Claudia Ohana é de fato uma mulher de personalidade forte. Mas também pudera! Depois de costurar uma brilhante carreira no teatro, no cinema e, principalmente, na televisão, a atriz de 53 anos segue firme e forte esbanjando talento, carisma e beleza por onde quer que passe. Prova disso, é o sucesso que faz em seus diversos trabalhos e o assédio que sofre nas redes sociais toda vez que posta uma foto, digamos, um pouquinho mais ousada. E ela se diverte muito com isso. Boa da papo, não esconde seus medos, o passado e se mostra muito consciente quando o assunto é o verdadeiro papel de uma artista na sociedade brasileira. E disso a artista tem know-how suficiente para falar. Afinal, Claudia deu o pontapé inicial em sua carreira em 1979, no longa “Amor e Traição”, e, de lá para cá, vem colecionando papéis icônicos na dramaturgia como em “Amor com Amor se Paga”, “Tieta” e “A Próxima Vítima”. Porém, a novela mais marcante de sua trajetória, sem dúvida nenhuma, foi “Vamp” (1991), em que vivia a inesquecível vampira roqueira Natasha. Hoje, a atriz segue no ar como a misteriosa Loretta, de “Sol Nascente”, e quebrando tudo no musical “Forever Young”, onde interpreta uma senhora idosa ao lado de Carmo Dalla Vecchia, Fafy Siqueira, Jarbas Homem de Melo, Marcos Tumura e Paula Capovilla.
Pois bem. Em um editorial exclusivo para o site HT, fotografado no maravilhoso Golden Tulip Rio Copacabana, com cliques e beleza assinados por Vinicius Mochizuki e styling de Carla Garan e A.Produção, Claudia comentou a relação estreita que tem com a personagem do folhetim global das 18h. Na trama, Loretta foi embora de casa deixando os filhos Mário (Bruno Gagliasso), Milena (Giovanna Lancelotti) e Peppino (João Côrtes) para trás, ainda quando eram muito pequenos. “Minha personagem ainda é um mistério até para mim. A princípio ela seria uma voluntária do projeto Médico Sem Fronteira, na África, mas a direção acabou optando por um outro enredo. Eu tinha construindo muito em cima disso, mas agora ela está na Itália e casada com um homem. Só que pretende voltar à trama nos próximos blocos e deve revelar seus motivos. Eu ainda estou estudando o caráter dela, mas me mantenho neutra. Afinal, quando falamos de uma novela, a gente sabe que se trata de uma obra aberta. Antigamente eu questionava muito e brigava por isso, mas hoje eu estou mais calma”, revelou ela, que já esteve do outro lado da moeda em sua vida pessoal.
“Eu tive uma história muito forte de abandono quando pequena. Fui criada pela minha tia e só fui conhecer a minha mãe aos nove anos de idade. Quando ela morreu, eu ainda tinha 15, então, a partir daí, fui morar sozinha. Tive minha independência muito cedo. Até pensei que essa situação da novela fosse me ajudar a entender melhor esse universo, mas até agora não consigo achar uma explicação. Sei o quão complicado é. Qualquer pessoa que foi abandonada tem uma marca. Mas no geral a Loretta é bem distante de mim, porque eu jamais abandonaria um filho ou um neto. A família é algo que eu prezo de verdade”, avilou ela, que não julga as pessoas que, pelas circunstâncias da vida, optaram por essa atitude. “Cada historia é uma história. No meu caso tive um avô muito querido que me ajudou muito. Tem gente que nem isso tem. Morar com a minha mãe, mesmo um curto período de tempo, foi muito importante para mim. As pessoas que não têm condições de criar seus filhos deveriam os colocar para adoção. O abandono é uma atitude muito forte, realmente não entendo muito porque isso acontece”, comentou ela, que sempre que precisou recorreu a fé para se conectar com o mundo espiritual.
“Eu sou brasileira, então tenho de tudo um pouco. Sou uma pessoa cristã, gosto e acredito muito em Jesus Cristo. Se ele existiu ou não eu não posso garantir, mas a figura mítica dele é maravilhosa. Uma pessoa que pregava o amor a paz precisa da nossa reverência. Também simpatizo com Buda e tenho uma Iemanjá em casa. Sou uma mulher de fé, afinal de contas tudo é muito mágico. Mas não acredito sobre tudo estar escrito ou carmas de vidas passadas. Isso não me conforta”, explicou.
