Em novembro 2015, Marcos Veras tomou duas grandes decisões na carreira: saiu do “Encontro com Fátima Bernardes” e encerrou uma temporada de “Falando a veras” sem data marcada para voltar. Se tem algo que não lhe falta é coragem para embarcar em novos projetos. “O Encontro com Fátima Bernardes foi muito importante, me deu uma popularidade enorme, tanto por estar em um programa diário, ao vivo, na TV Globo, claro, e também porque é a Fátima. Ela é muito querida. Então, estar ao lado dela nos faz agregar, absorver. Eu costumava dizer que era o comediante de maior credibilidade só por estar ao lado dela”, afirmou ele, que gostou da experiência de estar na televisão sem ser desempenhando um personagem. “Eu era o Marcos, mas não o de casa no sofá. Tem sempre uma persona. Minha função era ser ácido, comentar as coisas. Foi uma experiência incrível, porque fiz de tudo que podia: reportagem na rua, ao vivo, paródia musical, apresentei o programa na ausência de Fátima”, destacou Marcos, que deixou o programa para sair de sua zona de conforto. “Eu já vinha amadurecendo a ideia. Como artista, é bom mudar. A direção da emissora concordou. Naquele programa alcancei tudo que dava. Não significa que eu não volte, mas é tempo para outros projetos”, disse.
E haja projetos! “Tenho um novo espetáculo que não é de humor. É uma comédia mais ácida sobre o ser humano”, adiantou, sobre “Acorda pra cuspir”. A peça, monólogo do dramaturgo americano Eric Bogosian será dirigida por Daniel Herz, e em nada se assemelha ao “Falando a veras”, que ficou por sete anos em cartaz. “O ‘Acorda pra cuspir’ aborda questões como vaidade, ambição e egoísmo, mas com bom humor, claro. Tudo na vida tem graça. Mesmo os dramas e tragédias podem ser engraçados”, opinou ele, que comprou os direitos originais e estreia em março, em Vitória, no Espírito Santo.
Saindo de um espetáculo solo no palco para entrar em outro, Marcos não tem medo de se repetir? “O humor tem a licença poética de entrar na casa das pessoas e perdurar. O ‘Falando a veras’ era um texto meu que sempre podia mudar. Então, há sete anos, nunca foi o mesmo show. Me orgulho muito, porque agradava a todas as idades, não era segmentado. Falava de casamento, televisão, viagens, carreira, com música. As pessoas se identificavam muito com essa abrangência. Mas parei justamente para me dedicar aos outros projetos”, explicou. Com experiências na televisão que vão além da atuação será que em breve veremos um Marcos apresentando seu próprio programa? “Eu amo interpretar, mas também adoro apresentar e passei por essa experiência no ‘Encontro’. Gostaria, sim, de ter o meu próprio programa, mas é algo mais para frente. Graças a Deus, eu tenho muitos projetos para o teatro e TV e quero aproveitar as oportunidades. Em algum momento, quem sabe?”, levantou a hipótese.
Artista versátil, ele sabe bem que seu cartão de visitas é o humor. Com tantas manifestações sobre o que é o politicamente correto rondando pela internet, porém, alguns comediantes sentiram que a liberdade de expressão diminui. É verdade que os tempos estão difíceis para os humoristas, Marcos? “O humor é sempre muito bem-vindo em qualquer veículo, seja em um programa de humor, no jornalismo, cinema, teatro, televisão. O brasileiro vai ser sempre apaixonado por humor. As redes sociais trouxeram uma nova forma de se faz graça, através dos sites específicos, dos memes, que fazem em cima de determinada situação real. Como aumentou o número de comediantes e de forma de fazer humor, isso fez com que as pessoas ficassem mais chatas nesse sentido. O politicamente correto não tem nada a ver com a comédia. Se for correto, não é humor”, defendeu.
Porém, ele não é do tipo que gosta do humor agressivo. “Não faz parte da minha história ofender ou entrar em polêmica por uma piada. Já entrei em discussões de internet, mas nada grave. As pessoas começam a se levar a sério demais, querem processar, acham que é bullying, mas penso que se há um limite para o humor é o bom senso. E isso não é tangível. Vai de cada um, cada comediante tem o seu”, opinou Marcos, que se considera um cara sério. “Sou bem-humorado grande parte do dia, mas sou extremamente sério. Conheço vários comediantes que não são pessoas engraçadas na vida. A pior coisa é forçar graça ou o cara que não leva a sério a vida e fica o tempo todo fazendo piada. Humor é natural. Tem que vir, não pode ser pedido. A pior coisa é chegar para um comediante e falar: ‘Conta aí uma piada’. Eu sou péssimo nisso e as pessoas confundem muito humor com piada”, disse. Como nem só de graça vive o homem, ele sabe que sua carreira vai além da comédia. “Não gosto de nada rotulado. Sou ator e como ator posso ser humorista, médico, médium, assassino, tudo. Claro que o humor vem como meu principal lado, mas meus últimos trabalhos não necessariamente focam só nisso”, analisou.
