Ela está quase em casa. No elenco de “Deus Salve o Rei”, Fernanda Nobre é só alegrias e identificação com o novo trabalho. E não é pelo sobrenome que adianta a história de reinos e famílias nobres na próxima trama das 19h da Globo. Entre alguns ingredientes poderosos que fazem parte da receita da novela, Fernanda revelou ser fã do cenário no qual a história se passa. Ambientado na era medieval, a atriz resgatou suas lembranças da literatura deste período que a encanta desde pequena. Coincidência? Que nada! Fernanda Nobre é daquela que acredita no poder dos nossos pensamentos e que tudo o que fazemos tem sua razão especial. E é isso que faz dela ainda mais interessante e a estrela do novo editorial do site HT. Fotografado na suíte do Rio Othon Palace, em Copacabana, o ensaio revela uma Fernanda poderosa que, com a entrevista, ainda ganhou status de empoderada e dedicada ao que faz. Os cliques são de Markos Fortes, a beleza de Mary Saavedra e o styling de Léo Belicha. Vem!
O tempo é pouco depois de 400 d.C. e o cenário uma riqueza de detalhes. Em janeiro, estreia na Globo “Deus Salve o Rei”, a próxima novela de Fernanda Nobre que, desde já, gera expectativa e comentários entre o público. Como motivo, talvez, a sintonia e a felicidade que ditam os bastidores tenha atravessado as paredes dos Estúdios Globo. “É uma novela em que todos estão muitos apaixonados, envolvidos e com sangue nos olhos. Eu, realmente, acho que vai ser algo único para o público. Para nós que estamos fazendo já está sendo especial”, contou Fernanda sobre o projeto que inclui diversas estreias.
“Deus Salve o Rei” é o primeiro trabalho do autor, do diretor artístico, da figurinista e da produtora executiva, será uma novela sem cidade cenográfica e terá o efeito visual como importante engrenagem da história. “Na maioria das novelas, são apenas três pessoas para fazer esses efeitos nas cenas. Em “Deus Salve o Rei”, nós teremos 30. É muita gente”, contou Fernanda que comentou este clima de descobertas. “É uma novela muito especial e inovadora em vários sentidos dentro da Globo. É uma nova forma de se fazer televisão e produzir novela. Nós estamos com muitos capítulos de frente desde a estreia”, disse.
Em relação à história, “Deus Salve o Rei” volta no tempo para contar sobre reinos no período medieval. “É uma novela lúdica e muito romântica com uma história de reis e rainhas em um momento que estamos precisando de leveza. Além disso, a novela fala sobre algo que, para mim, é o mais interessante: as escolhas. O tema da história é esse”, adiantou Fernanda sobre a trama que, assim como ela, é guiada pelas oportunidades e consequências. “Eu tenho um lema na minha vida que é “eu escolho quem eu quero ser”. Então, toda grande decisão que eu tomo é porque eu estou querendo ser aquela mulher. E na vida tudo é assim”, comentou.
E ela escolheu fazer parte disto e agora tem a missão de contar a história de sua personagem – e de defendê-la desde já. Na próxima novela das 19h da Globo, Fernanda Nobre interpreta Diana, uma mulher de caráter um pouco frágil e que, por isso, nem sempre toma as melhores decisões. “Ela é muito misteriosa e dura por causa de um trauma amoroso sério e que marcou a vida dela. Isso faz com que a Diana seja muito sofrida e não busque mais um amor. Na história, a procura dela é por alguém que ela possa confiar e se entregar. E ela quer muito isso”, contou sobre a personagem que será a melhor amiga de Amália (Marina Ruy Barbosa) e terá um temperamento mais forte. “O que eu mais trouxe para a personagem foi uma certa selvageria. Ela é uma plebeia guerreira e lutadora em uma época medieval e, por isso, apostei algo mais próximo do chão. A ideia é de um bicho que não descansa na selva e está sempre pronto para atacar e ser atacado”, resumiu.
