Em Gramado, “Hebe – Estrela do Brasil” é exibido e Andrea Beltrão brilha vivendo a rainha da TV


Concorrente na Mostra Competitiva do Festival de Cinema, o longa com direção de Maurício Farias, mostra também a vida pessoal de Hebe, que venceu a pobreza, enfrentou a pressão social, desafiou os maridos ciumentos e até políticos para se tornar a mais autêntica e querida celebridade da história da TV brasileira

*Com Thaissa Barzellai

A 47ª edição do Festival de Cinema de Gramado proporciona surpresas e emoções mil. A sexta noite da festa cinematográfica foi uma viagem pela memória afetiva de diferentes gerações que amam o trabalho de dois grandes nomes: o cartunista Maurício de Sousa e a apresentadora Hebe Camargo (1929-2012). No Palácio dos Festivais, o público aplaudiu de pé a entrega do Troféu da Cidade de Gramado a Maurício de Sousa, que completa 60 anos de carreira e sucesso com o universo da Turma da Mônica. E foi às lágrimas com a exibição inédita do longa-metragem “Hebe – A Estrela do Brasil”, direção de Maurício Farias, que traz Andrea Beltrão como protagonista e é um dos filmes concorrentes na Mostra Competitiva. Vem conferir o que rolou! 

Relatos pessoais. Memórias de infância. Saudade de um tempo repleto do lúdico. Assim foi a imagem que guardamos ao ver Maurício de Sousa atravessar o tapete vermelho em direção ao Palácio dos Festivais. Crianças e pais gritaram o nome do artista só para conquistar um olhar, um sorriso ou ao menos um aceno do grande mestre dos quadrinhos que esteve presente em toda vida. O pai da Mônica, Magali, Cascão, Cebolinha fez questão de cumprimentar a todos e oferecer muito carinho em retribuição ao afeto recebido. “O fato de estar aqui recebendo homenagem é uma beleza, uma honra, mais uma medalha no peito. Isso mostra que a gente segue em um caminho certo”, afirmou. Afinal, é exatamente esse retorno afetivo que faz com que o império de gibis, filmes, animações, brinquedos e muito mais continue firme e forte. “Eu não estou procurando dinheiro, eu estou procurando satisfação. A medalha mais importante que posso ganhar é a alfabetização de milhares de crianças”, frisou. 

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O carinho que recebeu durante a homenagem não foi apenas do público que enfrentava o frio gaúcho. Aqui, Maurício foi surpreendido pelo elenco do live action “Turma da Mônica – Laços”, que subiu ao palco na hora da entrega da estatueta caracterizado tal qual os personagens. “Vamos Cebolinha, estamos atrasados”, anunciava Giulia Benite na pele da dentuça mais famosa do Brasil. Com tantas surpresas, o criador dessa turminha desabafou: “Surpresas. Beleza! Esse trabalho tem me presenteado com tantas emoções bonitas… maravilhosas”. E elogiou e agradeceu a equipe mirim por ter trazido vida um universo tão transformador quanto o dos gibis criados por ele. No tapete vermelho, os minis atores, todos vestidos com as cores referentes ao seus personagens – o que gerou uma comoção entre os presentes -, fizeram questão de frisar que toda a admiração de Maurício de Sousa pelo trabalho deles no longa-metragem, o filme brasileiro mais visto esse ano, é recíproca. 

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Com 11 anos, a atriz Guilia, por exemplo, confessou que sempre ficava nervosa do lado do artista. Agora, tendo criado uma relação de avô e neta, o nervosismo virou uma responsabilidade saborosa para a jovem que enxerga o evento como a chance de demonstrar toda a gratidão por tudo o que viveu e aprendeu ao lado do cartunista. “O Maurício é uma pessoa incrível, super humilde. É maravilhoso fazer parte dessa homenagem, porque é uma das maneiras de expressar todo o amor que sinto por ele”, comentou. Diretor do longa, Daniel Rezende era pura emoção ao ver a sala lotada e todos aplaudindo de pé. Daniel agradeceu Maurício e os fãs do trabalho: “Como 200 milhões de brasileiros, eu também cresci lendo a Turma da Mônica. Eu era um fã absoluto. Quando surgiu a oportunidade de rodar o filme foi a realização de um sonho de criança e eu agarrei com todas as forças para poder entregar um trabalho que os fãs mereciam”, afirmou. 

