Em “O Sétimo Guardião”, Theodoro Cochrane comenta o sucesso do personagem: “Nenhuma crítica negativa ainda”


O ator, que também é DJ, figurinista e diretor de arte, falou ainda sobre a atual desvalorização da cultura no Brasil: “Eu espero que isso seja apenas exagero e papo de campanhas, nesse extremo calor do momento político”

A atual novela das 21h da Globo, “O Sétimo Guardião”, mal começou e já é uma das queridinhas dos telespectadores. Um dos responsáveis por esse apelo positivo é o ator Theodoro Cochrane, que interpreta Adamastor, ao lado de outros grandes profissionais, como Ana Beatriz Nogueira e José Loreto. Tratando de autoaceitação e sexualidade, o personagem de Theodoro faz com que o público do outro lado da telinha possa refletir sobre temas ainda polêmicos. O ator, ao dar uma escapulida de Serro Azul, conversou com o site HT sobre esses tabus e  vida pessoal.

Artista da cabeça aos pés, Theodoro Cochrane revelou que sua maior paixão é atuar (Foto: Edu Rodrigues)

Com uma carreira consolidada no teatro, Theodoro, às vezes, ainda é reconhecido por alguns como o filho da apresentadora de sucesso Marília Gabriela, mas se esse pensamento ainda persiste, chegará logo ao fim. Isso porque o seu personagem em “O Sétimo Guardião” vem arrancando elogios das pessoas de casa e consequentemente aumentando a audiência da novela. Dando vida ao Adamastor, fiel escudeiro de Ondina (Ana Beatriz Nogueira), ele conseguiu a oportunidade perfeita de fazer o que ama. “Esse personagem, que vai do início ao fim em uma novela das nove, com um dos nossos maiores autores, que é o Aguinaldo Silva, e um dos nossos maiores diretores artísticos, que é o Rogério Gomes, o Papinha, no maior canal televisivo do país, me agrega muito. É uma grande visibilidade. Fazer um papel de destaque no horário nobre é uma oportunidade que eu nunca tive. É um personagem muito rico e cheio de camadas, que me desafia enquanto ator e aprimora o meu ofício. Se eu não estudar muito, ele pode cair em uma caricatura e não é isso que eu quero. Não vou cair nessa armadilha”, afirmou.

Destrinchando melhor o seu personagem, o artista explicou que ele é administrador de uma pousada, durante o dia, e de um cabaré, à noite. Trazendo referências do João do Rio, do Drácula e também da Cruella, dos 101 Dálmatas, Adamastor demonstra confiança, mas é mais sensível do que parece. “Por mais que pareça ser uma pessoa forte e bem resolvida, ele também se mostra muito frágil por uma razão que eu não sei”, explicou, ainda mantendo o mistério sobre os futuros desdobramentos que a história do personagem trará. Porém, a sexualidade de Adamastor é um dos pontos que não é mais segredo para ninguém. Na trama, o administrador não aceita bem o fato de ser homossexual. “Meu personagem sofre muito bullying e por ser uma cidade de interior, esse drama é muito mais expressivo e intenso, né? Ele não consegue assumir a sua sexualidade”, afirmou, revelando que o personagem é claramente apaixonado por Junior, interpretado por José Loreto.

Para Theodoro, trazer esse tema para a grande massa da população que assiste ao horário nobre da Globo é importantíssimo: “É maravilhoso e essencial levantar questionamentos e a aceitação do diferente de uma maneira maciça, na casa de todo mundo. Muitas pessoas não têm a abertura para o que é diferente”. E continuou relacionando o papel ao contexto atual do país: “Estamos em um momento de muita intolerância e passamos muitos anos tentando evoluir. Infelizmente, ainda somos o campeão mundial de homicídios da comunidade LGBTQ+. É muito importante mostrar que o diferente pode ser aceito. É a riqueza do ser humano em plena dramaturgia”. Apesar do momento de intolerância citado pelo artista, ele revelou que ainda não recebeu nenhuma crítica negativa ao seu trabalho: “Eu nunca tive uma resposta tão grande assim. Reativei o meu Twitter, estou me envolvendo mais com o Instagram e tenho recebido um carinho gigante. Até me dá um pouco de medo, porque não recebi nenhuma crítica negativa ainda. O retorno tem sido muito legal e satisfatório”.

Para ele, é uma tristeza enorme lidar com a intolerância da sociedade (Foto: Edu Rodrigues)

Para além do seu lado como ator, Theodoro também é DJ, figurinista e diretor de arte. Formado em teatro e em desenho industrial, ele já trabalhou como figurinista em várias produções teatrais importantes como “Aquela Mulher” e “Escuro” e as óperas “Pagliacci” e “Cavalleria Rusticana“, que fez em Brasília e para a qual desenvolveu mais de 120 figurinos.  Foi indicado ao Prêmio Shell, na categoria Melhor Figurino, com o espetáculo “Como me tornei estúpido” e, em 2010, ganhou o prêmio com o figurino do espetáculo “Escuro”. Apesar dessa promissora carreira em outras vertentes da arte, ele não escondeu o seu favoritismo pela atuação. “É a minha primeira paixão, o que mais me encanta. A arte de interpretar me deixa pleno. Estar em cena é onde eu atinjo o meu maior prazer”, admitiu. E prosseguiu relembrando a influência da sua infância na construção dos seus hábitos e gostos: “Eu cresci em meio a muitos estúdios de televisão, porque sempre ia assistir minha mãe gravar os programas dela. Então, desde cedo eu me encantei por esse fazer artístico. A nossa programação familiar de final de semana era ir sempre a museus e galerias. Meu pai também sempre foi um cinéfilo que me levava para assistir filmes, na época do vídeo cassete ainda. Lembro que fazíamos maratonas de filmes em casa. Isso foi me envolvendo ao universo da arte e eu fui gostando mais e mais”.

Para alguém tão ligado à arte como ele, é uma enorme decepção ver a atual desvalorização da cultura no Brasil. Relacionando essa situação ao momento político, Theodoro lamentou: “É uma tristeza inacreditável cogitarem a possibilidade de não exercerem a arte. A liberdade que ela nos proporciona não existe em outro lugar. São menos tabus, é um campo maior para o debate de diversos temas, não podemos perder isso”. Dedicando-se integralmente à novela até o seu final, ele revelou a possibilidade de aparecer em alguns filmes e confirmou a presença na série americana da HBO, “The American Guest”, interpretando o Major Paixão. Ansiosos para conhecer mais um lado de Theodoro Cochrane? Nós também!