Para isso, Fernanda Nobre e o elenco de “Deus Salve o Rei” mergulharam em uma preparação bem especifica e, assim como a novela, com pitadas de inovação. De acordo com a atriz, a trama terá um estilo mais limpo. “A gente fez uma preparação muito intensa durante um mês. Todos os dias estávamos juntos de nove da manhã às oito da noite e isso foi muito bom. O nosso laboratório foi com Eduardo Milewicks que está trazendo um novo conceito de interpretação para o Brasil que já acontece nas séries norte-americanas, como “House of Cards” e “Game of Thrones””, contou a atriz que explicou a diferença. “É tudo mais limpo. Nós latinos temos uma interpretação que comenta os sentimentos com olhares e palavras. Mas, nesta interpretação contemporânea, o mais importante é a ideia de limpeza e mistério”, explicou.
No entanto, a novidade não está só neste quesito no atual trabalho de Fernanda Nobre. Como contou a atriz, “Deus Salve o Rei” também está sendo especial por causa do clima nos bastidores. Com um elenco pequeno – são cerca de 30 atores – e todos confiantes no projeto, a harmonia e o espírito de união passam a ser os combustíveis da história. E isso ficou ainda mais latente depois de um episódio trágico. Entre a rotina de gravação, um galpão que guardava parte do cenário da trama pegou fogo e destruiu parte da estrutura da novela. “Foi muito traumático. Nos bastidores, estamos todos muito apaixonados pelo projeto e pela concepção estética criada pelo autor. Na novela, não temos cidade cenográfica e, sim, um galpão enorme com 2.000 m² que é inacreditável de lindo. Parecia que estávamos em um castelo de verdade”, contou Fernanda que lembrou quando soube do incêndio. “Eu estava em outra frente de gravação neste dia e, já no meu carro, eu comecei a receber mensagens no grupo do WhatsApp dos atores. Nesse momento, percebemos o quanto estamos apaixonados pelo trabalho coletivamente. O tempo todo os atores só mandavam áudios chorando pelo projeto e com medo de parar a novela”, disse emocionada.
Porém, nem isso tirou o gás de “Deus Salve o Rei”. Pelo contrário. Ainda mais unido, o elenco se reergueu com o objetivo de fazer deste um trabalho singular na teledramaturgia brasileira. Sem cancelar gravações ou adiar a estreia da novela, o episódio foi contornado com o adiantamento das cenas externas e a construção de um estúdio, que não existiria no projeto inicial. “Já que temos que olhar pelo lado bom, eu acho que o incêndio foi positivo para a gente ver o quanto cada um amava o projeto de maneira coletiva”, apontou.
Por tudo isso e, principalmente pelo elenco poderoso da trama, “Deus Salve o Rei” é assunto antes mesmo da estreia. Seja através das redes sociais, das fotos dos figurinos ou do clima nos bastidores, o público já está se ambientando à história medieval que ainda tem Bruna Marquezine, Tatá Werneck e outros nomes de peso no time. “É ótimo que isso esteja acontecendo porque eu tenho certeza que vamos honrar a todas expectativas. Esse clima de curiosidade estimula a gente porque qualquer artista quer ser reconhecido e notado pelo que faz”, afirmou Fernanda.
Ah, e para a atriz, “Deus Salve o Rei” ainda marca seu retorno em grande estilo para a Globo. Na carreira, Fernanda Nobre começou na emissora carioca e, depois de alguns anos, foi contratada pela Record. Na nova empresa, a atriz ficou por oito anos e, posteriormente, fez alguns trabalhos em canais por assinatura. A volta de Fernanda à Globo já vinha sendo esquentada desde a participação da ruiva em “A Lei do Amor”, este ano, no último capítulo. Para ela, todas essas experiências e o passar dos anos na telinha ajudaram em sua formação como atriz e a se tornar a mulher que é hoje. “Eu hoje sou uma atriz muito mais segura e madura e isso está totalmente ligado às escolhas que eu fiz e aos trabalhos que eu aceitei. Ou seja, se agora eu sou esta profissional, é porque eu passei por toda essa trajetória. E, para falar a verdade, foi muito bom esse meu período fora da Globo”, disse Fernanda que destacou sua passagem pela Record. “Eu fiz muitos trabalhos de bastante repercussão, inclusive na Record, em produções que até atrapalharam a audiência da Globo”, acrescentou.
