*Por Letícia Sabbatini
Em um clima 100% sustentável, o ator Bruno Gissoni posou para o novo editorial do site HT vestindo marcas que se preocupam em não agredir o meio ambiente, seja por técnicas de lavagem com menos água, seja com a utilização de materiais 100% naturais. No set que montamos para ele, no Rio Othon Palace, houve também a preocupação em garantir um ambiente sem desperdícios e sem a produção de resíduos. Registrando esse momento com um olhar cauteloso, Guilherme Lima captou bem a essência do ator, que foi produzido pelo fashion stylist Rafael Ourives, mas optou por não utilizar nenhuma maquiagem, preservando sua naturalidade. No papo, falamos sobre o documentário dirigido por ele com indígenas do Maranhão a convite de Sonia Guajajara, o casamento com a atriz Yanna Lavigne, a criação de sua filha, Madalena, o atual contexto político, sustentabilidade, machismo e o seu futuro pessoal e profissional.
Olhando para trás e analisando toda a sua carreira como ator, há quem duvide do passado mais esportivo de Bruno que, até os 22 anos, desejava um futuro nos campos e estádios mundo afora. “A minha trajetória é bem louca, porque eu era jogador de futebol, mas sempre tive uma curiosidade que envolvia a atuação, sabe? Só que eu nunca alimentei muito isso por conta do meu sonho inicial”. Porém, vendo o tempo passar com a consciência de que o futuro como jogador seria incerto demais, o jovem resolveu desistir. “Eu pesei e vi que talvez eu fosse dedicar 10 anos da minha vida a algo que não poderia me sustentar. Só que aquilo me trouxe um buraco muito grande, porque abrir mão de um sonho de infância é barra pesada”, confessou. Para além de um momento difícil, a desistência de Bruno acabou sendo um divisor de águas que o levou a ser o ator que admiramos hoje. “Eu fui convidado para integrar o elenco da peça ‘Capitães de Areia’ e eu só entrei porque precisavam de atores que soubessem jogar capoeira. Eu nunca tinha atuado na vida, mas estava naquele momento ruim depois de desistir de um sonho de anos e resolvi arriscar para ver no que dava”, explicou ele, que enxergou no teatro uma forma de suprir a ausência anterior e está até hoje preenchido como nunca.
Assim, depois da primeira experiência teatral, sua carreira como ator começou a ser construída naturalmente. Ainda nesse início, Bruno conheceu profissionais, como o diretor Roberto Bomtempo, que deram a ele grande parte da base artística que possui hoje. “Depois de cursar a oficina de atores, na Record, onde eu conheci o Roberto e aprendi muito do que eu sei, fiz um teste para Malhação. Fui apenas querendo ganhar experiência, sem nenhuma expectativa de passar e focado em fazer a próxima edição da oficina de atores, visando crescer e aprender mais. Quando percebi, eu tinha ganhado o papel na Globo e aprendi na marra. Foi uma grande escola, sabe? Tudo acontece na hora certa mesmo”, detalhou. Apesar das dificuldades iniciais que o caminho de qualquer ator apresenta, Bruno seguiu firme sem pensar em novas desistências: “A atuação me supriu muito emocionalmente e eu tinha um universo artístico gigante pela frente para explorar. Então, nunca pensei em desistir. Eu era uma pessoa completamente diferente, mas o teatro mostrou um outro caminho como cidadão. Nessa questão emocional, por exemplo, eu tive uma evolução muito grande dentro dessa profissão, que sempre me motivou a querer mais”.
Hoje, depois de se dedicar a personagens de novelas como Avenida Brasil, Babilônia e Orgulho e Paixão, ele se considera um grande amante de sua profissão sem preferências por qualquer papel que tenha desempenhado. “Eu penso que cada personagem aparece em um momento diferente da minha vida e, por isso, todos representam prazeres distintos”, comentou. Apesar de negar o favoritismo, quando o assunto é o assédio do público, ele confirmou a diferença de intensidade e interpelação a depender do projeto: “Em Avenida Brasil, por exemplo, o assédio era muito maior, porque foi um sucesso gigante. Foi o momento mais intenso com relação a abordagem do público, mas eu levo numa boa. Consigo fazer tudo que todo mundo faz. É vida normal”. Levando o enorme sucesso com tanta naturalidade, Bruno também não se espanta com a constante repercussão que a vida dos seus irmãos Rodrigo e Felipe Simas têm na mídia. Sobre a relação com os também atores e suas respectivas carreiras, ele revelou: “Nós torcemos muito um pelo outro e não rola competição nenhuma. Até porque são três atores diferentes, com perfis distintos e que querem objetivos diferentes. A gente se ama e se apoia muito. É só positividade”.
