* Por Camila de Paula
Novos tempos, whatsapp, manifestações, diálogos politizados, mulheres articuladas e homens canalhas, mas apaixonados na nova série da Globo “Felizes para sempre?”, formam um cenário que revela mulheres que não estão “Loucas para Casar”. Nem ao menos a prostituta está à procura de um partido rico para bancá-la, e sim, de suas mulheres. A nova atração nos faz pensar que tudo vai muito além de mais uma obra fascinante dirigida por Fernando Meirelles, com grandes atores atraindo os telespectadores com temas como traição e corrupção. Na trama escrita por Euclydes Marinho, o tema central parece ser o casamento e as relações, tendo como pano de fundo as conjunturas atuais, mas o que chama atenção é a presença de um papel para a mulher bem diferente daquele tão batido da desesperada por um homem para chamar de seu. Se vê uma estampa neofeminista, sem mimimi, como se fosse uma consequência natural no romper dos tempos, mas com uma interrogação no final. E agora? Como essas novas fêmeas se encaixam em um panorama que não se preparou para as netas de bruxas que ressurgem das cinzas, escrevendo um novo cenário?
Com roteiro bem amarrado, trilha que mistura muito bem Agnes Obel, Ataulfo Alves e Alice Caymmi, e cenas que estão fazendo valer a pena ficar acordado esperando o BBB acabar (certamente está um desafio cada vez maior para a emissora manter as TVs ligadas no horário do reality), o programa tem dado o que falar. É claro que para que todos despertassem foi preciso colocar Paolla Oliveira nua e de costas. Covardia pura! A cena levou brasileiros à loucura e no dia seguinte só se falava nisso. Foi uma enxurrada de frases hilárias pelas redes sociais, como a do site de humor Sensacionalista, que brincou apontando esse tal fiofó perfeito e desenhado como a esperança para o Oriente Médio, lançando a manchete fictícia “ONU usará a bunda de Paolla Oliveira pra conseguir a paz mundial”. O post publicado na manhã dsta quarta-feira (28/1) foi rapidamente compartilhado e já recebeu mais de 1 milhão de likes. Vários usuários continuam compartilhando piadas como: “Namore alguém que te olhe como olhou para a bunda da Paola Oliveira”. Talvez faltem vagas nas academias nesta semana, com milhares de mulheres buscando aquele design avançado conquistado pela atriz ou, talvez, por sua dublê.
Mas a trama surpreende por mostrar o quanto o tal fiofó da personagem, a prostituta Danny Bond, dita as regras ao ludibriar o marmanjo enquanto está mais tentada a se encantar pela bela, sutil e cândida esposa do ricaço, com quem troca as sutilezas e gentilezas que só uma mulher consegue. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência, pois reza a lenda que a maioria das prostitutas tornam-se lésbicas ao longo de suas vidas. Talvez por receber os homens na sua pior versão, já que eles as buscam acreditando que não precisam agradar, ou quem sabe por não ser nada elegante a obsessão que os homens têm pelo sexo. E estes machos de colarinhos polutos aparecem cada vez mais minimizados na série à medida em que expõem aquele típico machismo que habita cada um. É a tal falta de sedução inerente de quando se acredita que o importante para conquistar uma mulher é a dobradinha poder-dinheiro. Isso se vê também nas cenas dos coadjuvantes, como a personagem bem vivida por Adriana Esteves.
A profissional brilhante e grande cirurgiã vivida pela atriz, depois de deixar o povo esquecer um pouco a quase inesquecível Carminha, acha um saco ter que fugir da transa todo dia com o marido bonitão, mas pouco interessante, que só pensa em sexo. Aliás, o que mais se viu nos primeiros capítulos foi isso: o quanto os homens pensam em sexo como animais selvagens, sejam eles grandes empresários, bonachões, ou fanfarrões. Enquanto eles só querem saber se hoje vão dar “umazinha” ou não, seja com a esposa ou a amante, elas seguem procurando detalhes interessantes em todos os lugares, inclusive, no próprio casamento ou fora dele, mas sempre algo além daquelazinha de sempre.
E é aí que se vê o quanto as mulheres não sabem como encaixar seu novo papel na sociedade ainda patriarcal. Ainda tem que “dar” todo dia depois do expediente? Agora que eu voltei a ser deusa não era para eu querer transar todo dia? Mas nem sempre querem. Com isso, as mulheres vão tomando a dianteira e a trama vai mostrando o quão difícil está sendo manter as relações diante das mudanças de papéis e das influências de situações fugazes ao redor. Difícil é para todos, mas neste caso, as mulheres de Meirelles e Marinho estão dando um banho nos homens. E os casais cada vez mais tentando ser felizes para sempre. Esse é o desafio lançado no programa para quem quiser embarcar nessa nova onda.
* Espécime raro de leonina com 12 planetas em leão, Camila de Paula é do tipo que, além da típica malemolência carioca, sabe como arrancar aspas das personalidades na boemia, usando sua percepção arguta como combustível para um texto cheio de charme. Com furor típico dos regidos pelo fogo – e uma certa loucura que lhe renderia um bilhete só de ida para o Juqueri -, ela se empolga nas entrevistas, provando que, se houvesse, teria lugar cativo na máquina do tempo para sentar em mesa de bar com o povo de”O Pasquim”
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