Mas engana-se quem pensa que é só na televisão que Fernanda Nobre compartilha seu talento. Na verdade, longe disso. Com passagens pelo cinema e teatro, a atriz, inclusive, ganhou uma importante indicação por sua atuação na peça “O Corpo da Mulher Como Campo de Batalha”. O espetáculo, que ficou em cartaz no ano passado e em 2017, traz um assunto super contemporâneo e que também faz parte da rotina de Fernanda. “Eu acho que o que nós estamos vivendo de mais bonito hoje é o despertar do feminismo. Nós mulheres estamos dando as mãos e indo para a frente de batalha brigar pelos nossos direitos e para sermos ouvidas”, disse a atriz que acredita estarmos vivendo um momento único. “Diferente do que aconteceu nos anos 1970, eu acredito que agora a gente tenha um novo pensamento com um alcance muito maior, principalmente com as redes sociais. Nós estamos tendo ganhos absurdos para todos”, apontou.
Um deles, talvez o mais importante, é o conhecimento e a informação sobre as premissas do movimento. Com essa onda feminista, questões que já haviam sido internalizadas em nossa sociedade passaram a ser questionadas e, inclusive, modificadas. De acordo com Fernanda, este novo comportamento lhe ensinou muito. “Eu tinha uma reprodução de um olhar machista porque eu acredito que nenhuma mulher pense alguns absurdos que temos em nossa sociedade”, disse a atriz que destacou um dos picos desta onda contemporânea. “Quando começou aquele movimento do “Meu Primeiro Assédio”, eu chorava lendo as postagens no Facebook. Aquilo foi muito forte. Eu não tive coragem de postar. Infelizmente. E eu, assim como todas as mulheres, temos histórias para contar. Nós somos violentadas o tempo inteiro, seja de forma física ou moral. Isso é muito grave”, disse.
Outro ponto revelado pelo atual movimento feminista e que despertou a atenção de Fernanda Nobre foi o abuso nas relações. “Desde novinha eu vivi relações abusivas eu não fazia ideia do que era isso”, contou a atriz que, embalada por tudo isso, quer usar a sua voz para levar os temas a outras mulheres. “Eu quero, cada vez mais, usar essa visibilidade que eu tenho para ajudar o movimento, acordar mulheres e não reafirmar esse lugar que nos colocam como objeto. Na minha carreira, eu não posso ter esse discurso de um lado e, do outro, fazer um ensaio sensual com a imagem desta mulher como desejo, por exemplo. Eu tenho que tomar cuidado e pensar sobre isso. É claro que eu posso ser uma mulher super empoderada de calcinha e sutiã, mas isto não pode estar relacionado a uma interpretação machista”, destacou Fernanda que acredita que, inclusive por isto, ainda estamos atrasados neste progresso feminista. “Eu confesso que jogo um pouco esse jogo porque publico fotos bonitas e faço dieta por causa da novela. Mas faz parte”, comentou.
E ela não para por aí. Durante a entrevista, o assunto do feminismo serviu como combustível para Fernanda Nobre analisar o atual momento que vivemos. A cada curva, a atriz destacava mais e mais pontos que revelam o quanto ainda estamos atrasados, mas, ao mesmo tempo, o quanto já evoluímos. “A questão da intriga entre mulheres também é um ganho enorme para esta nova fase do feminismo. A sororidade é algo que eu aprendi e super concordo. Nós, realmente, temos que ter um olhar mais generoso com a outra e não sair julgando e estereotipando. Ser mulher é muito difícil”, disse a atriz que, para completar, analisou a questão do aborto em nossa sociedade. “Isso ainda é inacreditável. Nós estamos muito atrasados. Aqui no Brasil a igreja ainda é que diz se eu posso ou não ter filhos. Oi? É o meu corpo, sou eu que tenho que decidir. E ainda tem o plus que eu posso ser presa porque fui estuprada. É muito inacreditável e eu chego a chorar de tanta raiva e desesperança”, lamentou.