Apaixonado pela cidade de Gramado, o cartunista entrou agora para um time de elite que faz parte da história do Festival de Gramado: nomes como Antônio Pitanga, Wagner Moura e Ney Latorraca dividem a lista de homenageados com o troféu. A homenagem vem como um incentivo para o artista, que cada vez mais busca inovar a fim de se manter presente no imaginário de geração para geração, criando uma trajetória criativamente e emocionalmente ilimitada. Agora, o artista se prepara para lançar um desenho animado no Cartoon Network, cuja estreia está marcada para novembro deste ano, um desenho sobre astronautas, o segundo live action do Turma da Mônica e outras séries que serão apresentadas em plataformas da Amazon, Netflix e até mesmo HBO. Com tantas novidades a caminho, a celebração em Gramado é um marco para a cultura brasileira. “Eu sempre estou no auge da minha carreira. Sempre estou criando algo e gostando de fazer. Não consigo ser infeliz. Estou com 83 anos e ainda há um horizonte de projetos pela frente”, comentou animado o desenhista que aproveitou a homenagem para lançar a Pedra Fundamental do Parque da Turma da Mônica na cidade gaúcha da Serra Gaúcha.

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Quem também amava a vida e sempre foi um exemplo de vigor era Hebe Camargo (1929-2012), que esteve na TV brasileira até os últimos momentos de vida. A apresentadora foi homenageada com o longa-metragem “Hebe – A Estrela do Brasil” , direção de Maurício Farias, que traz Andrea Beltrão como protagonista. O filme mostra também a vida pessoal de Hebe, que venceu a pobreza, enfrentou a pressão social, desafiou os maridos ciumentos e até políticos para se tornar a mais autêntica e querida celebridade da história da TV brasileira. “Hebe foi uma mulher que viveu intensamente, independente, livre, dona das suas próprias opiniões e que lutou muito há 40 anos pela comunidade LGBTQI, pelas minorias, pelos aposentados, pela liberdade de expressão”, disse Andrea. 

Hebe nunca foi oito ou oitenta. Durante os seus 83 anos de vida, a apresentadora se permitiu ser o que era, sem medo das opiniões alheias. Usava seus brilhos, mas ao mesmo tempo oferecia um olhar para as minorias, se aproximava da platéia do auditório e de casa. Fazia do seu programa o sofá da sua casa e se permitia ficar confortável com quem ali conversasse. Foi exatamente essa chancela que Maurício Farias, diretor do longa, quis demonstrar. “Ela tinha muita liberdade e um compromisso com ela mesma e isso deixa uma lição de que as pessoas podem ser plurais, porque o mais importante é ter senso ético, noção de correção e dignidade de saber mudar quando for necessário para encontrar um lado bom da vida”, afirmou o diretor”. 

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Ainda sentindo na pele a figura pública, polêmica e sem papas na línguas que vivenciou no cinema, Andrea Beltrão nos faz lembrar que milhões de brasileiros sempre estavam a postos para assistiam o que a grande apresentadora sempre tinha para dizer. “Eu tentei não pensar muito na responsabilidade, sabe? Eu tentei fazer da maneira mais carinhosa, afetuosa, respeitosa que eu pude, porque é impossível ser a Hebe, então eu fiz um desenho e espero que onde ela estiver aprove”, afirmou emocionada. No palco do Palácio dos Festivais, vestida com uma blusa de gola rolê, casaco preto e um boné – acessório que era sempre motivo de brincadeiras entre Hebe e amigos -, Andrea comemorou o mergulho no universo de Hebe com todo o “jeitinho”, como a apresentadora falava, de viver a vida. “Ela era do jeito dela, como ela gostava de dizer, “do meu jeitinho”, e eu sou do meu jeitinho. Foram dois opostos que se encontraram e eu espero que tenham se complementado de alguma maneira”, comentou. 

O Festival de Cinema de Gramado segue até sábado, dia 24, e a expectativa é grande para descobrir quais nomes irão levar o Kikito para casa. O Palácio dos Festivais ainda recebe mais dois longas-metragens que fazem parte da competição, sendo um deles “Veneza”, obra dirigida por Miguel Falabella.