E não mesmo. Ele, que mergulhou em uma novela das 21h (Babilônia) logo em seu primeiro papel em tramas da TV Globo, não se limita. “Estreei logo em uma novela das 21h. É um frio na barriga como qualquer outro trabalho, mas não medo. Aquele que é bom de ter, sabe? Foi legal ter sido convidado pra fazer novela das 21h, que é meio Copa do Mundo. Todo mundo vê, critica, elogia, é a mesma relação que o brasileiro tem com a seleção. É um clássico, ainda é o principal meio de entretenimento do povo”, disse. Além do núcleo divertido que lhe rendeu muitos amigos, seu Norberto também gerou muita visibilidade na carreira. “Muita gente já me conhecia, mas a novela tem outro público, de gente que não assiste a TV o dia todo, mas de noite está em casa e assiste. Muita gente me conhecia do ‘Encontro’, não sabia que eu era ator e me viram na novela”, contou. Marcos garantiu que rejeição tão falada e os números no Ibope não interferiram no prazer da experiência. “Estive em um núcleo divertido. A rejeição não chegou na gente. Todos eram muito unidos em todos os núcleos. Nos frequentávamos, tínhamos reuniões, batíamos papo. Os números de audiência não influenciaram no trabalho”, garantiu.
Artista de tantas vertentes, ele reconhece o privilégio de poder atuar em vários veículos como teatro, televisão, cinema e web. “É uma característica minha fazer vários trabalhos ao mesmo tempo. Penso que as plataformas são diferentes mas se complementam, então se comunicam. Eu acho que não é todo artista que tem essa vontade, mas a minha é continuar fazendo tudo isso. Tem que ter saúde e disposição. Sou feliz por poder ter contatos e aberturas em tantas mídias”, ressaltou ele, que fez sucesso por dois anos no canal de humor “Porta dos fundos” na web. “O ‘Porta’ foi um divisor de águas de três anos para cá, porque não se fazia comédia profissional na internet. Os criadores inspiraram outros grupos e mexeram com a televisão. Eu estive desde o início, foi muito legal, era do grupo fixo e saí porque eles foram para outra emissora que é concorrente da qual sou contratado”, explicou.
Para Marcos, os canais na rede não vão acabar com a predominância da televisão, mas ele acredita veementemente que tudo tem que se reinventar sempre. “A internet complementa a televisão. O ‘Porta’ fez sucesso por aliar reinvenção de uma linguagem a bons atores, roteiristas e a ousadia”, analisou. Falando em talentos, trabalhar com a mulher, Julia Rabello, por tantos anos também não foi problema, pelo contrário. “Ela é incrível. Nos divertimos muito juntos e, além do ‘Porta dos fundos’, já fizemos duas peças, filmes e temos outros projetos. Nos damos muito bem e sabemos separar as coisas”, garantiu.
Os fãs proporcionam muita alegria a Marcos. ” Sempre pedem fotos de maneira carinhosa e educada. Eu gosto. Está no pacote e faz parte. Você está todos os dias na casa das pessoas e é natural que elas queiram falar com você. Trabalho para o público. O artista gosta de palmas, risadas, mimo e aplausos. Alguém vir falar com você é um mimo, um carinho legal. É um prêmio maravilhoso”, declarou. Superativo nas redes sociais, ele sabe da importância de sua opinião não só entre os fãs. “Eu tenho conta em todas as redes, acho superválido. É um canal de comunicação incrível tanto profissional como pessoal. Eu uso para rir e para me informar”, disse.
E ele não teme o lado negativo da internet. “Não fico dando minha opinião em tudo. Quem disse que as pessoas querem saber ou que é importante? É até prepotente, tipo: ‘Está acontecendo algo no país, lá vai o Marcos Veras dar opinião’. Prefiro falar em casa, na mesa do bar com os amigos do que transformar em polêmica. As pessoas gostam de ouvir minha opinião e, às vezes, eu não acho nada. Nem sempre tenho ideia formada sobre tudo e nem sempre o que eu disse ontem ainda vale hoje. A gente muda tanto. Assuntos como política e religião eu evito opinar, principalmente quando não tenho tanta certeza. Às vezes, podemos agir por impulso, mas eu conto até dez, porque, sendo uma pessoa conhecida, há uma responsabilidade, não temos o direito de errar que as pessoas julgam”, analisou, emendando: “Me dou muito bem com canais de comunicação. Não tem polêmica. Nem sei o que falar dos ‘haters’, porque não passo por isso. Não acumulo pessoas que me odeiam, graças a Deus. Acumulo amor, o tempo inteiro. Nas redes e fora delas”, disse. E a recíproca é verdadeira. Todo mundo ama o Veras.
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