*Por Brunna Condini
“Ele não é mais um personagem bandido na minha trajetória como ator. Ele é “o bandido”. E essa é “a série”. Vocês vão ver”, diz Jonathan Azevedo, sobre seu trabalho em ‘O Jogo Que Mudou a História’, produção Globoplay que estreia em 13 de junho, criação de José Júnior, fundador do AfroReggae e de outras séries de sucesso como ‘A Divisão‘ e ‘Arcanjo Renegado’.
Na pele de Gilsinho, personagem inspirado no traficante Escadinha, codinome de José Carlos dos Reis Encina (1956-2004) – um dos fundadores da facção criminosa Comando Vermelho, que depois tornou-se letrista de rap – ,Jonathan dá vida na ficção também a um chefe do tráfico, respeitado pelos moradores da comunidade ao demonstrar ter como sua maior preocupação a qualidade de vida deles. “Viver alguém que realmente existiu e faz parte da história de onde venho, me conquistou a fazer esse personagem. Para compor o Gilsinho, fui conversar com a minha mãe e com o meu pai, que conhecem a história que o inspirou. Foi uma pesquisa em que eu pude partir não do Jonathan, mas sim do lugar que eu, minha família e meus amigos vieram”, diz o ator, que vive em uma comunidade, o Vidigal, até hoje.
Após sete anos, o ator teve seu contrato de exclusividade com a TV Globo encerrado. Ele esteve no ar recentemente em ‘Terra e Paixão’ (2023), e foi na Globo que ficou conhecido do grande público em ‘A Força do Querer’, como o bandido Sabiá, pelo qual teve a performance elogiadíssima e ganhou prêmio de Ator Revelação no Domingão do Faustão’, em 2017. “O que construímos juntos mudou a minha vida. E graças a Deus, hoje consigo dar uma vida melhor para a minha família. Mas continuo trabalhando, buscando o meu espaço”. E pontua:
Ele comenta se essa atenção para não repetir um padrão de personagens, seria para não ficar em um determinado estereótipo no audiovisual. “Reflito muito dentro do que as pessoas que me deram oportunidade também de desenvolver o meu trabalho falam, como o Seu Jorge, o Babu Santana. São atores que quando tinham outro trabalho, sempre me indicavam para fazer os personagens, e foi com eles que aprendi que precisamos não só mudar o padrão dos personagens, mas o padrão das pessoas que interpretam os personagens. São questões muito delicadas que precisamos refletir juntos, quando alguém vai escrever um roteiro, escolher um elenco”, observa.
“Quando chegou a oportunidade de interpretar o Gilsinho, dentro de todo estudo e de tudo que tenho como objetivo na minha carreira, pensei que se eu não contasse a minha própria história, a minha realidade, eu deixaria para outra pessoa contar. Foi aí que decidi fazer novamente outro bandido e experimentar novas facetas como ator. É um outro universo dentro de tudo que já eu já vivi na ficção. E é nesse lugar que eu quero tocar, nesses muitos ‘Jonathans’ que existem dentro de mim”.
Nada é fácil para quem vem de onde eu vim. Não consigo relaxar achando que o ‘jogo’ está ganho. Acredito que a gente tem que estar sempre regando as sementes que plantamos. E ali (na Globo) foi um espaço para ganhar terreno e também plantar novas sementes. Sou muito grato e hoje mudam as possibilidades do que posso oferecer para minha família, para que tenham uma vida mais tranquila. Mas no resto, continuamos ralando para caramba para levar o melhor para o Brasil e para o mundo – Jonathan Azevedo
Agora Jonathan se dedica à sua empresa, Carta Preta, que busca difundir novos talentos, e também revela o desejo de alçar voos além do país como ator. “Meu maior sonho hoje é me realizar também como empreendedor, através da Carta Preta, levando-a para o Brasil e para o mundo, fazendo parceria com grandes empresas e oferecendo possibilidades para jovens, como eu já fui um dia, viverem bem, buscarem conhecimento e ‘correrem na frente’ dos seus sonhos, porque quem ‘corre atrás’ chega atrasado. Também desejo poder interpretar personagens que transpassem a realidade brasileira e alcancem uma realidade universal. Enfim, estou estudando inglês para isso, porque quem quer falar com o mundo, tem que falar outra língua e a busca é incessante”.
Sobre a Carta Preta
“Esse é um sonho que está se concretizando, devido a muitas coisas que passei para poder buscar conhecimento e ser a pessoa que sou hoje. Então, não quero abrir caminhos só para o meu filho (Matheus Gabriel, de 4 anos), para que não passe dificuldades para ter uma educação bacana, mas para as pessoas que vem de comunidades, das periferias ou de onde for. Com a Carta Preta busco conversar com possibilidades que a minha carreira ofereceu de conhecer empresários, empresas gigantes e magníficas, que também se preocupam com seus funcionários, com o seu público, que se preocupam com quem compra, e quem, de fato, está investindo na sua marca. É preciso dividir o conhecimento, as nossas riquezas. A Carta Preta quer dar acesso a esses jovens, para que eles também possam crescer e dar acesso a outros, e aos empresários para conhecerem novas realidades, e serem efetivos na mudança desse Brasil que a gente quer ver cada dia melhor. Nosso desejo e fazer essa ponte”.
Uma das minhas maiores alegrias na vida, é que por ser filho adotivo, meu pai e minha mãe batalharam muito para me dar o melhor de tudo que pudessem. A melhor educação, cuidado, afeto. E é isso que eu tento levar como prioridade na minha arte. Tento levar para cada um que acompanha, me encontra, um pouco desse amor, desse acolhimento que recebi, e que me fez resiliente, me traz paz. Sou um artista que se preocupa com o outro, e é esse outro que vai me trazendo possibilidades – Jonathan Azevedo
Investindo na melhor versão
Aos 38 anos, o carioca está focado na construção da sua carreira e em autoconhecimento, e compartilha como tem cuidado da saúde mental, emocional e espiritual hoje. “Muita Érica na vida, muita Érica (risos). Érica é minha psicóloga e eu não abro mão dela por nada. Amo muito a psicologia, porque foi uma coisa que mudou a minha vida. Queria que todos tivessem a oportunidade de ter acesso à terapia. Isso também é um dos projetos da Carta Preta, levar esse acompanhamento para profissionais, não importa qual seja a área. Isso modificou a forma que vejo o mundo, que olho para mim. E falando sobre fé, sou apaixonado por estudar o assunto. Acredito muito em Deus e cada vez mais pesquiso sobre religiões africanas, religiões em geral, porque onde tem fé, tem esperança, e é lá que eu quero morar. Trabalho minha fé sendo e levando amor todo dia”.
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