Em meio a especulações sobre indicação ao Oscar, o premiado “Que horas ela volta?” chega ao Rio de Janeiro com pré-estreia lotada de famosos


A diretora e roteirista Anna Muylaert esteve com os atores Regina Casé, Camila Madilo, Karine Teles, Michael Joelsas e Lourenço Mutarelli para promover o longa em seu país de origem. “É um filme feito para brasileiros, um espelho do país”, declarou Anna

No mesmo dia que os sites especializados em cinema britânicos e americanos divulgaram a notícia de que o filme “Que horas ela volta?” é um forte candidato ao Oscar – o maior prêmio do cinema internacional -, a diretora e roteirista Anna Muylaert esteve com Regina Casé e os atores na pré-estreia do longa, no Rio de Janeiro, e declarou que ainda é cedo para pensar na premiação. “Ainda é só especulação”, disse. O Cinépolis Lagoon, na Lagoa, estava todo preparado para receber elenco, produção e o filme, que, finalmente, chega ao Brasil após o sucesso de público e crítica no exterior e da conquista de prêmios nos festivais de Sundance e Berlim. “Já estreamos em muitos países na Europa, mas no Brasil é um gosto diferente. Esse filme foi feito para o brasileiro, é um espelho do país”, afimou Anna Muylaert. Famosos como Lília Cabral, Lázaro Ramos, Taís Araújo, Cauã Reymond, Debora Bloch, Carolina Dieckmann, Nathalia Dill, Luiz Miranda, Lisandra Souto, Bela Gil e muitos outros foram conferir de perto a história. Benedita, filha de Regina Casé, estava lá e contou que mesmo com o filme em cartaz em vários países, ela ainda não havia assistido. “Vi só alguns pedaços, estou muito curiosa”, revelou.

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Só as meninas: Karine Teles, Regina Casé e Camila Mardila posam em pré-estreia do filme “Que horas ela volta?” (Foto: AgNews)

O longa conta a história de Val (Regina Casé), uma mulher que sai do interior de Pernambuco para tentar a vida em São Paulo. Na capital paulistana, ela começa a trabalhar como babá de Fabinho, que na adolescência é vivido por Michel Joelsas. O drama da protagonista é a culpa que ela sente por ter deixado sua filha, Jéssica (Camila Madila), no Recife. Quando, anos depois, Jéssica decide morar com a mãe para prestar vestibular em São Paulo, o afastamento que o passado provocou entre as duas vem à tona e a relação delas passa a ser discutida a fundo. Val, que mora na casa dos patrões e tem uma relação muito afetuosa com Fabinho, começa a procurar um novo equilíbrio na vida com a chegada da filha. Anna Muylaert explica que a ideia do roteiro surgiu há 20 anos, quando foi mãe e começou a pensar a questão da terceirização da maternidade com as babás. “Essa questão é consequentemente o abismo social brasileiro, porque uma mulher larga o filho para cuidar do filho da outra, isso é um contrassenso. Eu demorei todo esse tempo para chegar a uma história madura, que nasceu seis meses antes de filmar, em 2013”, explicou.

Regina Casé foi a primeira escolha da roteirista e diretora, que contou que o elenco inteiro só foi escalado após fechar o contrato com a protagonista. “Escolhi a Regina, porque ela é uma atriz fabulosa, enlouquecedora, estonteante e talentosa demais e também por que ela tem um rosto que mistura as três principais raças brasileiras: branca, negra e índia”, explicou. Regina, que se dedica principalmente à carreira de apresentadora, disse que o filme foi especial para que ela não deixe nenhuma das profissões de lado. “O longa foi o empurrão que faltava para eu tomar vergonha na cara e equilibrar melhor meu lado documentarista, criadora e apresentadora com o lado atriz. É uma maldade comigo mesma eu me privar de ser atriz, porque eu gosto tanto e faço direitinho”, comentou.