Ainda que demonstre muito costume com a vida de figura pública, Bruno admitiu que fica incomodado com algumas situações: “A exposição em excesso é bem ruim. Ter que lidar com tantas pessoas opinando e querendo entrar mais e mais na sua vida me irrita um pouco, mas tudo bem, cada profissão tem o seu lado que vale, né?”. Um dos assuntos que ainda costumam entrar na pauta dos haters de plantão é o casamento com a atriz Yanna Lavigne, mas de acordo com Bruno, ambos já aprendem a lidar com isso: “É algo já me afetou muito, mas, agora, eu até gosto porque eu bloqueio logo. Nós temos certeza do que queremos. Então, os comentários de pessoas que estão muito longe de nós e da nossa realidade não nos afeta mais”. E prosseguiu dando mais detalhes sobre a relação com a atriz: “É maravilhoso amar alguém tão livre quanto eu e ver que, dentro das nossas liberdades individuais, ainda queremos um ao outro. Ela é uma mulher muito forte e é lindo observar ela voar e conquistar o mundo. É até assustador essa felicidade e essa pureza que ela tem por dentro, porque parece um ser à parte da sociedade. A gente vive em um mundo repleto de maldades e dividir a vida com alguém que tem tanta luz é uma benção contagiante”.
Como um lindo fruto dessa união, nasceu em maio de 2017 a primeira filha do casal: Madalena. A pequena, que possui um gênio forte segundo o pai, é um sucesso no Instagram e constantemente arranca risadas e suspiros entre os seguidores do casal. Crescendo em uma família repleta de artistas, Bruno afirmou sem pestanejar que a criança terá a liberdade para escolher o futuro profissional que mais lhe agradar: “Temos que dar todas as ferramentas para que ela se desenvolva com um bom coração, pensamento positivo, princípios sólidos e interessantes, e a partir disso, ela fará escolhas na vida. Eu não tenho a menor ideia de como será isso, porque não posso decidir pela minha filha, mas acho que ela será uma pessoa muito forte, porque já demonstra através da personalidade”. E continuou comentando a exposição de Madalena nas redes sociais: “Nós criamos um Instagram fechado para ela com o objetivo de ser engraçadinho só para familiares, mas a Yanna clicou em um botão errado e a conta acabou abrindo. Do dia para a noite, 100 mil pessoas seguiram a pequena e tomou uma proporção enorme. Ela já tem uma imagem mesmo sem ter escolhido isso, né? Então, o que podemos fazer é ensinar tudo o que pudermos para que saiba utilizar as ferramentas da forma correta no futuro”.
Para ele, porém, a boa e saudável criação da filha esbarra em um obstáculo maior: o atual momento de retrocesso político e social. “Estou tentando não gastar energia à toa, mas depois das eleições, em que elegemos um presidente que representa tantas coisas negativas, homofobia, racismo e machismo, é difícil. Quando eu olho para a sociedade e vejo que uma maioria pensa que esse homem a representa, percebo que é preciso repensar tudo. Isso é muito assustador, porque a gente pensa sempre na evolução e olhamos para a frente querendo o melhor para o país e para os próximos cidadãos”, admitiu ele, que ainda não sabe o que fará no futuro. “Eu não penso em deixar o país, porque essa é a nossa base, nossa raiz e eu quero que a minha filha cresça no mesmo ambiente que eu, culturalmente falando. Só que se chegar em um nível alarmante de segurança para ela enquanto mulher, vamos procurar um lugar que ofereça paz, amor e educação acima de tudo”.
