Ela já foi Tieta do Agreste, Lucinha de Pecado Capital, Lígia Prado Fragonard de Água Viva e uma infinidade de outras personagens marcantes da história da teledramaturgia brasileira. Mas seu papel mais poderoso, é mesmo, o de Betty Faria. Com mais de 50 anos de carreira e dedicação às artes brasileiras, e mais na ativa do que nunca, com participação em Malhação e duas séries no ar, Se Eu Fechar Os Olhos Agora e os Experientes, Betty Faria é a grande musa do editorial do site HT desta semana. Fotografado no Rio Othon Palace, o shooting contou com cliques de Vinícius Mochizuki, styling de Milton Castanheira e make de Ewerton Pacheco.
Ela é uma mistura de talento com empoderamento, sendo uma das mulheres mais ativas e à frente do seu tempo da televisão brasileira e no cinema. Mesmo sendo tão reverenciada, não é a carreira que a define. “Foram tantas vidas que vivi, mas meu lado pessoal e familiar sempre esteve em primeiro plano. Todo o resto é trabalho. Quando termino de gravar, volto para casa e checo se todos estão bem e precisando de algo. Sou uma chefe de família. Amo minha profissão, mas desligo o lado profissional quando saio do estúdio. Sou uma mãe de família e sempre foi assim. Criei meus filhos sozinha, divorciada, por isso sempre precisei deixar a atriz de lado quando chegava em casa. Eu tinha que ver se tinham feito o dever do colégio”, relembrou ela que é mãe de Alexandra Marzo, de seu casamento com Claudio Marzo, e João de Faria Daniel, do seu relacionamento com Daniel Filho. Apesar de sempre ter se dedicado ao trabalho e à família, ela não titubeia ao enumerar sua lista de prazeres que faz o seu coração bater mais depressa. “Amo ir ao cinema, mergulhar no mar, escutar músicas e conversar com quem amo”, frisou.
Apesar de conseguir separar o lado pessoal do profissional, quem a vê atuando sabe muito bem que ela consegue se doar e se entregar de corpo e alma à personagem. Betty sempre foi aquele tipo de atriz que se rasga e vive intensamente cada momento em cena. E sua agenda está recheada de trabalhos. “Quero continuar atuando sempre”, garantiu. Recentemente, por exemplo, ela marcou presença na série Infratores, da TV Globo, que fala de motoristas que são campeões de infrações no trânsito. “Achei este projeto muito interessante, porque o brasileiro é muito desrespeitoso quando está dirigindo. Exatamente por isto resolvi abraçar esta iniciativa”, comentou a atriz. ela encarnou Marilu, uma mulher perua que é mal-educada, adora passar por cima dos outros e sempre tenta ter privilégios. “Nós conhecemos várias pessoas assim, não é?”, questionou.
Além de Infratores, ela também estará no ar na nova minissérie de Ricardo Linhares, Se Eu Fechar os Olhos Agora, que é baseada no livro de Edney Silvestre. Ambientada no início dos anos 60, a trama consiste em um suspense de um crime brutal para contar a história de pessoas que não são o que aparentam ser. Reflete a hipocrisia da sociedade. “Eu adorei trabalhar com Carlos Manga Jr., o Manguinha”, comentou Betty sobre o diretor da trama. A narrativa contém somente 10 capítulos e a artista só aparecerá nos dois últimos episódios e, a partir de então, vai causar grandes mudanças com a revelação de vários mistérios.
Com apenas um ano desde sua última aparição nas telenovelas, em A Força do Querer, a atriz mata as saudades de viver uma teledramaturgia assistindo as que estão passando atualmente. Consumir os programas que estão no ar, ao mesmo tempo, também são uma espécie de laboratório no qual ela presta atenção naquilo que é produzido, o que está fazendo sucesso ou não. “Tem muito programa bom na TV brasileira e um jornalismo bem feito. Acho a Globo um dos melhores canais do mundo. É uma maravilha. Acho tudo muito bom. Mesmo. É só a gente ir a outros países e sintonizar na TV local. Novela, então, nem se fala. Equipe, produção e atores de qualidade. Assisto sempre”, comentou. Para quem quer começar neste ambiente dos holofotes, inclusive, ela aconselha se preparar da mesma forma que ela ainda faz até hoje. “Tem que estudar, estudar e estudar. Se tiver sorte de fazer sucesso, muito cuidado com a arrogância e o desejo de se sentir diferente dos outro, porque vai levar uma rasteira”, sugeriu Betty.
