Caco Ciocler é um lorde. De fala mansa, olhar irresistível e elegância até no jeito de gesticular, ele consegue dizer algo questionador sendo educado e mantendo a serenidade no olhar e na voz. A calma de sua alma contrasta perfeitamente com o furacão de seu lado artístico. O ator é constantemente marcado pela força estrondosa de seus personagens que sempre apresentam uma reflexão para o público. No ar, como Edgar em Segundo Sol, Caco é a estrela do editorial do site HT desta semana. Fotografado na suíte do Rio Othon Palace, os cliques são assinadas por Alexandro Adds, o styling é de Milton Castanheira e a beleza by Everson Rocha. Vem conferir tudo!
Em trama de João Emanuel Carneiro, todo mundo sabe que a história não costuma seguir um único caminho. Existem várias curvas, obstáculos e nuances que definem a trajetória de um personagem. E Segundo Sol não foge a esta regra. Desde o início da novela, muita água já rolou para chegarmos até o momento atual da trajetória do personagem de Caco Ciocler. De relacionamentos conturbados e escondidos até o drama familiar, Edgar já teve muitas oportunidades de mostrar a que veio e o seu papel na dramaturgia. No entanto, a personalidade dele segue um tanto questionável e, mesmo assim, Caco faz questão de defender a sua posição inicial afirmando que Edgar não é um vilão. “Acho que ele é um despreparado, uma criança no corpo de um homem. Este pai, na tentativa de forjar um filho forte, acabou errando na dose. É um cara totalmente sem estrutura emocional. Estou construindo este cara por este caminho. Não acho que seja um vilão que toma as suas atitudes por pura maldade. Acredito que faz isso por insegurança e imaturidade. É claro que, em determinado momento, isso acaba refletindo no caráter dele”, afirmou.
Enquanto em Segundo Sol o seu personagem é muito criticado por Roberval, seu irmão, papel de Fabrício Boliveira, o clima se inverte no filme Simonal. O longa foi exibido semana passada no Festival de Cinema de Gramado, onde conquistou os Kikitos de Melhor Trilha Musical, Melhor Direção de Arte e Melhor Fotografia. Na trama, os dois atores repetem a parceria e a rivalidade que vivem na novela das 21h, embora seja uma história que se passa na década de 70. Embora o longa-metragem tenha sido rodado quase dois anos antes, foi um encontro muito bacana entre estes dois artistas globais. “Foi muito bom repetir a parceria que temos na novela. Acabou sendo uma coincidência engraçada. A gente se bica neste filme de forma semelhante e, ao mesmo tempo, de forma distinta do que fazemos em Segundo Sol. De qualquer forma, é uma relação bem maluca em ambos os trabalhos”, comentou.
Caco recebeu o convite para entrar no filme um pouco em cima da hora, o que apenas aumentou a expectativa de fazer um papel tão complicado, histórico e repleto de nuances. “Existe uma responsabilidade a mais por fazer este filme do Simonal, afinal, a história do cantor é muito complexa e divergente. Ele foi uma pessoa importante e foi vítima de uma das primeiras fake news desta grandeza no Brasil, porque acabou com a carreira dele”, explicou. Neste caso, Caco interpreta o grande vilão da história e responsável pelo fim da carreira deste músico. “Eu não queria fazer um vilão chapado, porque faço o torturador do Simonal. A minha grande dificuldade foi achar a interseção entre este cara sedutor que, de alguma maneira, o fez cair em uma emboscada bem armada”, analisou.
Ambos os projetos não são os primeiros e nem serão os últimos cujo personagem de Caco possui personalidade forte e tem alguma mensagem para passar ao público. Enquanto em Segundo Sol, por exemplo, Edgar levanta o questionamento sobre o racismo no nosso país, em Simonal o ator serve como instrumento de debate para a questão da difamação. De acordo com Caco, ele escolhe os papés que vai fazer de formas diferentes dependendo da demanda do meio no qual está lidando. “O teatro conseguiu ser o ambiente sagrado. Um lugar no qual faço realmente aquilo que quero. Levo inspirações pessoais e me junto com diretores que me interessam com linguagens específicas. Já na televisão, eu não tenho muito poder de escolha. Enquanto isso, no cinema, a demanda também é diferente. De qualquer forma, é sempre legal de fazer e gosto de aceitar papéis inovadores”, explicou. O ator contracenou com Ingrid Guimarães, recentemente, em uma comédia romântica, por exemplo, o que provou a versatilidade de seu eu artístico. “Gosto que as pessoas me vejam em lugares que não estão acostumadas ou papéis que eu leia e fique interessado em trazer aquele debate. Cada personagem é uma oportunidade de mexer, pesquisar ou trabalhar algo muito intenso”, explicou.