Mas isto não a paralisa. Pelo contrário. Como já afirmou, Fernanda Nobre quer e usa a sua voz para alertar sobre temáticas sérias como essa. Seja através de escolhas artísticas, como na última peça que interpretou, ou em posicionamentos públicos, como nos posts engajados que compartilha no Facebook, Fernanda acredita que ignorar não seja a melhor saída. E então ela segue. Assim como no capítulo do feminismo, a atriz também não poupou palavras para analisar a atual situação da arte no Brasil. E ela foi bem direta quando perguntamos como é ser artista em 2017. “É ser um marginal. E eu falo isso com dor. Está existindo uma manipulação muito forte, séria e perigosa com o povo e ninguém está percebendo. Tem um grupo poderoso com interesses econômicos para que isso aconteça que está nos colocando em um lugar que é completamente contrário a tudo o que é arte. Eu acredito que o meu trabalho tenha a ver com liberdade e possibilidades novas de ver o mundo. A partir do momento que me colocam como uma criminosa por isso, acaba a minha liberdade de expressão. É muito grave analisar tudo isso”, afirmou a atriz que, por outro lado, destacou o crescimento no número de artistas liderando movimentos pela mudança no mundo. “A gente tem uma sensibilidade maior para expressar e potencializar esses discursos”, defendeu.
E ela tem autoridade para falar disso. Assim como outros nomes que acompanhamos diariamente, Fernanda Nobre é um exemplo de resistência neste cenário. Mesmo com todas as adversidades, a atriz não desistiu e ficou por um ano com uma peça questionadora em cartaz pelo Brasil. Em “O Corpo da Mulher Como Campo de Batalha”, Fernanda encheu salas com um texto que não era comercial como os sucessos de humor e musical. Aliás, a atriz teve outro estímulo. “Essa peça teve uma coincidência muito trágica porque ela estreou no dia que saiu a notícia de uma menina que fora estuprada por 33 homens. Isso fez com que o espetáculo, que também fala de estupro coletivo, tomasse uma proporção muito maior. Eu lembro que no dia da estreia, estavam todos mobilizados”, contou Fernanda que, de frente a esta atmosfera, passou a convidar mulheres ligadas ao movimento feminista para debates ao fim da peça.
Mas, passado tudo isso, Fernanda se impressiona com a força que teve para seguir com o espetáculo. A última experiência, que, de certa fora positiva porque lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Shell como Melhor Atriz, foi mais uma prova de amor ao teatro. E isso está longe de ter a questão financeira como complemento. “Eu nunca fiz nenhuma peça pela Lei Rouanet e nem nada que me desse dinheiro. Todos os espetáculos que eu já fiz na minha carreira fui eu que investi, eu paguei para trabalhar. As pessoas fazem isso por amor e não ganham quase nada”, disse a atriz que, em sua última experiência, contou com – mais um – fator complicador: a crise cultural do Rio de Janeiro. “É bizarro o prefeito que a gente tem. É inacreditável o carioca ter escolhido o Crivella que é um cara que está acabando com a nossa cidade. A estratégia dele tem sido, justamente, acabar com a arte porque é o ponto de partida para novas reflexões e pensamentos e, assim, domar o povo. Com isso, fazer teatro no Rio de Janeiro se tornou impossível porque não existe mais edital público”, lamentou.
Mesmo assim, Fernanda acredita que tempos de bonança estejam a caminho. “Não sei se estou sendo um pouco romântica, mas acredito que está vindo uma revolução cultural, assim como ocorreu na música com o Tropicalismo. Eu acredito em uma renovação. Afinal, nós artistas precisamos falar e nos expressar e, em momentos ditatoriais e políticos, isso se torna uma necessidade”, destacou a atriz que, depois de analisar tudo isso, acredita que tenha tido um 2017 proveitoso. “É muito doido ver que em um ano tão difícil na política, economia e sociedade, eu consegui ter bons projetos. Na verdade, acho que essas conquistas estão ligadas ao fato de eu estar muito antenada a tudo o que estava acontecendo. Então, aconteceu que a dificuldade me deu força”, completou.
Ah, e para 2018 a expectativa é ainda melhor. Para ela, o ano novo já chegou desde a preparação para “Deus Salve o Rei”. A partir do dia nove de janeiro, quando estreia a novela na grade da Globo, será apenas a consagração de um trabalho que já valeu a pena, segundo a atriz. E isso não está relacionado à possibilidade de sucesso do projeto. “Não importa ibope e nem nada. Essa novela está sendo uma nova experiência profissional para mim e eu já sou uma atriz diferente por causa dela”, garantiu a atriz Fernanda Nobre. Que venha 2018! Que venha a Diana!
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