Por ser muito reconhecida no ambiente das artes cênicas, Betty sempre teve uma vida muito exposta, afinal, são as dores e delícias de quem é tão talentosa e famosa. Mesmo estando sempre nos holofotes, a atriz discorda do movimento que existe atualmente contra a dita ‘ditadura da beleza. “Estão falando disto agora, mas não sei o que é. Realmente sempre houve uma tendência em implicar com feiura e gordura. Me lembro que quando tinha 6 anos, em um colégio em Copacabana, eu sofri bullying. Me chamaram de ovo de peru, porque eu vivia na praia e tinha a cara cheia de sarda. Todo mundo sempre se preocupou com o conceito de beleza”, comentou.
Tendo uma carreira cinematográfica extensa e se consagrando um ícone da televisão brasileira, Betty Faria sempre se dedicou à valorização da cultura brasileira. Com os recentes acontecimentos que envolvem a arte e a história, como a queima do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a atriz lamentou o período atual. “O que vivemos atualmente nas artes é a mesma situação na qual o país se encontra. Não dá para separar cultura de violência, corrupção, repressão e polarização, que é o pior. Se temos uma opinião diferente, recebemos críticas e até xingamento dos outros. É um ódio… É a pobreza, em todos os sentidos”, analisou. De acordo com ela, o cenário político brasileiro está totalmente relacionado a esta falta de educação das pessoas e desvalorização da nossa cultura.
“Não entendo como os políticos discursam que vão fazer projetos bacanas antes de resolver a guerra. Quero saber como acaba a guerra. Como acabar com os tiroteios? Quantas crianças já morreram este ano de bala perdida na escola? Qual o político que se propõe a acabar com a guerra para que a criança volte a brincar na rua? Como acaba com isto?”, questionou. Avó de dois meninos e duas meninas, ela lamentou a preocupação que é criar um adolescente a partir destas circunstâncias tenebrosas. “É um terror constante. A cidade está em guerra, então a gente vive com medo”, lamentou. Sendo um exemplo de mulher culta, Betty Faria garantiu que grande parte destes acontecimentos tem a ver com a ignorância do povo. “Os colégios não exigem no ensino do aluno, mesmo os caros. E os professores são agredidos em sala de aula. A cultura é uma questão de educação.”, contextualizou.
Esta falta de limites que ultrapassa a educação não é uma característica específica de uma faixa etária, na verdade é de todo mundo. “Quando sou xingada nas redes sociais, as palavras vêm de homens evangélicos e mulheres moralistas. Não se tem respeito. Exatamente por isto que fica neste discurso ou é Jair Bolsonaro ou Luiz Inácio Lula da Silva, ou é direita ou esquerda. O Brasil está uma disputa de futebol”, lamentou.
Isto pode ser visto, inclusive, com as críticas que recebeu na internet ao defender a sua posição favorável à legalização do aborto. “Existe muita ignorância ao ponto de acharem que a minha presença no Criança Esperança era hipocrisia. É uma cegueira da burrice. Participar deste projeto da Globo foi ajudar pessoas que estão vivas, o que é completamente diferente de alguém que foi estuprada ou não tem condições de criar um ser humano e abortar um feto. É outra coisa. A estupidez é inacreditável”, salientou.
Dona de um lugar de fala privilegiado, Betty Faria sempre tenta levar uma reflexão interessante para aqueles que a rodeiam. Mas, como uma mulher politizada que sempre foi, ela se mostra completamente desgostosa do momento de desesperança que vivemos atualmente. “Sinto muita tristeza em ver que o Brasil ainda possui tantas pessoas pobres, ignorantes e, por isto, votam mal. O Rio de Janeiro está abandonado exatamente por este motivo. Votaram errado para governador e prefeito que, atualmente, estão escondidos e não se manifestam”, criticou. Apesar de ser afetada por tudo que acontece no cotidiano, não há nenhum descaso político que a faça deixar de lado a sua voz de mulher dona de si.
Equipe:
Fotografo: Vinicius Mochizuki
Assistente de foto: Rodrigo Rodrigues
Beleza: Ewerton Pacheco
Styling: Milton Castanheira
Agradecimentos:
Rio Othon Palace
Hoteis Othon
Paulinho Santos
Montenegro Talent
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