como personagem deste contexto, Marjorie Estiano será Carolina. Ao lado da equipe médica do hospital, ela precisará tomar escolhas e decisões que afetam diretamente a vida de diversas pessoas que dependem do profissionalismo desses doutores. Aliás, na visão de Marjorie, também poderiam ser chamados de heróis. “É muito delicado ter que conviver com essa escolha de quem opta por uma profissão que é tão gloriosa e também difícil. Quando a gente fala de vida e morte, o médico assume a responsabilidade por garantir que aquela pessoa sobreviva. Tudo depende dele”, comentou a atriz que confessou ter um novo olhar sobre a saúde pública e o exercício da medicina no Brasil. “Quando a gente sai da teoria e vai para a prática, os assuntos e os personagens acabam ganhando outra consistência dentro da gente. É muito mais mobilizador e te afeta muito mais do que quando a gente apenas lê sobre o assunto”, completou.

Outra questão que Carolina traz para “Sob Pressão” é a crença em Deus. Como destacou Marjorie Estiano, a personagem não declara qual a sua religião, mas destaca a todo momento a presença de algo maior naquele ambiente e regendo aquelas histórias. “Ela não é religiosa, mas acredita que existe algo além da matéria. Nesse sentido, eu super concordo com a Carolina. Acho que a alma e o espirito podem criar tanto a doença quanto a cura. A medicina e todo o estudo da matéria precisa estar aliado com o espírito e algo superior. São pontos integrados”, contou Marjorie que, além da questão da fé, também tem um pouco de romance como fôlego para a personagem. Na série, sua personagem se envolve com Evandro, médico interpretado por Julio Andrade que fica viúvo no primeiro episódio. “A gente se relaciona com as pessoas que mais convivemos. Então, é natural que exista uma aproximação entre eles. Porém, esse casinho de amor representa menos de 20% da trama dos episódios. A gente fala bem mais das escolhas que precisam ser feitas no hospital, nas questões que abordamos e do exercício da medicina em si”, apontou.

Marjorie e Julio Andrade na série (Foto: Divulgação/Globo)

Mas, se a fé e o amor representam um respiro em meio à tensão dos episódios, a parte médica é o combustível deste sentimento dominante. Para interpretar a doutora Carolina, Marjorie Estiano contou que passou uma temporada em hospitais públicos do Rio de Janeiro e viveu de perto a realidade retratada na série. “Dentro do laboratório, o que mais me impressionou foi o entendimento do oficio e da profissão do médico. Junto a isso, a vulnerabilidade do paciente, que é quem precisa e conta com o serviço público de saúde”, lembrou Marjorie que, apesar de afirmar que não tem problema em ver sangue, não escondeu a sensação ao ver a anatomia humana sobre a mesa. “No começo do laboratório, foi um pouco impactante ver corpos abertos, afinal, nós temos uma relação de cuidado e zelo conosco. Nosso corpo é a nossa casa. Então, quando a gente vê tudo aberto e entendemos como os órgãos funcionam, torna-se a experiência muito impactante. Porém, depois, a gente vai se acostumando e aquele ambiente passa a fazer parte da nossa realidade como ofício mesmo”, contou.

E ela realmente precisou se acostumar. Entre as cenas de “Sob Pressão”, diversas vezes Marjorie Estiano está na sala de cirurgia operando algum paciente da trama. Sobre essas experiências, que na série foram feitas com próteses e equipamentos cenográficos, a atriz confessou que foram as cenas mais difíceis da temporada. “As cenas na mesa de cirurgia foram mais chatinhas porque são extremamente técnicas. O tempo todo precisamos parar por causa dos equipamentos e da maneira como lidar. Então, não é algo fluido como um diálogo”, disse a atriz que o tempo todo foi acompanhada por uma equipe de médicos para garantir a credibilidade da série.

Nas cenas na mesa de cirurgia, Marjorie foi acompanhada por uma equipe de médicos para garantir a credibilidade da série (Foto: Divulgação/Globo)

Neste mergulho tão profundo de Marjorie Estiano na questão da saúde pública do Brasil, a atriz também se deparou com outra questão. Se para a artista a série é uma maneira de mostrar as consequências da notícia que vemos no jornal, para a cidadã é mais um motivo de angústia e revolta. Porém, a experiência a coloca em um lugar de esperança. “É muito mobilizador a gente poder contar uma história em outro lugar diferente dos noticiários, que já estão tão banalizados. Por isso, nós criamos expectativas de mobilizar, atingir e poder transformar quem assiste a partir do que interpretamos”, disse Marjorie que tem a utopia de que a série impacte diretamente na melhora do serviço à população. “Eu acharia maravilhoso que o poder público se mobilizasse para resolver o que está sendo mostrado na série”, completou.

Fora a série “Sob Pressão”, que estreia dia 25 de julho, mas já está disponível no Globo Play, Marjorie Estiano contou que está com diversos trabalhos para o cinema e projetos para a música. “Eu tenho uma gama de filmes para serem lançados, mas ainda não sei quando deverão estrear. Na música, eu estou em um processo. Agora, eu quero dar uma isolada para passar por uma reciclagem na composição para os meus projetos para frente”, sintetizou a atriz e cantora Marjorie Estiano.