Apesar de não ter uma extensa lista de filmes e peças no currículo como diretor, Caco já recebeu reconhecimento pelo seu exímio trabalho neste segmento. No espetáculo Na Solidão dos Campos de Algodão, ele recebeu o Prêmio Quem na categoria Melhor Diretor de Teatro. Mesmo com este futuro promissor, ele anda um pouco afastado desta função por conta da agenda lotada. No entanto, Caco garantiu estar com algumas pautas em mente. “Estou sempre pensando e tenho algumas ideias. Tenho muita vontade de dirigir uma ficção e um documentário. Acabei de escrever um livro, Zeide, e queria muito dirigir um filme inspirado na obra. Também tenho algo encaminhado no teatro. São projetos”, comentou. Seu último trabalho como diretor foi no documentário Este Viver Ninguém Me Tira, em 2014.
A falta de tempo para projetos paralelos é completamente compreensível se olharmos a extensa lista de trabalhos realizados nos últimos tempos. Somente neste ano, Caco está no elenco de cinco filmes que entraram e vão entrar em cartaz. Esta numerosa quantidade de estreias é um tanto quanto recorrente em sua carreira cinematográfica. “Teve uma época de minha vida, quando descobri o cinema, que realmente eu era chamado para tudo. Era uma maluquice e eu acabava aceitando devido a minha imaturidade. Quando comecei, o cinema brasileiro ainda era uma realidade distante e, a partir do momento que comecei a ser convidado, quis fazer parte daquilo para aprender tudo. Mas, agora, estou em outro momento da minha vida”, explicou.
Caco analisa ainda o cenário da distribuição de filmes no Brasil. De acordo com o ator, é necessário se investir muito na distribuição e produção brasileira. “Este assunto é muito delicado, porque envolve muitas questões. Inicialmente, é importante entender que existe uma diferença entre arte e produto cultural. O mercado de blockbusters, infelizmente, tomou conta. Sendo assim o próprio meio tem uma exigência monetária que prejudica muito o cinema, na minha opinião. Os filmes ficam pouco tempo em cartaz e o que mede esta permanência é a quantidade de público. Além disso, a rotatividade privilegia os donos de salas e faz entrar mais dinheiro. Existe toda uma lógica perversa que tomou conta. Para completar, o ingresso está muito caro e não é todo mundo que tem condição de pagar todo mês”, salientou. Em contraponto a isto, está uma grave mudança de hábitos da nova geração que possui uma relação extremamente adversa às formas de visualização do audiovisual convencional. “Tenho um filho de 21 anos e percebo que ele gosta de pausar e assistir quando quiser. Além disso, é possível levar o cinema para dentro de casa com imagens excelentes, o que faz com que as pessoas prefiram ver em casa. Não é por acaso que as salas estão cada vez mais equipadas com instrumentos 4D”, comentou.
Além destas mudanças óbvias de comportamento e necessidade de inovação, a cultura brasileira também está sofrendo com mais um empecilho mercadológico e estrutural: a baixa escolaridade. Isto leva à desvalorização do público frente a estas formas artísticas de comunicação. “O último ponto e, talvez, o mais grave de todos é a falta de educação e esta ideia de achar que entretenimento é cultura. São duas coisas diferentes. As pessoas querem muito se distrair de suas vidas e pouco mergulhar em suas realidade, que é o papel da arte. Sem cultura, sem educação e sem dinheiro no bolso leva a população não querer se estressar e pensar. O ser humano está ficando cada vez mais superficial. A arte está sendo muito castigada, porque a humanidade está caminhando para outro lugar e, paradoxalmente, somente ela pode nos salvar. Espero que daqui a pouco o povo volte a sentir falta desta união e da reflexão”, analisou.
Esta ausência de instrução está muito bem refletida e diagnosticada nas próprias redes sociais, que são um grande pólo de fake news e discursos de ódio. A falta de reflexão oriunda da falta de apoio à cultura leva a população a ser influenciada por muitas opiniões externas. Exatamente por sua presença midiática, o ator toma muito cuidado como o que repercute nas suas redes de forma que o seu conteúdo seja o mais transparente possível e não incite polarização. “Não sou mais tão ingênuo. Penso cinco vezes antes de comprar uma briga, principalmente, politicamente. O que era para ser um ambiente de conhecimento do outro e abertura para o diferente, foi, infelizmente, um tiro no pé. As pessoas estão cada vez mais fechadas e violentamente resistentes ao diferente. Não querem saber o que a gente pensa, perguntam para qual time torcemos e em quem vamos votar para saber se vai ou não iniciar uma conversa. Não faço mais, porque é um desserviço”, afirmou.
Enquanto muita gente não tenta mudar este cenário degradante da sociedade brasileira, o ator garantiu que faz a sua parte, tanto socialmente quanto institucionalmente. “Colaboro mensalmente para uma instituição, tenho uma relação muito próxima com o Greenpeace. Já participei de um projeto na África que ajudava as crianças a mexer em câmera. Faço a minha parte como cidadão”, comentou. Dessa forma, Caco Ciocler contribui para o futuro da humanidade com reflexões extensas e atitudes dignas do grande ser humano que é.
Equipe:
Fotógrafo: Alexandro Adds
Styling: Milton Castanheira
Grooming: Everson Rocha
Assistência: Yago Maia
Agradecimentos:
Rio Othon Palace
Hoteis Othon
Montenegro & Raman
Paulinho Santos
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