Agora, além da carga dramática da personagem, Loretta também é uma cozinheira de mão cheia. Integrando o núcleo italiano da trama dirigida por Leonardo Nogueira, Claudia Ohana confessou que teve que fazer aulas de culinária para aprender a fazer pratos mais elaborados. Mas muito se engana quem pensa que a atriz não sabia cozinhar antes do trabalho. “Tive aulas com a chef Ana Rita, ao lado de Aracy Balabanian. Nós colocamos a mão na massa mesmo. Aprendi a fazer pão e tudo mais. Como ela integra a parte italiana, com certeza ela cozinharia. Mas eu estou vendo que ela tem um espírito livre e meio rebelde, então eu não sei se ela tem cara de uma mulher cozinheira, não”, disse, aos risos. “Fiz o curso que foi uma delícia. Foi muito bom aprender, mas eram coisas bem difíceis. Na cozinha, eu sou prática e básica, mas se precisar fazer um prato mais elaborado eu mando ver. Só não me dou muito bem com frango”, ressaltou.
E não é só na cozinha que Claudia Ohana gasta seu tempo quando está fora das telinhas e dos palcos. Filha de artistas, ela tem como hobby a pintura, a escrita e, claro, a música. Quem acompanha a atriz pelo seu Instagram – seguindo por mais 64 mil pessoas -, vira e mexe é surpreendido por um vídeo onde ela aparece tocando violão e cantando. “Eu pinto e escrevo roteiros há muito anos, mas não levo isso a sério. Hoje eu não estou mais com muita hora vaga, mas são coisas que eu gostaria de fazer mais. Mas um paixão nada secreta é a música. Eu toco violão, ele é um grande parceiro. Tem um lado cantora que desde pequena eu carrego dentro de mim, sim. Por isso amo fazer musical. Dá para reunir dois prazeres em um só lugar”, revelou ela.
E falando em musical, ela também segue em cartaz com a peça “Forever Young”, no Theatro Net, em São Paulo. De forma poética e bem-humorada o espetáculo conta a história de seis grandes atores que representam a si mesmos no futuro, reunidos em uma espécie de asilo, nos moldes da Casa dos Artistas. Com tudo em cima, ela garantiu que não tem neuras com a idade. “Tem coisas na vida que a gente tem que aceitar, e envelhecer é uma delas. Só envelhece quem está vivendo. Eu operei há pouco tempo, e percebi o quanto é importante estar com saúde. Apesar de magra, eu sou bem fortinha. É fundamental o corpo estar preparado. Envelhecer pode ser uma dádiva e uma grande sorte. O grande segredo é viver cada momento como se fosse único. Hoje existem milhares de recursos que fazem a gente ter uma maior qualidade de vida e isso é ótimo”, comemorou ela, que morre de medo de plásticas. “Eu sou a favor que as pessoas façam o que elas quiserem, mas eu tenho muito medo de ficar com o rosto estranho, mas tem coisas que eu deveria fazer”, ponderou.
A comédia musical consegue relatar não apenas o problema da exclusão social para os mais velhos, mas também aborda questões sobre a velhice com muito humor e músicas que marcaram várias gerações. Para se transformar em uma idosa, Claudia passa por um processo de caracterização e também muda sua postura corporal. “O maior desafio é fazer o corpo e voz de velha sem ficar caricato. É uma peça que exige corporalmente, mas está sendo maravilhosa. A peça é um sucesso, o elenco é uma delícia e o público canta junto. A gente acaba fazendo uma homenagem a nós mesmo, no final das contas. Tanto que o nome dela é Claudia Ohana”, disse ela, aos risos, que apesar da identidade, ela não pretende estar nas condições de sua personagem quando estiver na faixa dos 90 anos de idade. “Eu não me vejo assim. Na verdade somos bem diferentes. Ela é muito fofa, era uma grande diva e foi parar em uma casa de repouso. Nessa fase eu me vejo em uma casa escrevendo e pintando. Mas o musical tem uma mensagem deliciosa, já que são velhinhos que se divertem muito”, ressaltou.
Que a peça é um sucesso, ninguém pode negar. No entanto, recentemente Cladia Ohana e Carmo Dalla Vecchia estiveram no cobiçado sofá do “Programa do Jô” para uma entrevista sobre a montagem. Papo vai, papo vem, o apresentador, que segue em sua última temporada na Rede Globo, pediu para que a atriz fechasse o último bloco cantando a música “Smells Like Teen Spirit”, no Nirvana – canção que integra o setlist da montagem. Em um clima intimista e sem muita produção, a artista não negou fogo e entoou o clássico da banda norte-americana, no entanto, após ir ao ar, a apresentação dividiu opiniões nas redes sociais. Uma surpresa para ela. “Eu fiquei muito chocada com a agressividade das pessoas. Acho que o mais complicado foi mexer com o Nirvana. Os fãs são muito fervorosos e eu nem conhecia essa música. Eu nunca fui do rock. Agora, na peça é um momento incrível onde as pessoas me aplaudem de pé. Mas eu gostei, sabia? Tanto que hoje tem gente que vai no musical só para me ouvir cantando essa música”, comentou, aos risos.