Além disso, considerando também o contexto de desvalorização cultural, não só a criação de sua filha está em alerta, mas também a sua profissão. “A arte é uma forma de expressão cultural, emocional e reflete o seu tempo. Acho que passamos por uma época em que não entendíamos bem o que estava acontecendo, mas, agora, já fica muito claro. As músicas mais lindas foram feitas em tempos de guerra simbolicamente falando. É a arte chamando a atenção para algo maior”, pontuou. Para Bruno, é necessário que a população resista, independente do ofício de cada um: “Talvez seja o nosso destino, porque já vivemos esse contexto no auge da ditadura e os nossos artistas conseguiram mostrar um caminho e vencer a repressão. Acho que estamos começando a viver a mesma realidade, obviamente em proporções um pouco diferentes. É responsabilidade de cada um resistir e mostrar um caminho alternativo. Não apenas nós, artistas, mas os jornalistas também, que voltaram agora a viver essa repressão e censura”.
Nessa movimentação, Bruno é um dos que já começou a fazer a sua parte na construção de um presente e um futuro melhor. Depois das eleições presidenciais de 2018, o ator sentiu uma inquietação que o fez trilhar novos caminhos em busca desse objetivo. “Eu sempre tive uma militância adormecida com relação ao meio ambiente e, no momento que o Bolsonaro declarou guerra às nossas terras, foi um chamado para mim. A única política que me representava naquele contexto era a Sônia Guajajara.Fiz uma pesquisa e entrei em contato. Então, ela me convidou para visitar algumas aldeias e disse algo muito importante: ‘Eu entendo a sua causa, entendo que você queira lutar por isso também, mas precisa conhecer antes de falar’”, revelou. Dessa forma, seguindo o conselho da companheira, ele seguiu em uma viagem para o Maranhão, a fim de entender essa outra realidade. “Muitos acham que os índios são menos evoluídos do que nós, mas pelo contrário, eles já têm todas as respostas. O equilíbrio é o segredo da vida e eles sabem disso. Na minha opinião, eles são a salvação da humanidade”.
Unindo o útil ao agradável, o ator utilizou a viagem como uma forma de divulgar posteriormente tudo aquilo que os seus olhos viram no Maranhão. “Como eu já ia para um lugar incrível e com uma vivência maravilhosa, reuni algumas pessoas e decidimos filmar o que conhecemos. Não tinha nenhum roteiro, mas foi sensacional, porque conseguimos registrar acontecimentos surreais. Foi, então, que surgiu um documentário despretensioso que resultou em imagens e histórias lindas”, explicou ele, que pretende inscrever o material em alguns circuitos culturais.
Para além da divulgação, que se faz imprescindível nesse momento, o contato com o povo indígena despertou em Bruno o antigo menino que frequentava a escola fascinado pelas aulas de ciências. “O meu pai sempre me levou muito para viajar por lugares com muito natureza, sabe? Desde as primeiras aulas de ciências na escola, eu ouvia a professora falar sobre os males que fazemos ao mundo e aquilo me machucava muito. Também sempre tive um interesse redobrado quando o assunto era sustentabilidade, reciclagem etc. Virou algo meu mesmo. O mundo só vai mudar quando tivermos consciência social e ambiental, entendendo que cada um precisa fazer a sua parte”.
Com essa enorme conexão com tudo que é natural, Bruno contou que está, junto à esposa e filha, planejando uma viagem à moda antiga por todo o Brasil: “Assim que a Yanna acabar de gravar O Sétimo Guardião, eu pretendo entrar na Kombi que estamos reformando e pegar a estrada. Queremos até fazer um documentário. Registrar as nossas experiências. Precisamos mostrar esse país lindo para a nossa filha antes que o destruam”. O ator, porém, ainda está em contrato com a Rede Globo e precisará adiar a viagem, caso seja escalado para uma novela. Nos cinemas, por outro lado, Bruno já está garantido como roteirista e diretor do curta “Entre”, que aborda uma história de amor e liberdade, e no longa “Reação em cadeia”, no qual dá vida a um honesto profissional envolvido em uma trama de corrupção. Alguém tem dúvida de que Bruno vai longe?
Equipe:
Foto: Guilherme Lima
Styling: Rafael Ourives
Produção de Moda: Renata Lamin
Agradecimentos:
Rio Othon Palace
Hoteis Othon
Luciana Leall
José Raphael
Estar Comunicação
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