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Regina Casé foi a escolha principal da roteirista e diretora Anna Muylaert (Foto: AgNews)

A química de Regina Casé e Camila Mardila em cena fez com que as duas ganhassem o prêmio de melhor atriz no Festival de Sundance, derrotando nomes como Nicole Kidman. Elas, que não se conheciam, aproveitaram a falta de intimidade para criar a relação de mãe e filha afastadas pela vida. Anna, que também preparou o elenco, contou que colocou um pano entre as duas para que elas não pudessem se ver. “Eu pus um pano preto entre as duas para elas não se conhecerem e desenvolverem uma relação de 10 anos através de telefonemas. A partir daí, elas puderam viver todo o passado em que suas personagens ficaram separadas sem ver uma a outra. Foi uma tarde toda assim. Depois, nós tiramos o pano e elas se abraçaram e foi criou um passado”, contou. Perguntada como é ser a roteirista, diretora e preparadora do elenco, Anna Muylaert explicou que gosta de estar perto dos atores e fez uma metáfora entre o papel de diretora e o de babá, tão discutido no filme. “Preparação de elenco é igual babá. O ator do filme tem que ter relação com o autor. Se a gente coloca alguém no meio para trocar a fralda como vai criar intimidade na hora de filmar? Eu sou essa mãe que quer trocar todas as fraldas”, brincou, explicando que a relação com os atores é tão intensa que eles a ajudam até mesmo a construir o texto. “Eu os chamo de atores-autores, porque eles podem colaborar na criação do personagem junto comigo. Apesar de eu escrever todos os diálogos, eu peço que eles reinventem da forma deles”.

O clima entre os convidados da pré-estreia era de ansiedade. Lilia Cabral chegou cedo e estava animada para ver Regina Casé novamente nas telas. A atriz acredita que a questão levantada pelo filme é muito importante. “Nós herdamos do século passado esse costume de ter serviçais, mas, a cada ano, isso se modifica para melhor. As empregadas domésticas têm seus direitos reconhecidos e eu acho que vão conquistar mais coisas ainda”, disse Lilia. Debora Bloch também estava ansiosa para ver a amiga atuando. “Sou amiga da Regina desde a adolescência e acho ela uma superatriz, é uma pena ela não atuar mais tanto, mas, de vez em quando, ela faz um trabalho sensacional desses para que a gente possa apreciar. Acho que o filme é bárbaro, estou louca pra ver! Já ouvi falar muito bem”. Bela Gil chegou com o marido, JP Demasi, e contou que leu bastante sobre o longa. “Eu li algumas críticas incríveis sobre o filme, que pode até ser indicado ao Oscar. Minha expectativa está altíssima”. Cauã Reymond chegou ao cinema direto das gravações da nova novela das 9, “A Regra do Jogo”, e fez questão de prestigiar. “Vim correndo do Projac para cá, estou louco para assistir”, disse.

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Cauã Reymond chegou direto das gravações de “A Regra do Jogo” para prestigiar a pré-estreia do filme (Foto: AgNews)

O elenco conta ainda com Karine Teles e Lourenço Mutarelli, que dão vida aos patrões de Val, pais de Fabinho e que recebem Jéssica em sua casa. O longa discute a relação entre patrões e empregados em diversos aspectos e ângulos. Anna declarou que o seu próprio ritmo de vida também está impresso nas telas. “Tenho dois filhos, não tenho marido e não poderia fazer cinema sem esse apoio dentro desse contexto da cultura brasileira. Na Europa, por exemplo, as crianças ficam na creche. Na minha cultura essa é a opção. As pessoas que trabalham comigo viram minhas amigas, porque há o respeito mútuo. Sou a cineasta, ela a empregada e isso são apenas funções sociais. Eu não estou por cima dela. O filme fala muito disso, de relações horizontais, que independem da função de cada um na sociedade”. A questão social se mistura com comédia nas telas e faz com que o espectador reflita sobre o seu estilo de vida. “Em alguns casos é até mais fácil provocar emoção com a comédia”, declarou Regina Casé. Mal podemos esperar para ver.

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