Com uma relação profunda com as redes sociais e o mundo digital, Ohana, que confessou adorar jogar Pokemon Go com seus netos, acredita que uma onda de conservadorismo e individualidade tem deixado as pessoas mais intolerantes umas com as outras. “O mundo anda muito careta. O politicamente correto é um saco, hoje você não pode ter opinião própria e falar aquilo o que pensa. Todo mundo tem uma pedra na mão para atirar. Sempre tem que haver um culpado. Eu senti isso após cantar no Jô: jamais tinha sido criticada em toda a minha vida. Poucas coisas me surpreendem positivamente. Acho que deveríamos respeitar mais a opinião e a forma que cada um escolheu para viver”, avaliou ela, comentando sobre como isso tem se aplicado na política.
Para ela, a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e Marcelo Crivella, como prefeito do Rio, são grandes provas desse movimento. “Achei inacreditável as eleições norte-americanas e aqui no Rio. A caretice está imperando. Há uma regressão das pessoas. Isso é de uma ignorância e de um fascismo absurdo. Nos anos 80 a gente falava o que queria e isso não era motivo de retaliação”, comentou ela, que não apoiou o processo de impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff. “Não fui a favor e achei um grande retrocesso. Não que eu fosse Dilma, até porque o nosso país estava realmente uma droga – e continua me assustando. Não gosto de falar de política, porque às vezes a pessoa parece incrível e depois muda tudo”, ponderou.
Ah, e ainda falando de sobre os tempos modernos, Claudia ainda falou sobre os choques de geração, que têm afetado até mesmo o mundo artístico. De acordo com ela, o cunho social que as atrizes possuíam no tempo em que decidiu por seu ofício mudou. Hoje, algumas atrizes estão mais preocupadas em fazer dinheiro em suas redes sociais. “Eu acho que é uma nova linhagem: enquanto a gente, da minha geração, queria se encontrar para falar sobre peças, leitura e fazer aulas de dança, as meninas de hoje estão preocupadas no business. Ser atriz se tornou um grande negócio. As meninas estão cheias de coisas e projetos para ganhar dinheiro. Eu me considero uma cigarra que fico cantando e dançando e elas são as formigas, que só trabalham. Eu preciso aprender muito com essa geração para fazer dinheiro”, disse.
E como os trabalhos não podem parar, Claudia Ohana já começa 2017 com um novo projeto na telinha da Globo. Assim como no filme “Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo”, que a coroou como Melhor Atriz Coadjuvante, no Los Angeles Film Festival – primeiro prêmio internacional de sua carreira, ela volta a dar vida a mãe do lutador campeão de MMA. Na produção cinematográfica, Ohana divide cenas polêmicas com o ator Jackson Antunes, já que Dona Rocilene, sua personagem, sofre diversas agressões do marido. “O filme foi um sucesso, ganhamos prêmios e em janeiro ele volta como uma série na Globo. Foi um projeto muito feliz. Ela é uma personagem muito sofrida e simples. Ela sofre abusos dentro de casa e é uma mulher que representa várias outras mulheres do Brasil. E falar sobre agressão contra a mulher é fundamental e não é ser feminista, é ser humana. Um homem que bate em uma mulher é animal”, destacou ela.
E os fãs de “Vamp” já podem começar a se animar! Embora Claudia não tenha confirmado, o HT já descobriu pela boca do diretor Jorge Fernando, que a atriz estará no elenco do musical inspirado na novela, ao lado de ninguém menos que o mestre Ney Latorraca. Apesar de desconversar o assunto, a atriz garantiu que sente muito ciumes da personagem que riscou seu nome do hall dos grandes atores do país. “Se ele disse, está falado”, disse ela. “A Natasha marcou época, porque é uma personagem muito forte, uma vampira diva do rock. Acho que as pessoas pensam em mim e já veem a imagem dela. A novela foi um grande sucesso e tudo era muito incrível. Eu tenho muito ciume dela, sim. Quando soube do musical eu logo pensei: ‘quem vai fazer eu?'”, contou ela, aos risos. E a gente espera ansiosamente por esse reencontro com Natasha!
Agradecimentos:
BHG Hoteis
Rodrigo Rodrigues (assistente de foto e make)
Carla Garan
Athria Gomes
Mari Heil
Alex Martins
Henrique Fischer
Equipe D Comunicação
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